Trump pretende cortar os últimos US$ 100 mi em fundos federais destinados a Harvard

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O governo Donald Trump pretende cancelar os contratos federais remanescentes com a Universidade de Harvard - avaliados em aproximadamente US$ 100 milhões (R$ 565 milhões), segundo uma carta enviada às agências federais nesta terça-feira, 27. A carta também instrui as agências a "encontrarem fornecedores alternativos" para serviços futuros, em mais um episódio do conflito do republicano com a universidade mais antiga e rica do país.

Os cortes adicionais planejados, descritos em um rascunho da carta obtido pelo The New York Times, representavam o que um oficial da administração chamou de um corte completo da relação de negócios de longa data do governo com Harvard.

A carta é o esforço mais recente da administração Trump para forçar Harvard - a universidade de elite mais culturalmente dominante do país - a cair de joelhos, minando sua saúde financeira e influência global. Desde o mês passado, a administração congelou cerca de US$ 3,2 bilhões (R$ 18 bilhões) em concessões e contratos com Harvard. E tentou parar a capacidade da universidade de matricular estudantes internacionais.

A mais recente carta, datada de 27 de maio, da Administração de Serviços Gerais dos EUA, foi entregue nesta terça de manhã às agências federais, segundo um oficial da administração, que falou sob condição de anonimato porque não estava autorizado a discutir comunicações internas.

A carta instrui as agências a responderem até 6 de junho com uma lista de cancelamentos de contratos. Quaisquer contratos de serviços considerados críticos não seriam imediatamente cancelados, mas seriam transferidos para outros fornecedores, segundo a carta, assinada por Josh Gruenbaum, comissário do serviço de aquisição federal da G.S.A., responsável por adquirir bens e serviços para o governo.

O governo identificou cerca de 30 contratos em nove agências que serão revisados ??para cancelamento, segundo o oficial do governo.

Exemplos de contratos que seriam afetados, segundo uma base de dados federal, incluem um contrato de US$ 49.858 (R$ 282 mil) do Instituto Nacional de Saúde para investigar os efeitos do consumo de café e um contrato de US$ 25.800 (R$ 146 mil) do Departamento de Segurança Interna para treinamento de executivos seniores. Alguns dos contratos de Harvard sob revisão podem já ter sido sujeitos a ordens de interrupção.

"Adiante, também encorajamos sua agência a buscar fornecedores alternativos para serviços futuros onde Harvard havia sido previamente considerada", disse a carta.

A administração caracterizou suas ações contra Harvard como uma luta pelos direitos civis. Acusou a universidade de viés liberal, de continuar a usar classificações raciais em suas políticas de admissão apesar de uma proibição da Suprema Corte e de permitir comportamento antissemita no campus.

A universidade, localizada em Massachusetts, caracterizou a luta como uma batalha sobre seus direitos sob a Primeira Emenda e acusa a administração Trump de tentar controlar seu pessoal, currículo e matrículas.

Diante das demandas do governo que incluíram uma proibição de estudantes "hostis aos valores americanos", uma auditoria da ideologia política de estudantes e professores para garantir "diversidade de pontos de vista", e atualizações trimestrais de status para a administração, Harvard reagiu vigorosamente no tribunal federal.

Em um processo, aberto no mês passado, Harvard busca a restauração de mais de US$ 3 bilhões em fundos federais. Em outro, aberto na semana passada, pediu a um tribunal federal que restabeleça seu direito de matricular estudantes internacionais.

Na semana passada, a juíza Allison Burroughs reinstalou temporariamente o direito de Harvard de matricular estudantes internacionais, e uma audiência na quinta-feira, 29, determinará se essa ordem deve ser prorrogada.

Durante sua campanha para um segundo mandato, Trump atacou universidades de elite como controladas por "maníacos e lunáticos marxistas", e prometeu aumentar os impostos sobre os retornos de investimento dos fundos patrimoniais das universidades, um plano aprovado este mês pela Câmara. A disposição fiscal, que ainda precisa da aprovação do Senado, custaria a Harvard, que possui um fundo patrimonial de US$ 53 bilhões (R$ 300 bilhões), uma estimativa de US$ 850 milhões (R$ 4,8 bihões) por ano.

