Israel mata liderança do Hamas; Netanyahu: negociações, agora, só sob fogo pesado

Internacional
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Israel matou líderes do Hamas nos maiores ataques desde o início do cessar-fogo na Faixa de Gaza e sinalizou a retomada da guerra. O governo israelense afirmou que manterá a ofensiva nos próximos dias enquanto o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu disse que esse é só o começo e que as negociações para liberação dos reféns, agora, serão conduzidas apenas sob fogo.

"Voltamos a lutar. Voltamos a lutar com força", declarou Binyamin Netanyahu em discurso televisionado. "De agora em diante, as negociações só serão conduzidas sob fogo", seguiu o primeiro-ministro, acrescentando que "é apenas o começo".

"Israel vai lutar e vai vencer. Vamos trazer as nossas pessoas de volta para casa e vamos destruir o Hamas. Não vamos recuar", declarou Netanyahu, acusando o grupo terrorista de rejeitar as ofertas para manutenção do acordo de cessar-fogo.

Antes do pronunciamento de Netanyahu, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Saar, declarou que a ofensiva continua. "Nós atingimos alvos do Hamas e outros alvos terroristas em Gaza. Não foi um ataque de um dia só. Continuaremos a operação militar nos próximos dias", disse.

Israel anunciou ainda ter matado quatro lideranças do Hamas nos bombardeios em larga escala que atingiram a Faixa de Gaza nesta terça-feira, 18. A lista inclui Essam al-Da'alis, descrito pelo Exército israelense com "responsável pelo funcionamento do regime terrorista do Hamas em Gaza". Os outros três, ainda de acordo com Israel, seriam integrantes do Ministério do Interior, do Ministério da Justiça e do serviço de segurança interna.

O Hamas, por outro lado, disse que seis lideranças foram mortas nos ataques. O grupo terrorista acusa Israel de "anular o acordo de cessar-fogo" e expor os reféns mantidos em Gaza a um "destino desconhecido".

'Reacenderam o inferno em Gaza'

No enclave palestino, a intensidade da ofensiva lembrou os primeiros dias da guerra, quando Israel lançou implacáveis bombardeios em resposta ao ataque terrorista do Hamas, em 7 de outubro de 2023. "Toda Gaza tremeu", disse Ramez Souri, morador da Cidade de Gaza.

O Ministério da Saúde informou que os ataques deixaram pelo menos 413 mortos. E o Serviço de Emergência Civil do enclave palestino disse que 170 crianças e 80 mulheres estavam entre as vítimas.

Tanya-Haj Hassan, uma voluntária canadense do grupo Medical Aid for Palestinians que atua em Khan Younis, disse que a grande maioria de seus pacientes eram mulheres e crianças. "Havia três homens no pronto-socorro no total", disse ela, que contou pelo menos 30 mulheres e crianças na área de reanimação durante seu turno.

Há relatos de corpos espalhados pelas ruas e hospitais sem capacidade para atender as vítimas. "Os feridos não encontram um médico que os atenda", disse Ramiz al Amarin, um deslocado palestino, no hospital al Ahli, na Cidade de Gaza. "Reacenderam o fogo do inferno".

O palestino, de 25 anos, relata que acordou de sobressalto com as explosões. "Transportei vários filhos dos meus vizinhos que estavam feridos", segue o relato, "mas não há leitos para recebê-los".

Em seu discurso, Binyamin Netanyahu disse que os civis palestinos não são o alvo de Israel e deveriam se mover para áreas seguras. "Nós miramos nos terroristas do Hamas. E quando esses terroristas se infiltram em áreas civis, quando usam civis como escudos humanos, eles são os responsáveis por todas as vítimas"

O Exército de Israel emitiu ordens para que os civis deixem várias áreas da Faixa de Gaza ao longo da fronteira, sugerindo que a ofensiva surpresa poderia se tornar uma campanha prolongada no momento em que aumentam os temores de nova invasão terrestre no enclave palestino. Numa publicação em árabe, o porta-voz das forças armadas, Avichay Adraee, ordenou que as pessoas se deslocassem em direção ao centro de Gaza, dizimado pela guerra.

