Governo e justiça da Espanha investigam apagão; 'Não pode voltar a acontecer', diz Sánchez

Internacional
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O Governo e o Judiciário da Espanha anunciaram nesta terça-feira, 29, que irão investigar as causas do apagão massivo que afetou a Península Ibérica nesta segunda. Até o momento, as operadoras da rede elétsim rica de Espanha e Portugal descartam ataques cibernéticos, mas não apresentaram nenhuma hipótese.

Na terceira entrevista coletiva de imprensa nas últimas 24 horas, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez culpou os operadores de energia - formado por empresas privadas - e anunciou a criação de uma comissão liderada pelo Ministério da Transição Ecológica para apurar as causas do apagão. "Serão tomadas as medidas necessárias para que isso nunca mais aconteça", disse o espanhol.

"Os técnicos da rede elétrica continuam analisando o sistema. Esperamos receber os resultados preliminares nas próximas horas, senão dias", acrescentou. "Nenhuma hipótese será descartada até que tenhamos os resultados."

Em paralelo, a Audiência Nacional, jurisdição de Madri que trata de casos complexos, abriu uma investigação para apurar se houve "sabotagem informática", o que poderia constituir um "crime de terrorismo".

Horas antes, a operadora da rede elétrica na Espanha havia descartado a possibilidade de um ataque cibernético como causa do apagão, que começou pouco depois das 12h30 de segunda-feira (07h30 no horário de Brasília).

O governo de Portugal, a princípio, não descartou "nenhuma hipótese", mas disse que não havia indícios de ataque cibernético. "Ninguém pode dizer qual foi a origem, mas já há elementos suficientes para dizer que não há evidências de manipulação no ciberespaço", disse o primeiro-ministro, Luís Montenegro, na segunda-feira.

Sem precedentes

O apagão não tem precedentes na Europa. Na Espanha e em Portugal, voos foram cancelados, os sistemas de metrô pararam de funcionar, comunicações foram cortadas e caixas eletrônicos foram fechados. 6,4 milhões de pessoas ficaram sem energia.

O diretor de serviços de operação do sistema da operadora de energia elétrica da Espanha, Eduardo Pietro, afirmou que "dois eventos de desconexão" abruptos e consecutivos foram observados antes da energia cair. Nesta terça, ele afirmou que é necessário mais tempo de investigação para entender por que isso ocorreu.

A agência meteorológica da Espanha, AEMET, declarou que não detectou nenhum "fenômeno meteorológico ou atmosférico incomum", e nenhuma flutuação repentina de temperatura foi registrada em suas estações meteorológicas na segunda-feira.

A tese de um fenômeno atmosférico chegou a se espalhar ontem entre os europeus, em uma declaração que foi atribuída à operadora portuguesa REN. Nesta terça, no entanto, a empresa negou ter emitido o comunicado.

Uma outra hipótese que se espalhou é que a queda estaria atribuída à falta de energia nuclear - há dois meses, o governo espanhol fechou dois dos sete reatores nucleares em funcionamento no processo de transição energética e foi criticado pela extrema direita.

Pedro Sánchez, no entanto, descartou essa possibilidade nesta terça-feira. "Aqueles que estão vinculando o incidente à falta de energia nuclear estão mentindo ou demonstrando ignorância", disse o líder espanhol.

A União Europeia afirmou que vai "aprender as lições" do colapso. "Em estreita colaboração com os operadores da rede elétrica, Bruxelas analisará atentamente as razões, o grau de preparação e as lições a serem aprendidas", declarou a porta-voz da Comissão, Paula Pinho.

Retorno da energia

As redes elétricas de Espanha e Portugal estavam totalmente operacionais nesta terça-feira, disseram as autoridades.

Nas cidades espanholas, o retorno da energia foi acompanhado por gritos de alegria após um longo dia sem luz e, em muitos casos, sem internet ou celulares.

