Após EUA, Israel também deixa Conselho de Direitos Humanos da ONU

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Dois dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirar novamente seu país do Conselho de Direitos Humanos da ONU, Israel decidiu seguir o exemplo e anunciou nesta quinta-feira, 6, a sua retirada do órgão. A retirada foi comunicada pelo ministro de Relações Exteriores israelense, Gideon Sa'ar, em uma carta enviada ao presidente do conselho, Jorg Lauber.

"Informei ao UNHRC (sigla em inglês do conselho) que Israel não participará mais dele. O conselho de 'direitos humanos' tem consistentemente permitido que países que abusam dos direitos humanos evitem o escrutínio, enquanto perseguem obsessivamente Israel, a única democracia no Oriente Médio", escreveu o ministro na rede social X junto com uma foto da carta.

Um dia antes, Sa'ar havia parabenizado Trump pela decisão de se retirar do órgão na terça-feira, 4. Os EUA também não retomarão o financiamento da agência da ONU que ajuda refugiados palestinos, a UNRWA.

O anúncio de Trump foi feito no dia em que ele se encontrou com o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, momento em que o americano sinalizou que os EUA poderiam "assumir" o controle da Faixa de Gaza.

Os EUA já haviam parado de financiar a UNRWA no ano passado, durante a administração Joe Biden, depois de denúncias por parte de Israel de que funcionários da organização haviam participado do ataque terrorista promovido pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.

Trump também retirou os EUA do Conselho de Direitos Humanos em junho de 2018. Sua embaixadora na ONU na época, Nikki Haley, acusou o conselho de "preconceito crônico contra Israel" e apontou o que ela disse serem violadores de direitos humanos entre seus membros.

Biden então renovou o apoio ao Conselho de Direitos Humanos, e os EUA conquistaram uma cadeira no órgão de 47 nações em outubro de 2021. Mas o governo Biden anunciou no final de setembro que os Estados Unidos não buscariam um segundo mandato consecutivo.

As retiradas de ambos os países tem pouco efeito concreto porque EUA e Israel já não são membros do conselho, mas observadores. Como todos os outros países membros da ONU, eles automaticamente têm status de observador informal e ainda terão um assento na ornamentada câmara redonda do conselho no complexo da ONU em Genebra.

Os EUA também devem rever a participação na Unesco. A agência para educação, cultura e proteção do patrimônio mundial foi citada diretamente como uma das organizações que, segundo o governo do republicano, estariam promovendo sentimentos "radicais ou anti-americanos". Antes disso, o americano já havia retirado os Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde.

Funcionamento do Conselho

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, com sede em Genebra, na Suíça, é o órgão encarregado de "fortalecer a promoção e a proteção dos direitos humanos ao redor do globo", de acordo com a ONU.

A ideia é que o Conselho sirva como um fórum para discutir questões de direitos humanos com autoridades, Estados e especialistas da ONU. Em casos de violações, o órgão pode adotar resoluções pedindo ações dos governos.

Entre as suas atribuições está ainda a revisão periódica, que analista os registros de direitos humanos de todos os Estados-membros da ONU a cada 4 anos e meio. As revisões são conduzidas por um grupo de trabalho, composto por todos os 47 membros do conselho. Este processo permite que cada Estado relate como eles melhoraram os direitos humanos em seus países e receba recomendações para melhoria, diz a ONU.

O conselho foi criado em 2006 para substituir uma comissão de direitos humanos desacreditada por causa do histórico inadequado de direitos de alguns membros. Mas o novo conselho logo enfrentou críticas similares, incluindo que abusadores de direitos buscavam assentos para se protegerem e aos seus aliados. Os EUA criticaram a seleção de candidatos com registros inadequados de direitos em chapas sem contestação.

Os EUA têm sido o defensor mais vocal de Israel e repetidamente se juntaram ao país denunciando o suposto viés anti-Israel no órgão. (Com informações da Associated Press).

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O jornalista Edward Luce, editor e colunista do jornal Financial Times, um dos principais do Reino Unido, publicou nesta terça-feira, 22, um artigo intitulado "Trump, Imperador do Brasil". O articulista criticou a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump em 9 de julho, e repreendeu a tentativa de ingerência no processo penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu por tentativa de golpe no Supremo Tribunal Federal (STF).

