Bukele propõe troca de prisioneiros políticos por deportados venezuelanos com Maduro

Internacional
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O presidente de El Salvador, Nayib Bukele, propôs no domingo, 20, repatriar todos os presos venezuelanos enviados ao seu país pelos Estados Unidos em troca da libertação da mesma quantidade de "prisioneiros políticos" da Venezuela, incluindo figuras da oposição do país - que chamou a oferta de "cínica".

Em uma publicação no X (antigo Twitter), direcionada ao presidente da venezuelano, Nicolás Maduro, Bukele listou familiares de membros do alto escalão da oposição na Venezuela, jornalistas e ativistas detidos durante a repressão eleitoral do governo sul-americano no ano passado.

"A única razão pela qual estão presos é por terem se oposto a você e à sua fraude eleitoral", disparou Bukele se referindo a Maduro. "No entanto, quero propor um acordo humanitário que inclua a repatriação de 100% dos 252 venezuelanos que foram deportados, em troca da libertação e entrega de um número idêntico dos milhares de presos políticos que você mantém", completou.

Entre os listados está o genro do ex-candidato à presidência da Venezuela Edmundo González, vários líderes políticos que buscavam asilo na embaixada argentina na Venezuela e o que ele disse serem 50 cidadãos de pelo menos 23 nacionalidades diferentes.

O presidente também citou a mãe da líder da oposição María Corina Machado, cuja casa, segundo o líder político, foi cercada pela polícia venezuelana em janeiro.

Bukele encerrou afirmando que o Ministério das Relações Exteriores de El Salvador entrará em contato com o governo Maduro para formalizar a proposta.

Reação venezuelana

O Ministério Público da Venezuela respondeu na noite do mesmo dia, chamando as declarações de Bukele de "cínicas" e se referindo ao líder salvadorenho como um "neofascista".

O país pediu também que o governo de Bukele forneça ao governo venezuelano uma lista das pessoas detidas, bem como seu status legal e relatórios médicos.

"O tratamento recebido pelos venezuelanos nos Estados Unidos e em El Salvador constitui uma grave violação do direito internacional dos direitos humanos e constitui um crime contra a humanidade", afirmou o comunicado.

De olho em El Salvador

A proposta surge em um momento em que o mundo está atento a El Salvador por aceitar venezuelanos e salvadorenhos deportados pelo governo Trump, que os acusou de serem membros de gangues.

Os deportados são encarcerados em uma "megaprisão" conhecida como Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), construída pelo governo Bukele durante sua repressão às gangues do país.

A controvérsia só aumentou após a revelação de que um homem casado com uma cidadã americana foi deportado por engano. A Suprema Corte dos EUA ordenou que o governo facilitasse seu retorno, mas não há sinais de que a proposta será aceita.

Desde março, o governo dos EUA envia venezuelanos e salvadorenhos acusados de serem filiados às gangues Tren de Aragua e MS-13 para El Salvador, onde Bukele concordou em deter criminosos condenados para os Estados Unidos, mediante pagamento.

Os primeiros voos a chegar a El Salvador transportaram 238 venezuelanos, entre eles muitos que não tinham antecedentes criminais. / COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

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A Justiça Eleitoral de Minas Gerais aceitou denúncia do Ministério Público Estadual contra o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). Ele se tornou réu acusado de divulgar notícias falsas e denunciação caluniosa contra o ex-prefeito de Belo Horizonte Fuad Noman na eleição de 2024. Fuad venceu o pleito, mas morreu em março deste ano vítima de câncer. A decisão foi tomada pelo juiz Marcos Antônio da Silva.

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Nikolas se posicionou sobre a decisão. "Devia ter feito rachadinha ou roubado o INSS. Vacilei, fui dar minha opinião", declarou. Engler e Sheila também foram procurados pelo Estadão, mas ainda não se posicionaram. A reportagem não conseguiu contato com Cláudia Romualdo.

Na reta final do segundo turno, adversários de Fuad utilizaram o livro Cobiça, escrito por ele, para acusá-lo de apologia à pedofilia. Em uma passagem da obra, a personagem rememora que foi vítima de estupro coletivo quando tinha 12 anos.

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Os quatro réus terão 10 dias para responderem à acusação, juntar documentos, provas e indicar testemunhas de defesa.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deixou a Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês), uma organização internacional criada para o combate ao antissemitismo e memória do massacre dos judeus.

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No dia 23, o governo brasileiro formalizou a entrada na ação movida pela África do Sul na Corte Internacional de Justiça que acusa Israel de cometer genocídio contra palestinos na Faixa de Gaza. O Itamaraty nega que a saída da aliança tenha uma relação direta com a adesão à ação.

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"O Brasil considera que já não há espaço para ambiguidade moral nem omissão política. A impunidade mina a legalidade internacional e compromete a credibilidade do sistema multilateral", diz a nota do Itamaraty.

