Alunos relatam pânico em ataque que matou 2 em universidade da Flórida

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Quando um jovem de 20 anos abriu fogo na Universidade Estadual da Flórida, estudantes aterrorizados fizeram barricadas nas portas e fugiram pelo campus, abandonando anotações de química e até mesmo sapatos, em um ataque a tiros que, segundo os investigadores, matou dois homens e feriu pelo menos seis outros.

Na madrugada desta sexta-feira, 18, memoriais com velas e flores pontilhavam o campus e uma vigília em toda a escola havia sido programada, pois os alunos e professores tentavam começar a se recuperar do ataque do dia anterior, que causou ondas de medo em todo o campus.

"Ouvi alguns tiros e depois desmaiei", disse Carolina Sena, uma estudante de contabilidade de 21 anos que estava dentro do centro acadêmico quando o ataque começou. "Todos estavam chorando e em pânico. Estávamos tentando nos barricar em um cantinho no porão, tentando nos proteger o máximo que podíamos."

Acredita-se que o atirador, identificado pela polícia como Phoenix Ikner, seja um estudante da Universidade Estadual da Flórida e filho de uma policial que abriu fogo com a antiga arma de serviço de sua mãe, disseram os investigadores.

As autoridades não haviam revelado até esta sexta de manhã o motivo do ataque, que começou por volta da hora do almoço na quinta-feira, 17, do lado de fora do centro acadêmico.

Os policiais chegaram rapidamente, atiraram e feriram o suspeito depois que ele se recusou a obedecer aos comandos, disse o chefe de polícia de Tallahassee, Lawrence Revell.

Os dois homens mortos não eram estudantes, disse o chefe de polícia da Universidade Estadual da Flórida, Jason Trumbower, acrescentando que não divulgaria informações adicionais sobre as vítimas.

O atirador obteve acesso a uma arma que pertence à sua mãe, que trabalha no gabinete do xerife há mais de 18 anos e tem sido uma funcionária exemplar, disse o xerife do condado de Leon, Walt McNeil.

A polícia disse acreditar que Ikner atirou nas vítimas usando uma antiga arma de serviço de sua mãe, que ela havia guardado para uso pessoal depois que a força policial passou a usar novas armas.

Cinco pessoas que ficaram feridas foram atingidas por tiros, enquanto uma sexta foi ferida ao tentar fugir, disse Revell em um comunicado na noite de quinta-feira.

Todas elas estavam em boas condições, disse um porta-voz do Tallahassee Memorial Healthcare.

O atirador era um membro de longa data do conselho consultivo para jovens do gabinete do xerife, disse o xerife.

"Ele estava inserido no gabinete do xerife do Condado de Leon, envolvido em vários programas de treinamento que temos", disse McNeil. "Portanto, não é surpresa para nós que ele tivesse acesso a armas."

Na noite de quinta-feira, Ikner estava no hospital com "ferimentos graves, mas sem risco de morte", de acordo com Revell.

Testemunha diz que a espingarda do suspeito emperrou

Ambulâncias, caminhões de bombeiros e veículos de patrulha de várias agências de aplicação da lei correram para o campus a oeste da capital da Flórida depois que a universidade emitiu um alerta de atirador ativo.

Aidan Stickney, de 21 anos, que estuda administração de empresas, estava atrasado para a aula quando disse ter visto um homem sair de um carro com uma espingarda e apontar para outro homem com uma camisa polo branca.

A arma emperrou, disse Stickney, e o atirador correu de volta para o carro e saiu com uma arma de fogo, atirando contra uma mulher. Stickney correu, avisando os outros enquanto ligava para o 911.

"Tive sorte hoje. Realmente tive. Tive mesmo, mesmo", disse ele.

Trumbower disse que os investigadores não têm provas de que alguém tenha sido alvejado com a espingarda.

Os tiros fizeram os estudantes se dispersarem

Holden Mendez, um estudante de 20 anos que estuda ciências políticas e assuntos internacionais, disse que tinha acabado de sair do grêmio estudantil quando ouviu uma série de tiros. Ele correu para um prédio próximo ao campus, onde disse que seu treinamento anterior de resposta a emergências entrou em ação.

"Havia muito medo. Havia muito pânico. Havia muita desinformação que estava sendo espalhada. Eu estava fazendo o meu melhor para combater isso", disse ele. "Eu disse às pessoas: 'Respirem fundo. Este edifício é seguro. Tudo vai ficar bem.'"

Andres Perez, 20 anos, estava em uma sala de aula perto do centro acadêmico quando soou o alarme para o bloqueio. Ele disse que seus colegas de classe começaram a mover as carteiras em frente à porta e os policiais vieram acompanhá-los até a saída.

"Eu sempre fico no grêmio estudantil", disse Perez. "Assim, no momento em que descobri que a ameaça estava lá, meu coração disparou e fiquei com medo."

Ataque choca o campus e o país

O presidente norte-americano Donald Trump disse no Salão Oval que havia sido totalmente informado sobre o ataque. "É uma coisa horrível. É horrível que coisas como essa aconteçam", comentou ele.