Harvard suportou até agora grande parte das investidas da Casa Branca à educação superior, e administradores e professores no campus observaram com crescente temor enquanto o governo federal proferia edital após edital, cortando a fundação financeira da universidade.

A universidade tem cerca de 6.800 estudantes internacionais, representando 27% de sua matrícula total. O presidente de Harvard, Alan M. Garber, caracterizou o cancelamento de sua capacidade de matricular estudantes internacionais como um golpe potencialmente devastador.

"Condenamos essa ação ilegal e injustificada", escreveu Garber em uma declaração na semana passada, acrescentando que ela "coloca em risco o futuro de milhares de estudantes e acadêmicos em Harvard e serve como um aviso para inúmeros outros em faculdades e universidades por todo o país que vieram para a América para prosseguir sua educação e realizar seus sonhos."

A carta do governo Trump citou o que chamou de um padrão no qual Harvard mostrou uma "falta de compromisso com a não discriminação e nossos valores e prioridades nacionais.

Como evidência, a carta disse que o The Harvard Law Review, uma publicação independente gerida por estudantes, havia recentemente concedido uma bolsa de estudos a um estudante de direito que havia sido acusado de agredir um estudante judeu durante um protesto pró-palestino no campus.

O estudante escapou da acusação criminal por agressão leve nesse caso e concordou em realizar serviço comunitário, mas não admitiu irregularidades.

A carta também alegou que Harvard não cumpriu com a decisão da Suprema Corte de 2023 que proibiu o uso da raça como fator decisivo em admissões.

Mas a porcentagem de estudantes negros no primeiro ano caiu para 14% no outono de 2024 após essa decisão, de 18% um ano antes. No mesmo período, a matrícula de negros na turma do primeiro ano da Faculdade de Direito de Harvard caiu para 3,4%, o mais baixo desde os anos 1960.

A carta não forneceu evidência estatística para sua reivindicação sobre admissões, mas citou a adição pela universidade de um curso de matemática remediadora (curso introdutório com o objetivo de corrigir a falta de habilidades básicas de álgebra entre alguns alunos). Disse que o curso foi o resultado "de empregar fatores discriminatórios, em vez de mérito, nas decisões de admissão."

Trump voltou a criticar Harvard nas redes sociais no fim de semana, ameaçando cortar mais US$ 3 bilhões em bolsas federais e doá-las a escolas técnicas do país. Ele não explicou a quais bolsas se referia ou como elas poderiam ser realocadas.

O presidente também acusou Harvard de se recusar a divulgar os nomes de seus alunos estrangeiros. Em uma nova linha de ataque, ele argumentou que os países de origem dos alunos não pagam nada por sua educação e que alguns desses países "não são nada amigáveis aos Estados Unidos". Estudantes internacionais não são elegíveis para auxílio financeiro federal, mas Harvard oferece seu próprio auxílio a estudantes estrangeiros e nacionais.

"Ainda estamos esperando as Listas de Estudantes Estrangeiros de Harvard para que possamos determinar, após um gasto ridículo de BILHÕES DE DÓLARES, quantos lunáticos radicalizados, todos encrenqueiros, não devem ser autorizados a voltar para o nosso país", disse Trump nas redes sociais.

Não ficou claro o que Trump estava exigindo exatamente já que o governo federal já tem acesso a informações sobre vistos e outros registros de estudantes estrangeiros em Harvard e outras universidades.

O governo japonês anunciou nesta terça, 27, que está buscando maneiras de ajudar os estudantes estrangeiros de Harvard. A ministra da Educação, Toshiko Abe, disse a repórteres que planeja pedir às universidades japonesas que elaborem medidas para apoiar os estudantes internacionais.

