EUA confirmam 'conversas' com Hamas, rompendo tradição de não negociar com grupos terroristas

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A Casa Branca confirmou nesta quarta-feira, 5, que autoridades dos Estados Unidos estão envolvidas em "conversas e discussões contínuas" com o Hamas, rompendo com uma política de longa data da diplomacia americana de não manter negociações diretas com grupos que consideram terroristas.

Questionada sobre as conversas, que foram reveladas pelo site Axios, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, se recusou a fornecer detalhes sobre as negociações, mas disse que Donald Trump autorizou seus enviados a "falar com qualquer pessoa".

"Veja, dialogar e conversar com pessoas ao redor do mundo para fazer o que é do melhor interesse do povo americano é algo que o presidente... acredita ser um esforço de boa-fé para fazer o que é certo para o povo americano", disse.

De acordo com a porta-voz, Israel foi consultado sobre as tratativas. "Durante consultas com os Estados Unidos, Israel expressou sua opinião sobre negociações diretas com o Hamas ", disse o gabinete do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu. Autoridades do Hamas também confirmaram as reuniões.

De acordo com a Axios, o enviado especial dos EUA, Adam Boehler, se encontrou com membros do Hamas nas últimas semanas em Doha, no Catar, para discutir a libertação dos cinco reféns americanos ainda mantidos pelo grupo terrorista na Faixa de Gaza, quatro dos quais estão mortos.

As negociações também incluíram discussões sobre a libertação de todos os reféns que permaneceram em Gaza, bem como a possibilidade de um cessar-fogo permanente, acrescentou o Axios, citando duas fontes anônimas familiarizadas com as negociações.

A confirmação das negociações na capital do Catar acontece enquanto o cessar-fogo Israel-Hamas permanece em jogo. Este é o primeiro envolvimento direto conhecido entre os EUA e o Hamas desde que o Departamento de Estado designou o grupo como uma organização terrorista estrangeira em 1997.

Trump sinalizou que não tem intenções de afastar Netanyahu de um retorno ao combate se o Hamas não concordar com os termos de uma nova proposta de cessar-fogo, que os israelenses anunciaram como sendo elaborada pelo enviado dos EUA Steve Witkoff.

O novo plano exigiria que o Hamas libertasse metade dos reféns restantes - a principal moeda de troca do grupo terrorista - em troca de uma extensão do cessar-fogo e uma promessa de negociar uma trégua duradoura. Israel não fez menção de libertar mais prisioneiros palestinos, um componente-chave da primeira fase.

Trump ameaça Gaza

Trump ameaçou nesta quarta-feira a população de Gaza se os reféns restantes não forem libertados, e alertou os dirigentes do grupo terrorista para que deixem o território enquanto podem.

"Para a população de Gaza: um lindo futuro os espera, mas não se retiverem os reféns. Se o fizerem, estão MORTOS! Tomem uma decisão INTELIGENTE. LIBERTEM OS REFÉNS AGORA, OU HAVERÁ UM INFERNO A PAGAR DEPOIS!", escreveu o republicano em sua rede Truth Social.

Na mesma publicação, Trump exigiu ao Hamas que "devolva imediatamente todos os corpos das pessoas que assassinou" durante o ataque desse grupo contra Israel em 7 de outubro de 2023, que desencadeou a guerra.

"Este é seu último aviso! Para os dirigentes [do Hamas], agora é a hora de sair de Gaza, enquanto ainda têm oportunidade", acrescentou. "Estou enviando a Israel tudo o que se necessita para terminar o trabalho, nem um único membro do Hamas estará a salvo." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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Após as medidas cautelares adotadas pelo ministro Alexandre de Moraes contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, aumentou no X o engajamento em torno de postagens contrárias ao ex-presidente e favoráveis à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Levantamento da Nexus - Pesquisa e Inteligência de Dados mostra que, entre as 9h de segunda-feira, 21, e o mesmo horário desta terça-feira, 22, três expressões atribuídas à esquerda apareceram nos "trending topics" da rede de Elon Musk.

Na análise dos dez termos no topo do engajamento, "Chuva de Lula" estava em primeiro lugar, com um milhão de menções. Em quinto lugar, aparecia a expressão "Democracia Sempre", com 411 mil menções. O nono lugar era ocupado pelo termo "Eduardo Bolsonaro cassado", com 110 mil postagens.

