Eleições na Alemanha: que horas sai o resultado, quem deve vencer e o que está em jogo?

Internacional
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Os alemães irão escolher neste domingo, 23, o próximo chanceler e a nova formação do Parlamento do país para os próximos quatro anos. O futuro governo terá de lidar com desafios internos, como a reforma do sistema migratório do país e uma modernização da economia, além de tópicos de política externa, como a coordenação da resposta da União Europeia (UE) à presidência de Donald Trump nos Estados Unidos e a guerra na Ucrânia.

Segundo as pesquisas de opinião, o favorito para suceder Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD), é Friedrich Merz, da União Democrática Cristã (CDU), partido conservador tradicional. Apesar da liderança de Merz nas pesquisas, a legenda de extrema direita, Alternativa para a Alemanha (AfD) está em segundo lugar nas sondagens, o que deve prejudicar as negociações para a formação de um governo, já que todos os principais partidos do país se recusam a formar uma coalizão com a AfD - uma estratégia criada desde o fim da 2ª Guerra para impedir o retorno de extremistas ao poder após a derrota do nazismo.

A eleição é importante para a definição do futuro da Europa. A Alemanha é a maior economia do continente e a nação mais populosa da UE. O bloco tem sofrido com ameaças de tarifas de Donald Trump e foi deixado para escanteio durante as negociações entre o republicano e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, para o fim da guerra na Ucrânia.

"Os resultados desta eleição devem moldar a direção futura da Alemanha e também da Europa", avalia Judy Dempsey, pesquisadora sênior do Carnegie Endowment for International Peace, uma think-tank de política externa. Em uma análise no site da entidade, Dempsey destaca que a volta de Trump à Casa Branca ressalta a necessidade da liderança alemã. "Trump está desmantelando as instituições multilaterais do mundo pós-1945 e uma Alemanha forte e confiante pode dar à UE uma liderança há muito esperada".

Horários

As urnas devem abrir às 8h no horário local (4h no horário de Brasília) e fechar às 18h (14h no horário de Brasília). Os alemães também podem votar por correio, mas suas cédulas devem chegar no horário do fechamento dos locais de votação no dia das eleições para serem contadas.

A contagem de votos começa imediatamente após o fim da votação e os resultados de boca de urna serão divulgados horas depois. Um resultado oficial é esperado na manhã de segunda-feira, 24.

Temas

Economia e imigração são os principais temas deste período eleitoral na Alemanha.

O país não registra um crescimento econômico significativo há cinco anos e está passando por uma crise energética que aumentou os preços de eletricidade desde que a Rússia parou de fornecer gás natural para Alemanha. Berlim também sofre com falta de profissionais qualificados e não investiu em projetos de longo prazo, como linhas ferroviárias e internet de alta velocidade.

Já a imigração se tornou um tema importante no cenário político da Alemanha por conta de diversos ataques terroristas cometidos por cidadãos de países como Afeganistão e Síria.

Merz diz que a Alemanha tem tido uma "política equivocada de asilo e imigração" há uma década - desde que Angela Merkel, uma chanceler do seu próprio partido, permitiu a entrada de um grande número de imigrantes no país.

O governo de Olaf Scholz afirmou que muita coisa já mudou. O atual chanceler instituiu controles temporários em todas as fronteiras da Alemanha e afirma que reforçou muitas leis para facilitar as deportações.

As autoridades disseram que 229.751 pessoas solicitaram asilo na Alemanha no ano passado, uma diminuição de 30% em relação ao ano anterior. Houve 18.384 deportações nos primeiros 11 meses do ano, em comparação com 16.430 em todo o ano de 2023.

Candidatos

Quatro candidatos concorrem para ser o próximo chanceler da Alemanha: o atual chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), Friedrich Merz, do partido conservador União Democrática Cristã (CDU), Alice Weidel, do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD) e o atual vice-chanceler Robert Habeck, do Partido Verde.

Merz está na liderança das pesquisas com 30% dos votos, seguido de Alice Wiedel, da AfD, com 20%. Scholz está em terceiro, seguido pelo Partido Verde.

Scholz está no cargo desde dezembro de 2021 e foi prefeito de Hamburgo e ministro do Trabalho antes de assumir a função de chanceler. No cargo mais alto da Alemanha, Scholz lançou um esforço para modernizar as Forças Armadas da Alemanha após a invasão da Ucrânia e fez do país o segundo maior fornecedor de armas da Kiev. O seu governo caiu em novembro em meio a discussões sobre como revitalizar a economia.

Já Merz, o líder da oposição alemã, é o favorito para chegar ao cargo de chanceler. Ele se tornou líder da CDU depois que a ex-chanceler Angela Merkel deixou o cargo. O político levou o seu partido para uma direção mais conservadora e quer reduzir a imigração ilegal na Alemanha.

Um partido que pode surpreender no pleito é o Alternativa para a Alemanha, de extrema direita. A legenda tem uma plataforma anti-imigração e tem como sua líder a economista Alice Wiedel, de 46 anos. Wiedel se juntou ao AfD pouco depois da criação do partido, em 2013 e é uma das líderes da legenda no Parlamento alemão desde 2017. O AfD está em segundo nas pesquisas de opinião, mas todos os partidos tradicionais ressaltam que não irão formar uma coalizão com a legenda de extrema direita.