A Universidade de Tóquio, a principal escola do Japão, está considerando aceitar temporariamente alguns alunos de Harvard afetados pelas sanções de Trump. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) reagiram nesta segunda, 4, em suas redes sociais, ao decreto de prisão domiciliar emitido contra seu pai. Os políticos afirmaram que o País não é mais uma democracia e desferiram ataques contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O magistrado expediu a ordem de prisão após o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) publicar discurso de seu pai em rede social neste domingo, 3.

Em inglês, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou em seu X (antigo Twitter): "Meu pai, Jair Bolsonaro, foi preso hoje por apoiar, de sua própria casa, o povo brasileiro que foi às ruas para protestar contra os abusos do ministro Alexandre de Moraes".

Eduardo considerou a prisão um ato de "abuso de poder para silenciar o líder da oposição brasileira" e afirmou que o País não é mais uma democracia.

Em nota publicada no X, Eduardo ainda diz que Alexandre de Moraes é "um psicopata descontrolado que jamais hesitaria em dobrar a aposta". O político diz que Moraes usa a prisão domiciliar como "cortina de fumaça" após as manifestações bolsonaristas de domingo, 3, e por ter sido alvo de sanções pela lei Magnistsky.

Autoexilado nos EUA, o parlamentar tem pedido por sanções contra Moraes e contra o País com o objetivo de obter anistia para os condenados pela tentativa de golpe de Estado, incluindo seu pai.

Eduardo escreveu, em outra publicação que o magistrado é um "juiz violador de direitos humanos que contamina toda a suprema corte".

"Um dia após a manifestação anti-Moraes e horas após a publicação do jornalista Michael Shellenberger de material sensível, que demonstra a perseguição de Moraes e sua equipe contra opositores de Lula e Moraes, o juiz da suprema corte brasileira decreta a prisão de Bolsonaro."

Outro filho do ex-presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), postou vídeo de entrevista que deu à CNN em seu X.

Na gravação, ele acusa Moraes de parcialidade e vingança. Para o senador, a prisão é um desejo pessoal do ministro e "uma clara demonstração de vingança as sanções que ele sofreu via Lei Magnistsky".

"Processo de fachada, um jogo de cartas marcadas, era tudo o que Alexandre de Moraes queria: se vingar do presidente Bolsonaro", afirma sobre o julgamento de seu pai.

Além disso, Flávio diz que o País está em um regime autoritário. "Recebo essa notícia (sobre a prisão) com muita indignação; é mais um capítulo triste da história do Brasil, estamos oficialmente em uma ditadura", diz.

O parlamentar ainda desferiu críticas ao Senado e criticou o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP). "O Senado não está fazendo sua parte", disse, em referência a um movimento pelo impeachment de Moraes.

Os governadores de direita Romeu Zema (Novo-MG), Ronaldo Caiado (União-GO), Eduardo Leite (PSD-RS), Ratinho Júnior (PSD-PR) e Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), todos aliados de Jair Bolsonaro (PL) e possíveis herdeiros dos votos do ex-presidente na corrida eleitoral de 2026, manifestaram apoio ao ex-chefe do Executivo após sua prisão domiciliar ser decreta nesta segunda-feira, 4, pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Por meio de seu X (antigo Twitter), Zema escreveu que a prisão é "mais um capítulo sombrio na história de perseguição política do STF". Ele manifestou solidariedade ao ex-presidente e disse que "Alexandre de Moraes agora colocou Bolsonaro em prisão domiciliar por ter sua voz ouvida nas redes".

A prisão domiciliar de Bolsonaro foi decretada por descumprimento das medidas cautelares. As restrições impediam o ex-presidente de usar redes sociais, mesmo por meio de aparelhos e contas de terceiros.

Neste domingo, 3, Bolsonaro discursou para manifestantes por meio de um telefonema com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Posteriormente, o político publicou o discurso nas redes, o que foi considerada uma quebra das medidas.