As ações do governo brasileiro foram chamadas por Israel de "uma demonstração de profunda falha moral". Desde o início da guerra em Gaza em 2023, a relação entre o Estado judaico e o País tem se deteriorado. Em fevereiro do ano passado, Lula afirmou que as ações do Exército israelense em Gaza era comparado ao Holocausto de judeus e foi considerado persona non grata em Israel.

O episódio provocou a retirada do embaixador do Brasil em Israel, Frederico Meyer, em maio. O cargo segue vago, e as relações diplomáticas entre os dois países correm o risco de ficarem ainda menores nos próximos meses, já que o Itamaraty segue sem consentir que o diplomata Gali Dagan assuma o cargo de embaixador de Israel em Brasília. O cargo atualmente é ocupado por Daniel Zonshine.

A saída da IHRA e a adesão à ação da África do Sul esta semana, no entanto, coincidem com o aumento da pressão da comunidade internacional sobre Israel, que contou com o anúncio do presidente francês Emmanuel Macron sobre o reconhecimento do Estado da Palestina e com a denúncia de organizações humanitárias sobre fome generalizada entre os palestinos.

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Críticas a IHRA

A Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA) se define como uma união de governos e especialistas para "fortalecer, avançar e promover a educação, a memória e a pesquisa sobre o Holocausto". Criada na década de 90, o grupo tem 35 membros e 8 observadores (incluindo o Brasil, que, até este sábado, segue como observador no site).

Segundo a organização, os membros da aliança precisam reconhecer que "a coordenação política internacional é essencial para combater a crescente distorção do holocausto e do antissemitismo".

A IHRA é criticada por setores do judaísmo e grupos em defesa dos direitos humanos, que acusam a organização de instrumentalizar a memória do Holocausto para blindar o Estado de Israel em casos de violência. A definição de antissemitismo da organização, adotada por países europeus e pelos Estados Unidos, dizem os críticos, considera que posições contrárias à Israel podem ser consideradas antissemita.

Em 2023, um grupo composto por mais de 100 organizações de direitos humanos, entre elas a B'TSelem, maior organização de direitos humanos de Israel, Humans Right Watch, Anistia Internacional e União Americana pelas Liberdades, solicitou à ONU a rejeição do conceito de antissemitismo do IHRA.

A crítica também é feita por um dos principais formuladores da definição, Kenneth Stern, advogado especialista em direitos humanos.

"A adoção da definição por governos e instituições é frequentemente enquadrada como um passo essencial nos esforços para combater o antissemitismo. Na prática, porém, a definição da IHRA tem sido frequentemente usada para rotular erroneamente as críticas a Israel como antissemitas e, assim, coibir e, às vezes, suprimir protestos não violentos, ativismo e discursos críticos a Israel e/ou ao sionismo, inclusive nos EUA e na Europa", afirmava a carta do grupo.

Os maiores problemas, diz o grupo, residem nos 7 dos 11 "exemplos contemporâneos de antissemitismo" informado pela IHRA, anexados à definição para orientar a aplicação. Os exemplos incluem "a alegação de que a existência de um Estado de Israel é um esforço racista" e "a aplicação de dois pesos e duas medidas ao exigir de [Israel] um comportamento não esperado ou exigido de nenhuma outra nação democrática".

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes determinou que um pedido para investigação do deputado Filipe Barros (PL-PR) seja juntado aos autos do inquérito que mira o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por supostos crimes de coação no curso do processo, obstrução de investigação sobre organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

A movimentação consta de despacho assinado na quinta, 24, e não implica na automática investigação do parlamentar. A decisão significa que o teor da notícia-crime será analisado no bojo do inquérito que trata de fatos semelhantes. O procurador-geral da República, Paulo Gonet, deve se manifestar sobre a solicitação antes de uma eventual inclusão do parlamentar no inquérito.

"Considerando que os fatos narrados nesta notícia-crime já são objeto de procedimento específico, também de minha relatoria, junte-se cópia destes autos ao inq 4995/DF", escreveu Moraes no despacho.

A notícia-crime foi apresentada ao STF pelo advogado Benedito Silva Junior, que imputou a Filipe Barros suposto crime contra a soberania nacional. A base da petição é uma notícia sobre uma viagem que o parlamentar, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, fez aos Estados Unidos em maio.

Segundo a notícia publicada pelo portal Metrópoles - mote da solicitação de Benedito -, durante a viagem Filipe Barros teria tido reuniões com Eduardo Bolsonaro e um congressista americano para tratar de eventuais sanções a Moraes.

O advogado sustenta que o deputado bolsonarista teria participado de "articulações para comprometer a independência do Judiciário e submeter decisões judiciais nacionais à influência de um governo estrangeiro".