Para o articulista, a exemplo do que ocorreu no Canadá e na Austrália, a investida de Trump contra o Brasil acabará tendo um efeito contrário ao pretendido pelo republicano, prejudicando seu aliado e fortalecendo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "Poucas coisas unem os eleitores em torno da bandeira nacional mais rápido do que um ataque de uma superpotência à sua economia", afirmou o editor do jornal britânico.

Segundo o artigo, Trump não previu que, com as tarifas, prejudicaria as exportações do agronegócio brasileiro, isolando Bolsonaro de uma de suas principais bases de apoio. "Não é surpresa que a sorte de Lula tenha voltado", afirmou Luce.

Segundo levantamento da Genial/Quaest realizado após o anúncio das tarifas de Trump, o petista ganhou fôlego na crise de popularidade que enfrentava desde meados de 2024.

O jornalista criticou o uso de tarifas como instrumento de pressão no processo contra o ex-presidente. Para Luce, há um ímpeto "imperial" na política comercial de Trump. O jornalista criticou a política externa do republicano e repreendeu a revogação de vistos de oito dos 11 ministros do STF, anunciada pelo Secretário de Estado do país, Marco Rubio, na sexta-feira, 18.

"A atitude de Rubio é daquelas que nos fazem dizer 'Macacos me mordam!'. O ex-senador construiu sua reputação defendendo os valores democráticos dos Estados Unidos e o Estado de Direito. Agora, ele está punindo o sistema jurídico de uma democracia irmã por aplicar a lei", disse Edward Luce.

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, impôs medidas cautelares a Bolsonaro na última sexta-feira. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente tentou obstruir o curso do processo em que é réu por meio de "entraves econômicos" no relacionamento entre Brasil e Estados Unidos.

Segundo o jornalista, há um paralelo "impressionante" entre Trump e o ex-presidente brasileiro. "A diferença é que Bolsonaro está sendo responsabilizado", afirmou Luce, elogiando as instituições brasileiras no comparativo com as americanas. "Se hoje existe algum farol de democracia liberal no hemisfério de (Marco) Rubio, ele vem de Brasília e Ottawa. Por ora, Washington está fora."

Trump insuflou a invasão do Congresso americano em 6 de janeiro de 2021. O republicano foi indiciado por quatro crimes relacionados à invasão, mas não foi responsabilizado na Justiça.

No Brasil, segundo a PGR, a tentativa de golpe liderada por Bolsonaro teve seu ato final na invasão aos prédios públicos em 8 de janeiro de 2023. Para a Procuradoria, o 8 de Janeiro foi a "última esperança" da trama golpista. "O episódio foi fomentado e facilitado pela organização denunciada", afirmou a PGR ao denunciar Bolsonaro e mais sete como integrantes do "núcleo crucial" da tentativa de golpe.

O perfil oficial do Supremo Tribunal Federal (STF) republicou no X (antigo Twitter) nesta terça-feira, 22, uma entrevista do escritor norte-americano Steven Levitsky para a BBC News, em que disse que "o Brasil é um sistema mais democrático do que os Estados Unidos".

O autor do best-seller "Como as democracias morrem" e professor da Universidade de Harvard afirmou que as instituições brasileiras responderam melhor às ameaças à democracia do que as americanas em um cenário semelhante.

De acordo com Levitsky, o Brasil atuou de forma mais coordenada e firme às ameaças ocorridas durante e após as eleições de 2022 do que os Estados Unidos fizeram em relação ao presidente Donald Trump após a tentativa de invasão ao Capitólio em 2021.

O autor também destacou que o STF desempenhou um papel crucial na defesa da democracia durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), mas ressaltou que, superada a crise atual, a Corte deve retornar "ao seu devido lugar".

"Sempre que há um órgão não eleito formulando políticas, se está em um território perigoso em uma democracia", disse, em referência ao STF.

"Com relação ao processo contra Bolsonaro, pelo que posso perceber, o tribunal parece estar no seu devido lugar. Este é o trabalho do tribunal: julgar Bolsonaro e puni-lo, se ele for de fato considerado culpado", afirmou Levitsky.