Impasse sobre o cessar-fogo

O cessar-fogo que interrompeu 15 meses de conflito entrou em vigor em janeiro e seria dividido em três etapas. A primeira, encerrada no começo do mês, previa a pausa nos combates e a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos.

Na segunda fase, era esperada a liberação de mais reféns e a retirada de tropas israelenses da Faixa de Gaza. Mas os dois lados nunca chegaram a um consenso sobre como avançar para manter o acordo. Mesmo assim, o frágil cessar-fogo se manteve - até esta terça-feira.

Os mediadores buscavam uma saída para o impasse, mas os líderes israelenses não estavam dispostos a encerrar a guerra enquanto o grupo terrorista mantivesse o domínio sobre o território palestino. O Hamas sinalizou que poderia se comprometer com o controle civil, mas também mostrou pouca disposição em dissolver os batalhões militares.

Israel sugeriu que o Hamas liberasse metade dos reféns restantes em troca da promessa de negociar uma trégua duradoura. Em vez disso, o Hamas insistiu em manter a versão inicial do acordo e avançar para a segunda etapa, que agora parece cada vez mais distante.

"A insistência do Hamas em manter os reféns como vantagem e a recusa política de Netanyahu em prosseguir com a fase dois do cessar-fogo, que exigia o fim da guerra e a libertação de todos os reféns vivos, levaram a essa escalada", disse Daniel Shapiro, ex-embaixador dos EUA em Israel.

Em seu discurso, Netanyahu rebateu os críticos e culpou o Hamas. "O Hamas recusou oferta após oferta para libertar os nossos reféns. Nas últimas duas semanas, Israel não iniciou nenhuma ação militar na esperança de que o Hamas mudaria o curso. Isso não aconteceu", disse. "Enquanto Israel aceitou a oferta do enviado americano Steve Witkoff, o Hamas recusou categoricamente. Foi por isso que eu autorizei a retomada da ação militar contra o Hamas".

Reféns e familiares criticam ataques

Em Israel, a retomada dos combates foi criticada por líderes da oposição, ex-reféns e familiares daqueles que permanecem em cativeiro na Faixa de Gaza. Acredita-se que o Hamas tenha 24 reféns vivos e os corpos de outros 35.

"Meu coração está partido, despedaçado e decepcionado", escreveu Emily Damari, refém libertada durante o cessar-fogo no início deste ano. "Continuaremos a lutar sem parar e faremos tudo o que pudermos para trazê-los de volta", seguiu, dirigindo-se aos reféns.

"E aqueles que foram deixados para trás? Eles foram esquecidos de novo?", questionou a soldada israelense Liri Albag, também liberta sob o acordo. "É impossível seguir em frente enquanto eles estão apodrecendo no inferno".

Einav Zangauker, acusou o primeiro-ministro de priorizar seus aliados de extrema direita, que se opuseram ao cessar-fogo, "em vez de nossos filhos que estão em cativeiro" e culpou Netanyahu por "violar o acordo e planejar um retorno à guerra - uma guerra que matará os reféns". Sua filha, Matan, está entre aqueles que ainda estariam vivos em cativeiro.

O Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos afirmou em comunicado na terça-feira que estava "chocado, indignado e profundamente angustiado com o rompimento deliberado do processo para trazer nossos entes queridos de volta do terrível cativeiro do Hamas."

Em resposta às críticas do movimento pela libertação dos reféns, Netanyahu disse em seu discurso que "atingir o Hamas militarmente e libertar nossos reféns não são objetivos contraditórios, eles estão interligados". (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

Em outra categoria

Os deputados bolsonaristas Hélio Lopes (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO) recolheram as barracas que haviam montado na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), com a intenção de acampar em reação ao que chamaram de "ditadura disfarçada" e "perseguição" ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

A desmobilização ocorreu no fim da noite desta sexta-feira, 25, após decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. O magistrado determinou a remoção imediata das estruturas e a proibição de acesso e permanência dos deputados em frente ao STF. O ministro intimou pessoalmente o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), a não permitir "nenhum novo acampamento" na Praça dos Três Poderes.