Mas Trump também sugeriu que não estaria defendendo nenhuma nova legislação sobre armas, dizendo: "A arma não atira, as pessoas atiram."

O presidente da universidade, Richard McCullough, disse que estava desolado com a violência. "Nossos corações estão com nossos alunos e com as vítimas dessa terrível tragédia", afirmou.

A Universidade Estadual da Flórida é uma das 12 universidades públicas da Flórida, com seu campus principal em Tallahassee. Cerca de 44 mil alunos estão matriculados na universidade, de acordo com a ficha informativa da escola para 2024.

Em 2014, a biblioteca principal foi o local de um ataque a tiros que feriu três pessoas. Os policiais atiraram e mataram o suspeito, Myron May, de 31 anos.

A universidade cancelou as aulas pelo resto da semana e os eventos esportivos até o domingo, 20. / Associated Press

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

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O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, que atuou no cargo durante o governo de Jair Bolsonaro, sofreu "censura ética" pela tentativa, em 2021, de trazer para o País joias dadas pelo regime da Arábia Saudita à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, sem passar pela fiscalização da Receita Federal. Revelado pelo Estadão, o caso motivou o indiciamento do ex-presidente por peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro.

A reportagem procurou a defesa de Albuquerque, mas não havia obtido uma resposta até a publicação deste texto. Caso, se manifeste, um posicionamento dele será incluído.

Nesta segunda-feira, 28, a Comissão de Ética Pública da Presidência (CEP) decidiu punir o ex-ministro, mas poupou outros dois denunciados ao colegiado: o ex-secretário da Receita Federal Júlio César Vieira Gomes e o ex-chefe adjunto do Gabinete de Documentação Histórica do Palácio do Planalto Marcelo da Silva Vieira.

A sanção que lhe foi aplicada funciona como uma espécie de mancha no currículo de servidores da administração pública federal e tem validade de três anos. Albuquerque voltou de uma viagem ao Oriente Médio com as joias. Ao retornar ao Brasil, os itens foram retidos por agentes da Receita. Pela legislação, objetos de valor superior a R$ 1 mil precisam ser declarados, o que não foi feito.

Quem carregava as joias na mochila era Marcos André Soeiro, assessor do então ministro. Os fiscais se depararam com a escultura de um cavalo de aproximadamente 30 centímetros, dourada, com as patas quebradas. Também encontraram o estojo com as joias, acompanhadas de um certificado de autenticidade da marca Chopard.

Quando soube da retenção, o ex-ministro se dirigiu à alfândega e tentou, sem sucesso, viabilizar a liberação dos objetos. Nesse momento, chegou a citar o próprio cargo e a dizer que eram presentes para Michelle.

A apreensão ocorreu em outubro de 2021. Dali até o fim de seu mandato, Bolsonaro tentou o desembaraço da carga em pelo menos oito oportunidades e acionou órgãos do Executivo, como o Itamaraty e a própria Receita.

O tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima afirmou, nesta segunda-feira, 28, que o ministro Alexandre de Moraes era um "fator crítico" nos "cenários" de ruptura institucional, mas não era um "centro de gravidade". Integrante da força especial do Exército, que abriga os kids pretos, Hélio é acusado de integrar o núcleo 3 da ação do golpe. A Procuradoria-Geral da República afirma que ele era um dos responsáveis pela Operação "Copa 2022", com o objetivo de "neutralizar" o ministro relator da ação.

Durante o interrogatório conduzido pelo juiz auxiliar Rafael Henrique Janela Tamai Rocha, o oficial explicou que o ministro do STF era uma "peça fundamental" na sua "prospecção" para um possível acirramento do cenário político após as eleições de 2022.

Ele disse que, na ocasião, ficou responsável por desenvolver um cenário "hipotético" de inteligência, em que teriam sido encontradas fraudes no processo eleitoral.

Durante as investigações da Polícia Federal, foi encontrada com o militar uma planilha com o nome "Desenho Op Luneta", detalhando, em cinco etapas, o plano de golpe.

A defesa do tenente-coronel alega que o documento estava em um pen drive funcional e se tratava de "um estudo de cenário prospectivo". De acordo com os advogados de Hélio Ferreira Lima, tratava-se da análise de um cenário possível, mas não de um plano de execução, baseado, segundo ele, nas normas de inteligência do Ministério da Defesa. "Esse cenário não tem a menor condição de ser empregado por grupos clandestinos ou qualquer coisa", destacou.

A denúncia detalha que a "primeira etapa", denominada "estado atual", apontava a existência de fatores geradores de instabilidade no Supremo Tribunal Federal, que deveriam ser superados no "estado final desejado da força legalista", momento em que ocorreria a "neutralização" desses fatores.

Na "terceira etapa", chamada de "tendência natural", ainda de acordo com a PGR, previa-se o recrudescimento do controle do Estado sobre os elementos considerados desestabilizadores, até se alcançar o "EFD (Estado Final Desejado) das principais ameaças", fase em que seria implementado o "controle total" do grupo criminoso sobre os "Três Poderes".