A publicação da BBC News Brasil no X destacada ainda que professor avalia que aqueles que enfrentam "ameaças" e "intimidação" de Donald Trump têm mais chance de sucesso em embates comerciais e negociações de tarifa com os EUA.

Jair Bolsonaro é alvo de um novo inquérito no STF, que apura uma suposta tentativa de coagir a Justiça por meio de sanções impostas pelo governo de Donald Trump, com o objetivo de interferir no julgamento em que o ex-presidente é réu por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

O PT e outros partidos da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgaram nesta quarta-feira, 23, um manifesto de apoio ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A carta manifesta "indignação" com as sanções do governo dos Estados Unidos, comandado pelo presidente Donald Trump, contra ministros da Corte. Na sexta-feira, 18, Trump revogou os vistos de oito dos 11 ministros do Supremo. Segundo o texto, os magistrados foram sancionados "por sua atuação no cumprimento da lei".

"Este gesto indevido, agressivo e sem precedentes nas relações bicentenárias de nossos países, torna-se ainda mais grave por sua manifesta motivação política, configurando uma ingerência espúria no processo democrático brasileiro e um ataque à soberania nacional", afirma o texto.

A nota é assinada por presidentes de sete partidos políticos. São os signatários o senador Humberto Costa (PE), presidente nacional do PT; o prefeito de Recife, João Campos, presidente nacional do PSB; o ex-ministro Carlos Lupi, presidente nacional do PDT; a historiadora Paula Coradi, presidente nacional do PSOL; a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, presidente nacional do PSOL; o ex-secretário de São Paulo, José Luiz Penna, presidente nacional do PV; e o ex-deputado Comte Bittencourt, presidente nacional do Cidadania.

O STF é alvo de críticas do governo dos Estados Unidos desde 7 de julho, quando Trump manifestou apoio a Bolsonaro e declarou que o processo na Justiça brasileira contra o ex-presidente é uma "caça às bruxas". Bolsonaro é réu no STF por tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022.

Em 9 de julho, Trump anunciou tarifas de 50% a produtos brasileiros. O manifesto divulgado pelos partidos da base de Lula repudia que "interesses políticos" integrem as negociações sobre as taxas. Segundo o texto, a discussão deve ser pautada pela seara comercial, "como propõem o governo e o setor produtivo do Brasil".

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, impôs medidas cautelares a Bolsonaro na última sexta-feira, 18. Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente tentou obstruir o curso do processo em que é réu por meio de "entraves econômicos" no relacionamento entre Brasil e Estados Unidos.

Leia a íntegra do manifesto

Recebemos com profunda indignação a notícia de que o governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, determinou sanções unilaterais a ministros do Supremo Tribunal Federal do Brasil por sua atuação no cumprimento da lei, na defesa da Constituição de nosso país e da nossa democracia.

Este gesto indevido, agressivo e sem precedentes nas relações bicentenárias de nossos países, torna-se ainda mais grave por sua manifesta motivação política, configurando uma ingerência espúria no processo democrático brasileiro e um ataque à soberania nacional.

A ação penal no STF sobre a tentativa de golpe e os atentados de 8 de janeiro de 2023 transcorre estritamente no devido processo legal, inclusive com ampla garantia do contraditório. As tentativas de coação da Justiça neste processo, venham de onde vierem, recebem o repúdio da sociedade brasileira.

As retaliações agora anunciadas seguem-se a sanções e ameaças de natureza tarifária e comercial, que foram igualmente contaminadas por interesses políticos, quando deveriam ser objeto de negociação como propõem o governo e o setor produtivo do Brasil.

Manifestamos irrestrita solidariedade aos ministros do STF, ao mesmo tempo em que reafirmamos a defesa irrenunciável da soberania nacional e das nossas instituições.

Brasília, 22 de julho de 2025

Humberto Costa - PT

João Campos - PSB

Carlos Lupi - PDT

aula Coradi - PSOL

Luciana Santos - PCdoB

José Luiz Penna - PV

Comte Bittencourt - Cidadania