No despacho, o ministro considerou que os deputados bolsonaristas reivindicaram o direito de manifestação com o "confessado propósito de repetir os ilegais e golpistas acampamentos realizados na frente dos quartéis do Exército, para subverter a ordem democrática e inviabilizar o funcionamento das instituições republicanas".

A primeira barraca montada em frente ao STF foi a do deputado Hélio Lopes, que gravou vídeos com um esparadrapo na boca e uma camisa com a bandeira de Israel. Em suas postagens, o parlamentar alegou que optou por entrar em um "jejum de palavras".

Em outro post, Hélio Lopes compartilhou o que chamou de "ofício público" ao presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), pedindo que registrasse oficialmente sua "manifestação pacífica e silenciosa" como um ato "legítimo de um deputado federal em pleno exercício de seu mandato".

Depois, o deputado Coronel Chrisóstomo aderiu à mobilização e, em suas redes sociais, mostrou outros apoiadores do ex-presidente, vestidos com camisetas da seleção brasileira, que se juntavam à manifestação.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, assinou despacho na noite desta sexta-feira, 25, determinando que a força policial fosse usada para retirar deputados bolsonaristas acampados na Praça dos Três Poderes, próximo ao prédio da Corte. Atendendo pedido da Procuradoria Geral da República, Moraes autorizou a prisão dos parlamentares, caso não aceitassem deixar o local.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, foi intimado por Moraes para tomar providências. Na decisão, Moraes fala em deputados estariam "participando de possível prática criminosa". Após a ordem, o ministro do STF assinou um complemento da decisão proibindo a instalação de novos acampamentos num raio de 1 quilômetro da Praça dos Três Poderes, da Esplanada dos Ministérios e até mesmo de quartéis das Forças Armadas. Moraes justificou que adotava a medida para evitar um novo 8 de Janeiro.

"Para garantir a segurança pública e evitar novos eventos criminosos semelhantes aos atos golpistas ocorridos em 8/1/2023, determinou a proibição de qualquer acampamento em um ario de 1KM da Praça dos Três Poderes, Esplanada dos Ministérios e, obviamente, em frente aos quartéis das Forças Armadas", determinou Moraes.

O "acampamento" dos deputados começou na tarde de sexta-feira, quando o deputado Hélio Lopes (PL-RJ) foi sozinho para o local, montou uma barracada, colocou esparadrapo na boca para protestar contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele recebeu apoio de alguns populares e de outros parlamentares bolsonaristas que também foram para a Praça.

A ordem de Moraes alcançava, além de Hélio Lopes, Sóstenes Cavalcante (PL-AL), Cabo Gilberto Silva (PL-PB), Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e Rodrigo da Zaeli (PL-MT).

O governador do DF foi pessoalmente negociar a saída dos deputados para fazer cumprir a ordem de Moraes. Sob risco de prisão, os parlamentares aceitaram transferir as barracas para outro local na Esplanada dos Ministérios, mas fora da Praça dos Três Poderes. Ao desmontar as barracas foram avisados que havia uma nova decisão de Moraes, bloqueando acampamentos no raio de 1 quilômetro da Praça e da Esplanada.

Durante a negociação - feita com o desembargador aposentado Sebastião Coelho, bolsonarista e crítico do STF - Ibaneis admitiu desconforto com a situação. "Eu não concordo com as coisas que estão acontecendo, Sebastião", disse o governador.

Na primeira decisão, Moraes atendeu todos os pedidos do Ministério Público que havia relatado risco à segurança por conta do acampamento dos deputados.

"Defiro integralmente os pedidos da Procuradoria Geral da República, no sentido de:

A) Remoção imediata e proibição de acesso e permanência dos Deputados Federais Hélio Lopes, Sóstenes Cavalcante, Cabo Gilberto Silva, Coronel Chrisóstomo e Rodrigo da Zaeli, assim como de quaisquer outros indivíduos que se encontrem em frente ao Supremo Tribunal Federal participando de possível prática criminosa.

B) Prisão em flagrante com base na prática de resistência ou desobediência ao ato de autoridade pública, a fim de garantir a efetividade das probabilidades e a preservação da ordem pública na hipótese de resistência de indivíduos que, mesmo após intimados, insistirem em permanecer na via pública em manifestação de oposição à ordem.