O retorno da eletricidade permitiu a retomada do tráfego ferroviário em várias rotas principais, incluindo as movimentadas rotas Madri-Barcelona e Madri-Sevilha, de acordo com a empresa ferroviária nacional Renfe.

Entretanto, os problemas continuaram em algumas linhas de trem, que voltaram a funcionar de maneira oscilante. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) voltou a atacar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que relata inquéritos contra o irmão do senador, deputado federal Eduardo Bolsonaro(PL-SP), e ação penal contra o pai, ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Em publicação no X (antigo Twitter), Flávio afirma não haver devido processo legal e imparcialidade nas ações conduzidas por Moraes, citando que o irmão responde por buscar sanções nos Estados Unidos contra o próprio ministro, segundo ele, "óbvia e objetiva causa de impeachment". A reação veio após Moraes se pronunciar pela primeira vez publicamente sobre a sanção amaericana imposta contra ele.

"NÃO HÁ transparência, há vazamentos seletivos para destruir reputações e promover linchamentos públicos. Processo viciado e integralmente maculado. Por muito menos, mas muuuuuuito menos, Lula foi descondenado… mas contra Bolsonaro vale tudo!", diz trecho da publicação.

As sanções pelas quais Eduardo se mudou para os Estados Unidos em busca de livrar o pai da iminente condenação se materializaram nesta quarta-feira, 30.

No mesmo dia, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, puniu Moraes com a Lei Magnitsky, aplicada contra ditadores e violadores de direitos humanos, e mais tarde oficializou as taxas prometidas contra produtos brasileiros.

Nesta sexta-feira, 1º, o ministro disse que "pseudo-patriotas" atuam por meio "coação contra o STF com a finalidade de obter um súbito, inexiste e inconstitucional arquivamento de ações penais propostas pelo procurador-geral da República", se referindo ao processo no qual Bolsonaro é réu por golpe de Estado.

Segundo Moraes, o arquivamento das ações penais seria um ato "tirânico" em benefício de pessoas que se acham acima da Constituição. Foi a primeira declaração do ministro após as sanções de Trump, durante sessão da Corte.

Na semana passada, Flávio protocolou pedido de impeachment contra o ministro, após medidas cautelares serem impostas por Moraes ao pai do senador, Bolsonaro, no inquérito que investiga a atuação de Eduardo nos Estados Unidos.

Logo após a sessão do Supremo Tribunal Federal (STF) desta sexta-feira, 1, que inaugurou a retomada dos trabalhos do Judiciário no semestre, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) afirmou que os discursos dos ministros "aumentaram sua moral". Os magistrados discursaram em defesa do ministro Alexandre de Moraes, alvo de sanções do governo norte-americano através da Lei Magnitsky.

Em entrevista à revista Timeline, o Eduardo disse ter sido "muito homenageado" na sessão, ironizando as críticas dos ministros feitas à sua atuação nos Estados Unidos para tentar frear o julgamento da ação penal sobre tentativa de golpe de Estado, que pode condenar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) a até 43 anos de prisão.

Na entrevista, Eduardo Bolsonaro também menciona que o STF "pode fazer maldades" com o pai dele, e questiona o Supremo sobre a possibilidade de Jair Bolsonaro ser preso.

"E aí STF, o que vai acontecer? Vocês vão jogar meu pai em um calabouço imundo torcendo pela morte dele? Ou talvez até encomendando a morte dele?", diz o parlamentar. "Eu não sou um moleque que está ameaçando", completa.

Em seu discurso nessa sexta, Alexandre de Moraes não citou diretamente o nome de Eduardo ou do comunicador Paulo Figueiredo, que têm ostentado nas redes sociais o lobby por sanções ao Brasil, mas se referiu a "pseudopatriotas" que atuam contra o Brasil.

O ministro que é o principal alvo dos Estados Unidos, chamou de "covarde e traiçoeira" a "organização miliciana" que tem atuado para impor sanções norte-americanas ao País e a autoridades brasileiras para tentar obstruir a Justiça no julgamento de Bolsonaro.

