O PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ativou a militância digital para pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), pela cassação imediata do mandato do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já declarou que pretende abrir mão do cargo, mas a burocracia da Câmara pode mantê-lo até o fim do primeiro semestre de 2026.
Logo após o anúncio do governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, da aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), as redes petistas foram orientadas a "bombardear" os perfis e o e-mail funcional de Motta com cobranças para remover o mandato de Eduardo.
"O próprio Trump confirmou: o tarifaço de 50% foi chantagem pra tentar salvar Bolsonaro da cadeia. E Eduardo Bolsonaro foi peça-chave nessa traição. Quem trabalha contra o Brasil não pode continuar no Congresso. Escreva para Hugo Motta e peça já cassação do mandato de Eduardo Bolsonaro", diz a mensagem distribuída ainda na tarde de quarta-feira, 30.
Procurado por meio da equipe, Hugo Motta não comentou. Em manifestação oficial após o tarifaço, o presidente da Câmara afirmou que "não podemos apoiar nenhum tipo de sanção por parte de nações estrangeiras dirigida a membros de qualquer Poder constituído da República". "Isso vale para todos os parlamentares, membros do executivo e ministros dos tribunais superiores", disse.
O texto da comunicação petista disparado em grupos de WhatsApp é acompanhado por um vídeo de 2 minutos que termina com trecho do pronunciamento feito por Lula, em rede nacional de TV e rádio, no dia 17 de julho.
"Não há vencedores em guerras tarifárias. Somos um país de paz, sem inimigos. Acreditamos no multilateralismo e na cooperação entre as nações. Mas que ninguém se esqueça: O Brasil tem um único dono, o povo brasileiro", diz o presidente.
O vídeo tem recortes de imagens de Eduardo e de Bolsonaro intercaladas com programas jornalísticos. O conteúdo é guiado por uma narração que acusa o ex-presidente de ter traído o País para se salvar de punições criminais, ideia já levantada por Lula.
"Chantagear um país inteiro para salvar a própria pele. Essa é a face mais obscura da traição de Bolsonaro ao Brasil. Mas aqui tem lei, e ela é para todos. E tem um presidente que coloca os interesse do Brasil sempre em primeiro lugar", diz o narrador.
A atuação digital reforça a atuação institucional de membros do PT. Deputados já apresentaram pedidos de cassação de Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética, mas os requerimentos estão pendentes de análise de Hugo Motta.
Líder do PT na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ) diz que, no retorno das atividades do Parlamento, na próxima semana, o partido dará prioridade à pauta da cassação de Eduardo.
"A gente vai chegar nessa semana com pressão máxima para pedir a cassação de Eduardo Bolsonaro. O roteiro de antes era esperar ser cassado por falta, mas não podemos esperar que o mandato dele continue até o final do ano. Ele não pode continuar ameaçando a soberania nacional como deputado", afirmou.
Filho "zero três" do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro se licenciou do mandato para articular nos Estados Unidos represálias ao Brasil. O objetivo seria pressionar o País a anistiar acusados de tentativa de golpe de Estado, entre os quais o próprio pai. Trump anunciou que uma taxa de 50% sobre produtos importados do Brasil vai entrar em vigor a partir de sexta-feira, 1º, e Eduardo admitiu ter discutido a medida.
Pouco depois do anúncio feito pelo governo Trump, Eduardo Bolsonaro disse que a responsabilidade está com o Congresso. "Chegou a hora do Congresso agir. A anistia ampla, geral e irrestrita é urgente para restaurar a paz, devolver a liberdade aos perseguidos e mostrar ao mundo que o Brasil ainda acredita na democracia", publicou.
A estrutura digital utilizada para circular a convocação para pressionar a Hugo Motta é a mesma usada para distribuição de peças produzidas com inteligência artificial na campanha do "nós contra eles" por "justiça tributária".
Como já mostrou o Estadão, a ação digital do PT é articulada pelo Instituto Lula, pela Fundação Perseu Abramo e por sindicatos, mas tem interlocução direta com a Secretaria de Comunicação (Secom) do Palácio do Planalto. A pasta nega atuar com comunicação que não seja a institucional do governo.
Uma comitiva de senadores brasileiros foi aos Estados Unidos tentar rever o tarifaço imposto por Donald Trump. Eduardo Bolsonaro chegou a dizer que trabalha junto ao governo norte-americano para que os parlamentares brasileiros "não encontrem diálogo".
A perda do mandato ocorre quando o parlamentar atinge 30% de faltas no ano legislativo. Como mostrou a Coluna do Estadão, a estimativa é a de que o deputado atinja esse patamar de ausências em novembro.
No entanto, ele poderá postergar o mandato por causa das sessões virtuais. Nelas, o parlamentar pode marcar presença e votar remotamente. Se 2025 acabar e Eduardo não tiver 30% de faltas, a contagem fica zerada. Caso o ritmo atual de sessões online seja mantido por Hugo Motta, Eduardo pode chegar ao fim do ano sem extrapolar o limite de ausências.
Na quarta-feira, 30, o governo Trump anunciou a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF. O dispositivo, acionado pela Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos, impõe sanções financeiras a estrangeiros acusados de corrupção ou violações graves de direitos humanos.
Em paralelo à estratégia direcionada ao adversário, o PT lançou a campanha "Eu defendo o Brasil". A coordenação da comunicação da sigla preparou vídeos, "memes" e até textos prontos para serem compartilhados pela militância nas redes sociais e grupos de conversas.
As mensagens reforçam a responsabilidade dos Bolsonaro pelo tarifaço imposto ao Brasil. "Um governo que defende o Brasil abre mercado, não fecha fábrica. Com Lula é soberania. Com Bolsonaro foi sabotagem", diz um dos conteúdos sugeridos.