Lula telefona para Macron e defende solução para guerra na Ucrânia que envolva Zelenski e Putin

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o da França, Emmanuel Macron, defenderam nesta terça-feira, dia 18, que a solução para a guerra na Ucrânia envolva tanto o presidente russo, Vladimir Putin, quanto o ucraniano, Volodmir Zelenski. Lula e Macron mantiveram um contato por telefone, para discutir negociações de paz em andamento, e outros tópicos da agenda internacional.

O francês lidera um esforço diplomático presidencial para que os possíveis entendimentos de paz discutidos globalmente não sejam favoráveis a Moscou - o que significaria uma derrota para a Ucrânia e, na visão europeia, colocaria em risco a segurança de outros países do continente vizinhos da Rússia.

"Expressei minha preocupação com o cenário internacional e reafirmei o compromisso do Brasil com a promoção da paz e a defesa da democracia. Nós dois reconhecemos a importância de uma solução para a guerra na Ucrânia que inclua a participação de todas as partes envolvidas no conflito", afirmou Lula, em relato nas redes sociais.

"Compartilhamos a convicção de que a paz na Ucrânia só será possível por meio de negociações que reúnam Rússia e Ucrânia à mesma mesa. A paz é possível, e a comunidade internacional deve se mobilizar", escreveu Macron, no X.

A manifestação de ambos ocorre no momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, lidera diálogos diretos com Putin e fomenta negociações para encerrar a guerra, sem que a Ucrânia esteja diretamente envolvida nas conversas.

Macron e líderes de outros países europeus, entre eles o Reino Unido, discutiram a situação nesta segunda-feira, dia 17. Eles saíram em defesa de Zelenski e estudam até enviar tropas de paz para a linha de contato no campo de batalha entre forças russas e ucranianas.

Durante o governo de Joe Biden, os EUA e a Europa, principais apoiadores financeiros e bélicos de Kiev, sempre defenderam que a voz ucraniana deveria ser ouvida na tomada de decisões sobre a guerra.

O temor europeu é que Trump retire de vez o apoio americano e defenda, como integrantes de seu governo já sinalizaram, que a Ucrânia deve ser realista na expectativa de recuperar o território tomado à força pelos russos. O cenário de perda de terreno seria uma vitória para Putin. O republicano prometeu várias vezes encerrar a guerra de forma breve se voltasse à Casa Branca.

As conversas entre Estados Unidos e Rússia ocorrem às vésperas de a guerra completar três anos, em 24 de fevereiro. Nesta terça, enviados de Trump e Putin se reuniram em Riade, na Arábia Saudita.

Do lado americano, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, chefiou a delegação ao lado do conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o enviado especial para o Oriente Médio, Steve Witkoff. Do lado russo, o ministro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov, chefiou a comitiva com Yuri Ushakov, conselheiro de política externa de Vladimir Putin e Kirill Dmitriev, chefe do fundo soberano da Rússia.

Eles anunciaram a criação de uma equipe de alto nível para negociar a paz na Ucrânia. Moscou afirmou que há "desejo mútuo" de iniciar negociações de paz. Washington ressaltou que ambos os lados devem oferecer concessões para um acordo. Eles também exploraram a possibilidade de um encontro entre Trump e Putin.

No ano passado, Lula desautorizou o engajamento de representantes do governo brasileiro em discussões sobre paz que não levassem em consideração os argumentos dos dois lados em guerra. A preocupação era com a tentativa ocidental de isolar a Rússia e Vladimir Putin.

Diversas conferências e reuniões foram promovidas para debater os princípios e a "fórmula de paz" pretendidas por Kiev e Volodmir Zelenski. Desde 2022, países europeus organizavam essas reuniões multilaterais em apoio aos ucranianos - e o petista chegou a enviar o ex-chanceler Celso Amorim para representá-lo.

Lula se ausentou, por exemplo, de convites para uma conferência na Suíça e ignorou apelos ucranianos para que Zelenski fosse convidado à Cúpula do G-20, no Rio. Ele também rejeitou pedidos para que visitasse a Ucrânia e acabou não indo ao encontro de Putin na Rússia, durante a cúpula do Brics, por causa de um acidente doméstico.

O petista chegou a se oferecer como potencial mediador da guerra, mas declarações dele equiparando responsabilidades aos dois presidentes, consideradas enviesadas, e gestos públicos em favor dos russos complicaram sua posição. Embora os russos o elogiassem, em janeiro, após reiteradas críticas, Zelenski descartou o envolvimento de Lula.

Ao lado da China, o Brasil chegou a assinar um documento com proposta de seis pontos para chegar a um cessar-fogo, que falava abertamente na "retomada do diálogo direto".

"O Brasil e China apoiam uma conferência internacional de paz realizada em um momento apropriado, que seja reconhecida tanto pela Rússia quanto pela Ucrânia, com participação igualitária de todas as partes relevantes, além de uma discussão justa de todos os planos de paz", dizia o plano, interpretado à época como favorável a Moscou, e criticado por Kiev.

COP-30 e visita de Estado

Conforme o governo brasileiro, "os dois presidentes se comprometeram a discutir iniciativa conjunta voltada para ampliar o financiamento climático disponível para países em desenvolvimento", um dos temas da COP-30, em Belém (PA), que marca os 10 anos do Acordo de Paris.