C) Notificar a Polícia Militar do Distrito Federal e a Polícia Federal para imediato cumprimento da medida, competindo especialmente à Polícia Militar do Distrito Federal a adoção de todas as providências necessárias à efetiva remoção dos referidos indivíduos do local", escreveu Moraes.

Segundo a decisão, a remoção teria que ser feita imediatamente. Ele ainda acrescentou que o governador do DF deveria ser intimado da decisão.

"Nossa luta é pela liberdade. Não temos mais tempo. De poder falar, liberdade ao nosso grande líder Bolsonaro, e queremos votar o PL da anistia. É tudo que queremos", disse o deputado Coronel Chrisóstomo, após desmontar as barracas.

O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, antecipou ao Estadão a ordem de prisão ao grupo de deputados bolsonaristas. Rocha avisou que estava indo para a Praça para tentar negociar uma saída pacífica, mas se não houvesse concordância, estava autorizando a polícia local a prender os parlamentares.

"Vamos tentar tirar pacificamente. Se não saírem, serão presos", disse o governador ao Estadão. A Praça é considerada área de segurança.

Para reforçar a proteção ao local, o acesso para veículos à Praça dos Três Poderes foi interditado pela Polícia Militar. Na Praça estão os prédios do Congresso, do STF e o Palácio do Planalto.

Mais cedo o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Sandro Avelar, mencionou o risco de um novo 8 de Janeiro para evacuar os deputados federais Hélio Lopes (PL-RJ) e Coronel Chrisóstomo (PL-RO) que manifestam na Praça dos Três Poderes nesta sexta-feira, 25.

Segundo Avelar, a ideia era que os manifestantes seguissem para a Praça das Bandeiras, na Esplanada dos Ministérios. Já o entorno do STF deveria ser isolado por grades ainda na noite da sexta, segundo o plano.

Movimento sociais de esquerda - como a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Frente Povo Sem Medo e a Frente Brasil Popular - estão planejando manifestações em defesa da soberania nacional para o dia 1º de agosto, data em que a sobretaxa de 50% sobre os produtos nacionais imposta pelo presidente dos EUA, Donald Trump, deve entrar em vigor.

Os atos ocorrerão em frente a prédios que representam o governo dos EUA. A UNE anunciou manifestações diante dos Consulado dos Estados Unidos em São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e na Embaixada Americana em Brasília (DF).

A Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, por outro lado, marcaram ato para às 15h em Salvador (BA) e definiram a soberania nacional como uma das principais pautas.

"O bolsonarismo, mesmo após a derrota eleitoral, segue organizado e alinhado a uma rede global pautada na política imperialista de ataque à soberania dos povos, tal como podemos identificar a partir da recente decisão de Donald Trump de aplicar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros", escreveu a UNE na carta que divulgou o ato de 1º de agosto contra o tarifaço.

Na manhã desta sexta, 25, a Faculdade de Direito da USP também recebeu um ato em defesa da soberania nacional organizado por 250 entidades. A motivação da reunião se deu pela decisão do governo americano de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

A cassação dos vistos, que ocorreu após imposição de medidas cautelares contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é um novo capítulo da escalada de tensão entre o governo dos EUA e o brasileiro.

Os atritos começaram após o presidente americano anunciar que taxará os produtos nacionais em 50% por meio de uma carta que pedia o fim do julgamento de Bolsonaro.

"O modo como o Brasil tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado no mundo, é uma desgraça internacional", disse Trump por meio do documento. "Esse julgamento não deveria estar ocorrendo. É uma caça às bruxas que deve terminar IMEDIATAMENTE!", escreveu.

Horários e locais das manifestações da Une, em 1º de agosto

São Paulo - 10h no Consulado dos EUA em São Paulo

Salvador - 15h no Campo Grande

Rio de Janeiro - 18h no Consulado dos EUA

Brasília - 09h em frente a Embaixada dos EUA

Porto Alegre - 18h na Esquina Democrática

Belo Horizonte - 17h na Praça Sete