O presidente do Instituto Voto Legal, Carlos Cesar Moretzsohn Rocha, negou ter vazado informações sobre "fraude nas urnas" durante o processo eleitoral. Ao Supremo Tribunal Federal, em depoimento nesta quinta, 24, ele alegou que era responsável apenas por uma "auditoria técnica" contratada pelo PL e não tratou de "fraudes" para tentar deslegitimar as eleições de 2022 em favor de Jair Bolsonaro.
"Tratamos de problemas técnicos e não falamos de fraude em hipótese alguma. Pela seguinte razão: não cabe ao auditor identificar causas das desconformidades encontradas", declarou Carlos Moretzsohn à juíza auxiliar Luciana Sorrentino, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT), que atua no gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator da ação do golpe.
"No nosso relatório não existe desinformação, apenas fatos constatados e documentados sobre o que estava presente na urna", ele enfatizou.
Moretzsohn afirmou que "não cabia ao Instituto Voto Legal tratar de fraude ou falhas de programação."
No período eleitoral, o Instituto forneceu serviços ao PL para acompanhar o pleito. Foi com base no relatório do Voto Legal que a legenda protocolou uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral.
Segundo a PGR, o documento aduzia, falsamente, que cinco modelos de urnas "apontaram a repetição de um mesmo número de identificação, quando, na verdade, deveriam apresentar um número individualizado no campo do código de identificação da urna".
"O objetivo foi garantir que tudo ocorria dentro das normas técnicas e boas práticas. Era contribuir para a confiança do sistema", alegou o presidente do Voto Legal.
A denúncia narra que Carlos Moretzsohn Rocha subcontratou a empresa de Éder Lindsay Magalhães Balbino, para fornecimento do suporte técnico de análise de dados. Segundo a acusação, ele selecionava teses hipotéticas de indícios de fraude nas urnas eletrônicas para testá-las junto com Balbino.
Segundo a denúncia, o presidente do Instituto Voto Legal cobrou uma resposta objetiva de Éder Balbino sobre a viabilidade da tese de que Bolsonaro 'teria vencido as eleições' se apenas as urnas fabricadas em 2020 tivessem sido usadas no pleito.
Para a PGR, ele sabia das inconsistências das alegações de fraudes nas urnas, mas teria vazado um relatório para a imprensa. O documento do instituto serviu de base para a petição protocolada pelo PL, ao fim das eleições, em que pedia a invalidação dos votos decorrentes dos modelos de urnas que teriam "erros na leitura dos votos".
De acordo com o então comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Baptista Junior, o mesmo documento chegou a ser apresentado na reunião entre os comandantes das Forças Armadas, o ministro da Defesa à época, general Paulo Sérgio, e o ex-presidente.
Para a PGR, as provas colhidas pela Polícia Federal "revelam que os denunciados tinham ciência de que as cogitadas fraudes nas urnas eletrônicas não existiam".
Antes de Carlos Moretzsohn Rocha, foi ouvido o major da reserva do Exército Ângelo Denicoli, acusado de ter auxiliado na produção de um relatório com informações falsas sobre o processo eleitoral e de ter feito contato com o influenciador argentino Fernando Cerimedo, autor de publicações atacando as urnas eletrônicas.
Durante o depoimento, a defesa de Denicoli exerceu, de forma parcial, o direito de permanecer em silêncio. Ele respondeu apenas às perguntas da juíza. O militar se limitou a ressaltar que "não fez auditoria ou ataques às urnas eletrônicas".
"Não sou estatístico, não sou muitíssimo, e não tenho qualificação para fazer auditoria em urna ou em qualquer tipo de sistema."
De acordo com a denúncia da PGR, Denicoli "fazia o elo do grupo criminoso com o influenciador Fernando Cerimedo".
A investigação aponta que uma pasta no serviço de nuvem Google Drive, disponibilizada pelo argentino, foi "alimentada com arquivo de autoria".
Os diálogos de WhatsApp encontrados no aparelho celular do tenente-coronel Mauro Cid - ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator na ação do golpe - reforçaram a proximidade entre Denicoli e Cerimedo.
Sem responder às perguntas da PGR e dos advogados, Denicoli afirmou que não tinha ligações com o grupo e apenas trabalhava com "consultoria".