Ronaldo Caiado criticou o fato de o ex-presidente ser preso devido à publicação. "Se um cidadão não pode se manifestar publicamente em sua defesa, é porque o veredito está dado", escreveu por meio de nota oficial.

O governador de Goiás lamentou o encarceramento e disse que "infelizmente, antes da conclusão de seu julgamento, o ex-presidente já está condenado". Ele ainda afirma que o processo contra Bolsonaro "começou errado, quando o STF definiu pelo julgamento do ex-presidente em uma Câmara e não pelo Pleno da Suprema Corte".

De forma similar, Eduardo Leite declarou: "não gosto da ideia de um ex-presidente não poder se manifestar, e gosto menos ainda de vê-lo ser preso por isso, antes ainda de ser julgado pelo órgão colegiado da Suprema Corte".

O político destacou que, desde a redemocratização, apenas um presidente não foi preso ou sofreu impeachment. Leite usou este fato como argumento para criticar o que chamou de "polarização" e o processo contra Bolsonaro: "Nosso País não merece seguir refém desse cabo de guerra jurídico-político que só atrasa a vida de todos há anos".

O governador ainda ressaltou que não discute "legalidade ou a razão jurídica" da prisão, mas pediu que a energia de autoridades não seja direcionada para "exterminar adversários".

Ratinho Júnior, ao se manifestar, também pediu pacificação. O paranaense escreveu: "briga não coloca mais comida na mesa do trabalhador. O Brasil precisa de união para seguir em paz. Ao ex-presidente Bolsonaro, a minha solidariedade".

O governador, sem citar o nome de Moraes ou o STF, fez criticas à Justiça e disse que "devemos buscar o equilíbro (sic), o fortalecimento das nossas instituições e, sobretudo, a harmonia dos Poderes, respeitando o que está previsto na Constituição". Ele ainda afirma que "não será com ativismo, seja de qualquer parte, que iremos construir um novo País".

Já Tarcísio de Freitas afirmou que "Bolsonaro foi julgado e condenado muito antes de tudo isso (o processo) começar" e questionou: 'Vale a pena acabar com a democracia?'.

O governador de São Paulo ainda afirmou que o aliado político é acusado de "uma tentativa de golpe que não aconteceu, um crime que não existiu e acusações que ninguém consegue provar".

O vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mantém em seu perfil no X (antigo Twitter) foto do seu pai discursando via telefone para manifestantes bolsonaristas que se reuniram na praia de Copacabana no domingo, 3. A postagem foi citada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na decisão que comunicou a prisão domiciliar do ex-presidente.

"Em 3 de agosto, Carlos Nantes Bolsonaro, filho do réu, também realizou postagem, na rede social X, com a foto de Jair Messias Bolsonaro com o pedido para seguirem o perfil do réu: 'sigam Jair Bolsonaro', tendo conhecimento das medidas cautelares", escreveu Moraes.

O ex-presidente está impedido de usar as redes sociais, até mesmo por intermédio de terceiros. Moraes entendeu que a divulgação de imagens e vídeos de Bolsonaro discursando para manifestantes no perfil de seus filhos foi um descumprimento da medida e pediu a prisão domiciliar.

"Não será admitida a utilização de subterfúgios para a manutenção da prática de atividades criminosas, com a instrumentalização de entrevistas ou discursos públicos como 'material pré-fabricado' para posterior postagens nas redes sociais de terceiros previamente coordenados", escreveu o ministro na decisão que proibiu o ex-presidente de usar as redes por intermédio de terceiros.

O irmão de Carlos, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), também fez publicação parecida e divulgou seu pai discursando. O político, no entanto, apagou a gravação.

Sobre o post deletado, Moraes usou a ação como argumento para embasar a prisão. "O flagrante desrespeito às medidas cautelares foi tão óbvio que, repita-se, o próprio filho do réu, o senador Flávio Nantes Bolsonaro, decidiu remover a postagem realizada em seu perfil, na rede social Instagram, com a finalidade de omitir a transgressão legal", afirmou.