A última etapa descreve as principais deduções do diagrama de relações, com o objetivo de retomar a "normalidade institucional" por meio da eliminação dos elementos geradores de "ilegalidade e instabilidade".

Hélio Ferreira Lima ressaltou que as forças especiais do Exército não teriam condições de executar uma ruptura institucional. "Ainda que todas as forças especiais tivessem que se juntar para fazer um golpe, a gente seria fagocitado até por uma polícia de qualquer estado que tem um efetivo muito maior", declarou.

O oficial explicou que, durante o período eleitoral, foi orientado a fazer "estudos de inteligência" para acompanhar os manifestantes bolsonaristas acampados próximos aos quartéis.

A acusação também aponta que Hélio Ferreira Lima e o tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira foram com o então ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, até a casa do general Walter Braga Netto - ex-ministro da Defesa e da Casa Civil - com o objetivo de "debater as ações clandestinas para neutralizar o ministro Alexandre de Moraes".

No depoimento, Ferreira Lima alegou que não era uma 'reunião', mas um encontro rápido, de menos de 20 minutos, na residência do Braga Netto a pedido de Mauro Cid.

O oficial nega ter discutido plano golpista com Braga Netto. "Eu nunca tinha visto um general quatro estrelas com roupas caseiras. A gente não tomou água, era um clima de velório", comentou.

Em relação à acusação de que teria monitorado o presidente Lula, o tenente-coronel negou e disse que estava hospedado em Brasília, próximo onde estaria o então presidente eleito, mas não estava vigiando o petista. A defesa alega que, apesar de morar em Porto Alegre, ele teria ido para Brasília ver seu filho.

A denúncia da PGR ressalta que as conversas com Cid indicavam que eles 'continuavam tentando obter, inclusive com a utilização de hackers, pretextos que pudessem colocar em dúvida a higidez do processo eleitoral'.

No interrogatório, ele confirmou ter mandado documento para Mauro Cid e afirmou que, no contexto das eleições de 2022, a 'possibilidade de fraude subiu muito'.

Fabrício Moreira de Bastos

Antes dos interrogatórios de Hélio Ferreira Lima, também foi ouvido o tenente-coronel Fabrício Moreira de Bastos, que integrou o núcleo dos militares na ação golpista. A Procuradoria-Geral da República afirma que o militar ajudou na escolha dos militares Kids Pretos, que teriam se reunido para articular uma "pressão" sobre o general Freire Gomes.

Moreira de Bastos negou que tenha feito indicações de militares com a intenção de pressionar por uma adesão ao golpe, e afirmou que se tratava apenas de um encontro com amigos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) vai reiniciar no plenário físico o julgamento de recurso do governo contra decisão que excluiu as verbas obtidas pelo Poder Judiciário do limite de gastos do arcabouço fiscal. O relator, Alexandre de Moraes, pediu destaque um mês após votar pela rejeição do recurso da Advocacia-Geral da União (AGU). O movimento indica a possibilidade de que ele reconsidere sua posição inicial ou faça ressalvas sobre algum ponto específico da decisão.

O caso era analisado no plenário virtual que começou em 27 de junho e tinha encerramento previsto para 5 de agosto. Antes da suspensão, o ministro Cristiano Zanin havia acompanhado o entendimento de Moraes.

O recurso contesta decisão tomada pelo Supremo de forma unânime em abril. Na ocasião, a Corte acolheu um pedido apresentado pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB). Como mostrou a Broadcast, o governo acabará tendo de compensar essa exceção ao limite de gastos do arcabouço com aumento de receitas ou corte de despesas em outras áreas. No ano passado, essas receitas próprias fecharam em cerca de R$ 2 bilhões.

A AGU argumentou ao Supremo que a decisão não foi clara sobre o que constitui "receitas próprias", o que poderia levar a interpretações divergentes. O governo entende que a exceção ao limite de gastos deve abranger apenas as "receitas de natureza originária, decorrentes de atividades voluntárias remuneradas por preço público, como aluguéis e alienação de bens". Para a AGU, não estão inclusas no conceito de receitas próprias as custas e emolumentos, por exemplo.

"O acórdão, contudo, parece mesclar esses conceitos de forma intercambiável ao mencionar, tanto na ementa quanto no voto-condutor, que as 'receitas vinculadas' e 'custas e emolumentos' seriam englobadas pela exceção ao limite de gastos. Tal ambiguidade diverge do conceito orçamentário consolidado e da intenção legislativa da Lei Complementar nº 200/2023, que excepcionou apenas receitas próprias de entidades específicas, como universidades e instituições científicas, sem incluir receitas tributárias", sustentou a AGU.

Ao negar o recurso no plenário virtual, Moraes afirmou que não viu obscuridade ou omissão na decisão e reforçou que a exceção ao arcabouço fiscal abrange tanto as despesas custeadas com receitas próprias quanto custas e emolumentos recolhidos.