Formação de governo

Ainda não está claro como o novo governo será formado. A facilidade de formar um governo pode depender, em parte, de quantos partidos farão parte do novo Parlamento.

Há 29 partidos nas urnas, mas é provável que entre cinco e oito deles obtenham votos suficientes para ganhar assentos no Parlamento. Na maioria dos casos, os partidos devem obter pelo menos 5% dos votos para obter uma parcela dos assentos. A Bundestag, ou Câmara baixa do parlamento, tem 630 membros.

Após a eleição, os partidos devem formar uma coalizão. Não existe um limite de tempo definido para este processo. Após a formação do governo, a Bundestag poderá eleger o novo chanceler.

Merz afirmou que, caso vença, espera formar um novo governo até meados de abril. Scholz permanece como chanceler de forma interina até que a Bundestag eleja seu substituto. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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A Faculdade de Direito da USP realizou na manhã desta sexta-feira, 25, um ato em defesa da soberania nacional. A mobilização foi motivada pela decisão do governo de Donald Trump de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

Segundo a organização, mais de 250 entidades da sociedade civil aderiram à manifestação, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Vladimir Herzog. Cerca de mil pessoas participaram do evento no Salão Nobre da faculdade, que estava lotado e decorado com bandeiras do Brasil, faixas verde e amarelas e banners com os dizeres "Soberania" e "Democracia".

A convocação foi assinada pelo diretor da Faculdade de Direito, Celso Campilongo, e pela vice-diretora Ana Elisa Bechara. Ana participou da leitura da Carta em Defesa da Soberania Nacional, ao lado da psicóloga Cida Bento, autora do livro O Pacto da Branquitude.

Um dos trechos do documento afirma: "Neste grave momento, em que a soberania nacional é atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil se mobiliza, mais uma vez, na defesa da cidadania, da integridade das instituições e dos interesses sociais e econômicos de todos os brasileiros".

Antes da leitura da carta, Campilongo alertou para o risco de violação de princípios básicos do Direito Internacional. "A soberania nacional, o respeito aos direitos básicos do Direito Internacional estão sendo solapados por esta situação de constrangimento, de ameaça, de abuso de poder - de um lado político, mas, juntamente com este poder político, também de um poder econômico."

Estiveram presentes no evento diversas figuras da política brasileira, como Aloizio Mercadante, presidente do BNDES; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Edinho Silva, presidente eleito do PT; e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O deputado Hélio Lopes (PL-RJ) montou uma barraca na Praça dos Três Poderes em protesto contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Lopes ainda colocou um esparadrapo na boca sustentando que a liberdade de expressão está ameaçada no País.

O deputado publicou nas redes sociais uma carta aberta em que diz que o Brasil "não é mais uma democracia". "Não estou aqui para provocar. Estou aqui para demonstrar a minha indignação com essas covardias. Não estou incentivando ninguém a fazer o mesmo", disse.

Questionado pela reportagem por que ele resolveu se acampar, ele se manteve calado.

Diante de novas perguntas, o deputado reagiu gesticulando negativamente, manifestando o desejo de permanecer sem falar, com a mordaça na boca, enquanto lia o capítulo de Provérbios, do Velho Testamento da Bíblia.

Apesar de declarar-se em silêncio, a conta do parlamentar nas redes sociais continuaram ativas e, por lá, ele se manifestava: "Muito obrigado pelas mensagens de carinho. Mesmo em silêncio, tenho sentido cada palavra, cada oração e cada apoio que chega de todos os cantos do Brasil", escreveu em sua conta o X.

A manifestação chamou a atenção de poucos transeuntes, em sua maioria bolsonaristas. O primeiro político a chegar foi o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que deu um abraço no deputado e disse que irá acampar ao lado de Lopes.

"Estamos procurando uma forma de mostrar ao Brasil o que está acontecendo", disse. Segundo ele, ainda que Lopes tenha dito que não está "incentivando ninguém a fazer o mesmo", num futuro breve poderiam ter outras dezenas de acampamentos na Praça dos Três Poderes.

A Polícia Militar do Distrito Federal acionou a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal, conhecida como DF Legal, dizendo que acampamentos não podem ficar na área da Praça, a mesma que foi invadida nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

O deputado se recusou a sair e policiais discutem qual a melhor estratégia a ser adotada neste momento.

Bolsonaro disse que passaria perto da manifestação de Lopes, mas não iria parar "senão politiza".

Na avaliação do ministro dos Transportes, Renan Filho, a família Bolsonaro tem caminhado cada vez mais para a extrema direita e, por isso, o governo do presidente Lula deve ocupar mais o centro, visando as eleições presidenciais do ano que vem.

Em conversa com a imprensa após participar de um painel na XP Expert, em São Paulo, Renan Filho destacou que "há muita possibilidade" de isolar o bolsonarismo na extrema-direita, principalmente após o deputado Eduardo Bolsonaro ter se licenciado de seu mandato e mudado para os Estados Unidos.

"É um ataque que está sendo feito à própria democracia", disse Renan Filho, em relação às negociações de Eduardo Bolsonaro nos EUA que culminaram na imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros.

Para Renan Filho, é possível "reconstituir uma frente ampla", apresentando um projeto para o País que agregue, além da centro-esquerda, uma parte maior do próprio centro.