Na sessão, o ministro Gilmar Mendes afirmou que a Corte "não se dobra a intimidações" e afirmou que a atuação de Eduardo Bolsonaro nos EUA é um "ato covarde" e "lesa-pátria". Ele alertou que haverá uma "resposta à altura do Estado brasileiro".

O presidente do Supremo, ministro Luís Roberto Barroso, fez um forte discurso em apoio a Moraes. O magistrado defendeu as decisões tomadas por seu colega, relator da ação penal do golpe, que pode levar o ex-presidente Jair Bolsonaro à condenação por atentado à democracia.

O chefe do Poder Judiciário brasileiro também enviou uma mensagem clara ao governo do presidente Donald Trump: "Todos os réus serão julgados com base nas provas produzidas, sem qualquer interferência, venha de onde vier".

A revista britânica The Economist publicou nesta quinta-feira, 31, um editorial intitulado "O ataque sem precedentes de Donald Trump ao Judiciário brasileiro". O texto defende que sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky representa uma investida inédita contra uma "democracia em funcionamento".

A The Ecnonomist cita que a Lei Magnitsky já foi utilizada contra ditadores, generais genocidas e autoridades que assassinaram dissidentes políticos. "Moraes não fez nada parecido", diz a revista. A sanção foi aplicada ao magistrado por conduzir o processo criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), aliado de Trump, acusado de planejar a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

"Ter como alvo um juiz em exercício em uma democracia em funcionamento é algo sem precedentes", cita a revista.

A revista diz que o embate entre Donald Trump e Alexandre de Moraes se iniciou em 2019, com o inquérito das fake news. Sob relatoria do magistrado, o processo investiga a desinformação sobre instituições democráticas no Brasil por meio das redes sociais, e teve como alvo empresas norte-americanas.

Para a revista, a investigação foi "controversa desde o início", pois a falta de regulamentação das redes sociais no Brasil faz com que os processos relacionados ao tema recaiam sobre o Supremo.

No entanto, o texto destaca que "nenhuma das ações do Sr. Moraes foi ilegal nos termos do Brasil. Ele é fortalecido pela Constituição brasileira, uma das mais longas do mundo, que abrange tudo, desde assistência médica a salários".

Além disso, o editorial critica os apoiadores de Jair Bolsonaro por "ignorarem as evidências em sua acusação" de fomentar, inclusive por meio das redes sociais, o ataque aos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023.

"Os aliados de Bolsonaro fazem o tumulto parecer um chá da tarde". A revista também chamou os episódios do 8 de janeiro de "orgia vandalística".

Além das fake news, Jair Bolsonaro também é acusado de estar envolvido em "ações mais brutais para permanecer no poder", diz o jornal. "De acordo com a Polícia Federal, seu vice-chefe de gabinete, Mário Fernandes, elaborou um plano para assassinar ou sequestrar Moraes, bem como Lula, como o presidente é conhecido, e seu companheiro de chapa, antes que pudessem tomar posse". Mario Fernandes ocupou o cargo de secretário-executivo (número 2) da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro.

Lei Magnitsky 'saiu pela culatra'

O editorial finaliza afirmando que apesar de o governo Trump acreditar que as sanções contra Moraes podem pressionar o Supremo a libertar Bolsonaro, "o uso inovador da Lei Magnitsky pode sair pela culatra".

"Lula agora enquadra o clã Bolsonaro como 'traidor'. A maioria dos brasileiros concorda", diz a revista. "O Sr. Moraes, acostumado a receber ameaças de morte, é difícil de intimidar. No dia em que as sanções foram anunciadas, ele voou para São Paulo para assistir a uma partida do seu time de futebol favorito", finaliza o texto em referência ao jogo do Corinthians na última quarta-feira que o ministro foi flagrado fazendo um gesto obsceno.