A única menção atribuída à direita nos "trending topics" no período foi "Reaja Brasil", com 2 milhões de menções. Embora o número individual de menções seja maior para a direita, o X leva em consideração outros fatores para ranquear o engajamento dos usuários, como volume de menções, compartilhamentos, curtidas, comentários e o fato de ser um tópico recente.

Ainda segundo o estudo da Nexus, outros termos da esquerda ganharam destaque na rede fora das primeiras posições, como "Bolsonaro preso amanhã" e "Vai Xandão". A análise do X levou em conta uma amostra de 41 mil publicações em português relacionadas com a decisão de Moraes.

No Google Trends, a palavra "impeachment" chegou a ocupar a 10ª posição da lista de buscas no brasil no mesmo período, como mais de 10 mil ocorrências. O termo foi associado a outras pesquisas, como "impeachment moraes" e "alexandre de moraes impeachment".

O mesmo estudo também analisou a repercussão da decisão de Moraes de bloquear contas bancárias, bens e salário do deputado federal Eduardo Bolsonaro, o filho do ex-presidente que foi morar nos EUA.

O volume de postagens capturadas no X, Instagram e Facebook entre domingo, 20, e hoje revela aumento de 67% nas citações ao parlamentar em comparação a períodos anteriores. No Google Trends, o nome do deputado foi buscado mais de 2 mil vezes no decorrer de 13 horas.

A investigação deflagrada nesta terça-feira, 22, pela Polícia Federal para apurar desvios de recursos do Dnit do Amapá apontou que o empresário Breno Barbosa Chaves Pinto, segundo suplente do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), usava o nome do senador para desviar recursos em licitações.

O empresário foi alvo de buscas nesta terça-feira, 22, no âmbito da Operação Route. Segundo a PF, Chaves Pinto fazia tráfico de influência - "influía em atos de agente público" para "obter vantagens indevidas".

Não existem indícios da participação de Alcolumbre nos fatos investigados, de acordo com a PF e o Ministério Público Federal. Por isso, o caso tramita na Justiça Federal do Amapá.

Por meio de nota, o presidente do Senado disse que não possui relação com as empresas citadas na operação da PF, nem com a atuação do segundo suplente, alvo da apuração. "Alcolumbre reitera seu respeito às instituições e entende que todos os envolvidos devem prestar os devidos esclarecimentos à Justiça, respeitado o devido processo legal", diz nota da assessoria do senador.

Se houvesse indícios de envolvimento do senador, o caso teria que ser enviado ao Supremo Tribunal Federal, foro especial destinado à investigações contra parlamentares e ministros.

A investigação apura fraudes em licitações e desvios em contratos de R$ 60 milhões do Dnit do Amapá.

A decisão da Justiça Federal que autorizou a operação descreveu as citações a Alcolumbre e apontou que não há indícios de crimes por parte do parlamentar.

"Quanto à menção ao Senador da República Davi Alcolumbre, cujo (segundo) suplente é o investigado Breno Barbosa Chaves Pinto, observo que tanto a Autoridade Policial quanto o Ministério Público Federal são categóricos em afirmar a ausência de qualquer indício de participação dolosa do parlamentar nos fatos apurados. A hipótese acusatória é de que o investigado Breno se utilizava de sua proximidade com o senador para, a pretexto de influir em atos de agente público, obter vantagens indevidas, conduta que se amolda ao tipo penal de tráfico de influência (art. 332, CP), crime este que se consuma com a mera solicitação ou obtenção da vantagem a pretexto da influência, não exigindo a participação ou ciência do funcionário público em questão", escreveu Jucelio Fleury Neto, juiz titular da 4ª Vara Federal do Amapá.

A PF diz que o superintendente do Dnit no Amapá, Marcello Linhares, favoreceu empresários nas licitações sob suspeita. Um dos favorecidos nas fraudes seria o suplente de Alcolumbre.

"Breno é considerado figura central no esquema criminoso, operando como agente ativo de ingerência institucional no Dnit/AP. Ele se valia de sua influência política (segundo suplente do senador Davi Alcolumbre) e de sua relação pessoal com o Superintendente Marcello Vieira Linhares", diz a decisão.

As investigações financeiras demonstraram, segundo a Operação Route, "vultosos e sucessivos saques em espécie, que ultrapassam R$ 3 milhões, das contas de suas empresas, em datas próximas a pagamentos de contratos públicos, configurando indícios de lavagem de capitais".

Outro investigado, o superintendente do Dnit no Amapá, Marcello Vieira Linhares, foi afastado do cargo. Ele seria "o vértice público do esquema, utilizando-se de seu cargo para direcionar os certames em favor das empresas dos demais investigados".