"Trabalharemos para que a COP de Belém seja um sucesso e temos, juntos, diversas iniciativas em prol do clima, da biodiversidade, dos oceanos, da democracia e do desenvolvimento econômico e agrícola", escreveu o francês.

Em junho, Lula viajará novamente à França. O petista passará quatro dias no país. O Palácio do Planalto informou que o presidente aceitou convite de Macron para fazer uma visita de Estado nos dias 6 e 7 de junho e também confirmou presença na Conferência das Nações Unidas sobre Oceanos, em Nice, nos dias 8 e 9 de junho.

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A Faculdade de Direito da USP realizou na manhã desta sexta-feira, 25, um ato em defesa da soberania nacional. A mobilização foi motivada pela decisão do governo de Donald Trump de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

Segundo a organização, mais de 250 entidades da sociedade civil aderiram à manifestação, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Vladimir Herzog. Cerca de mil pessoas participaram do evento no Salão Nobre da faculdade, que estava lotado e decorado com bandeiras do Brasil, faixas verde e amarelas e banners com os dizeres "Soberania" e "Democracia".

A convocação foi assinada pelo diretor da Faculdade de Direito, Celso Campilongo, e pela vice-diretora Ana Elisa Bechara. Ana participou da leitura da Carta em Defesa da Soberania Nacional, ao lado da psicóloga Cida Bento, autora do livro O Pacto da Branquitude.

Um dos trechos do documento afirma: "Neste grave momento, em que a soberania nacional é atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil se mobiliza, mais uma vez, na defesa da cidadania, da integridade das instituições e dos interesses sociais e econômicos de todos os brasileiros".

Antes da leitura da carta, Campilongo alertou para o risco de violação de princípios básicos do Direito Internacional. "A soberania nacional, o respeito aos direitos básicos do Direito Internacional estão sendo solapados por esta situação de constrangimento, de ameaça, de abuso de poder - de um lado político, mas, juntamente com este poder político, também de um poder econômico."

Estiveram presentes no evento diversas figuras da política brasileira, como Aloizio Mercadante, presidente do BNDES; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Edinho Silva, presidente eleito do PT; e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O deputado Hélio Lopes (PL-RJ) montou uma barraca na Praça dos Três Poderes em protesto contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Lopes ainda colocou um esparadrapo na boca sustentando que a liberdade de expressão está ameaçada no País.

O deputado publicou nas redes sociais uma carta aberta em que diz que o Brasil "não é mais uma democracia". "Não estou aqui para provocar. Estou aqui para demonstrar a minha indignação com essas covardias. Não estou incentivando ninguém a fazer o mesmo", disse.

Questionado pela reportagem por que ele resolveu se acampar, ele se manteve calado.

Diante de novas perguntas, o deputado reagiu gesticulando negativamente, manifestando o desejo de permanecer sem falar, com a mordaça na boca, enquanto lia o capítulo de Provérbios, do Velho Testamento da Bíblia.

Apesar de declarar-se em silêncio, a conta do parlamentar nas redes sociais continuaram ativas e, por lá, ele se manifestava: "Muito obrigado pelas mensagens de carinho. Mesmo em silêncio, tenho sentido cada palavra, cada oração e cada apoio que chega de todos os cantos do Brasil", escreveu em sua conta o X.

A manifestação chamou a atenção de poucos transeuntes, em sua maioria bolsonaristas. O primeiro político a chegar foi o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que deu um abraço no deputado e disse que irá acampar ao lado de Lopes.

"Estamos procurando uma forma de mostrar ao Brasil o que está acontecendo", disse. Segundo ele, ainda que Lopes tenha dito que não está "incentivando ninguém a fazer o mesmo", num futuro breve poderiam ter outras dezenas de acampamentos na Praça dos Três Poderes.

A Polícia Militar do Distrito Federal acionou a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal, conhecida como DF Legal, dizendo que acampamentos não podem ficar na área da Praça, a mesma que foi invadida nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

O deputado se recusou a sair e policiais discutem qual a melhor estratégia a ser adotada neste momento.

Bolsonaro disse que passaria perto da manifestação de Lopes, mas não iria parar "senão politiza".

Na avaliação do ministro dos Transportes, Renan Filho, a família Bolsonaro tem caminhado cada vez mais para a extrema direita e, por isso, o governo do presidente Lula deve ocupar mais o centro, visando as eleições presidenciais do ano que vem.

Em conversa com a imprensa após participar de um painel na XP Expert, em São Paulo, Renan Filho destacou que "há muita possibilidade" de isolar o bolsonarismo na extrema-direita, principalmente após o deputado Eduardo Bolsonaro ter se licenciado de seu mandato e mudado para os Estados Unidos.

"É um ataque que está sendo feito à própria democracia", disse Renan Filho, em relação às negociações de Eduardo Bolsonaro nos EUA que culminaram na imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros.

Para Renan Filho, é possível "reconstituir uma frente ampla", apresentando um projeto para o País que agregue, além da centro-esquerda, uma parte maior do próprio centro.