A análise de dados telemáticos, segundo a investigação, "revela diálogos e troca de documentos sigilosos entre o superintendente do Dnit e procuradores das empresas antes mesmo da publicação dos editais, além do uso de linguagem cifrada e comportamento destinado a ocultar as tratativas ilícitas, como o ato de apagar mensagens trocadas".

A Operação Route cumpriu nesta terça, 22, onze mandados de busca e apreensão. Os desvios teriam ocorrido em licitações e contratos para manutenção e recuperação da rodovia BR-157.

COM A PALAVRA, O DNIT

Em nota oficial, o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) informou que "colabora com a investigação, visando a completa elucidação dos fatos".

"As instâncias de integridade da autarquia também estão apurando os fatos a fim de adotar as medidas administrativas que forem necessárias. O Departamento repudia qualquer prática fraudulenta ou ato de corrupção e conta com uma Política Antifraude e Anticorrupção que, entre outros aspectos, deixa clara essa premissa. O DNIT está em permanente contato com os órgãos de controle e reafirma que pauta sua atuação dentro da legalidade e lisura, respeitando todos os princípios éticos da administração pública."

COM A PALAVRA, BRENO BARBOSA CHAVES PINTO

Até a publicação deste texto, a reportagem buscou contato com a defesa, mas sem sucesso. O espaço segue aberto.

Deputados da oposição ergueram uma bandeira de apoio ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante entrevista em que protestaram contra decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). O dirigente da casa legislativa proibiu duas comissões da Casa de realizarem sessões que homenageariam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Delegado Caveira (PL-PA) e Sargento Fahur (PSD-PR) drapearam a bandeira com os dizeres "Trump Make America Great Again (lema da campanha do americano)". Ao ver a frase, o líder da oposição, Zucco (PL-RS), demoveu os parlamentares. "Estou te pedindo por favor para não fazer isso. Pode prejudicar", disse.

O presidente da Comissão de Segurança Pública, Paulo Bilynskyj (PL-SP), disse que a bandeira foi retirada por não ser o "foco da reunião" desta terça-feira, 22.

Bolsonaristas tentam se afastar da ideia de que foram Bolsonaro e o filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) os responsáveis pela imposição de 50% sobre todos os produtos brasileiros pelo governo americano.

O próprio Bolsonaro negou isso. "Isso é lá do governo Trump. Não tem nada a ver com a gente. Querem colar na gente os 50%. Mentira", disse. "Eu não tenho contato com autoridades americanas."

Eduardo, porém, disse nesta segunda-feira, 21, que a possibilidade da imposição de tarifas foi discutida em reuniões que ele teve com autoridades do governo dos Estados Unidos antes do anúncio da medida.

Investigadores da PF entendem que as ações de Bolsonaro tiveram um resultado concreto contra o governo brasileiro, com a promessa de imposição do tarifaço de 50% por Trump aos produtos exportados pelo Brasil.

A investigação apontou que o próprio ex-presidente passou a vincular publicamente a revogação dessa medida com a aprovação de uma anistia aos acusados de golpe. Nos autos constam postagens nas redes sociais e entrevistas concedidas por Eduardo e Jair Bolsonaro.

Os colegiados de Segurança Pública e de Relações Exteriores - presidido por Filipe Barros (PL-PR) - fariam sessão nesta terça-feira para aprovar uma moção de louvor a Bolsonaro. Depois de conversar com lideranças da oposição, Motta decidiu por proibir a sessão.

O líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), disse que a decisão de Motta é "ilegal". "Temos subserviência até para submeter a uma decisão ilegal. Eu não sei até quando", disse.

Deputados bolsonaristas colocaram uma placa com o nome do ex-presidente na mesa do plenário onde ocorreria a sessão. O deputado General Pazuello (PL-RJ) advertiu Zucco sobre o item, afirmando que poderia "dar problema" caso continuasse sendo exibido na Casa.

Em tese, a Câmara não está oficialmente em recesso. Para isso, seria necessário que o Congresso votasse a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) - o que não ocorreu, algo que vem acontecendo com frequência nos últimos anos.

Mesmo assim, os presidentes da Câmara e do Senado adotam um "recesso branco", em que a pauta de todo o Legislativo federal é desocupada no mesmo período que deveria ser do recesso: duas semanas.

É em razão do recesso branco que as comissões podem funcionar normalmente neste período.