Cessar-fogo em Gaza começa após Hamas atrasar entrega de lista de reféns a Israel

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Previsto para começar na madrugada deste domingo, na Faixa de Gaza, o cessar-fogo firmado entre o governo de Israel e o grupo terrorista Hamas começou quase três horas depois do previsto. Originalmente a trégua começaria às 3h30 (horário de Brasília, 8h30 no horário local), mas acabou começando às 6h15 após o governo do premiê Binyamin Netanyahu ter recebido com atraso a lista de reféns a serem libertados hoje pelo Hamas.

O Hamas justificou que o atraso se deveu a "motivos técnicos", garantiu permanecer comprometido com o acordo e encaminhou a lista horas depois. A libertação está prevista para as 11h.

O conflito se arrasta há 15 meses, desde 7 de outubro de 2023, quando um ataque do Hamas matou cerca de 1,2 mil pessoas e rendeu 251 reféns. Desde o início da ofensiva israelense contra os terroristas, mais de 46 mil palestinos foram mortos, segundo dados do Hamas, que não podem ser verificados.

O governo de Netanyahu aprovou o acordo na madrugada do sábado, 18, horário local, após reunião que durou horas, ultrapassando o início do Sabbat (sábado judaico), em que o governo geralmente interrompe todas as atividades, exceto em casos de emergência.

Mediado por Estados Unidos, Catar e Egito, o cessar-fogo é a segunda trégua no conflito e teve a aprovação de 24 ministros israelenses e oito votos contrários. Pelo acordo, haverá três fases, e a troca de reféns sequestrados pelo Hamas por prisioneiros palestinos estava prevista para começar ainda nesta manhã. Veja a seguir o que foi estabelecido na proposta de cessar-fogo se tudo der certo.

Primeira fase

A primeira etapa do cessar-fogo tem previsão de 42 dias. Durante esse período, o Hamas se comprometeu a liberar 33 reféns israelenses. Entre eles estariam pelo menos cinco soldados, além de mulheres, crianças, idosos e doentes.

O gabinete de Netanyahu deve anunciar os nomes dos sequestrados libertados em cada dia do cessar-fogo. O Fórum de famílias de reféns de Israel anunciou a identidade dos 33 reféns que devem ser libertados na primeira fase. Embora não tenha confirmação do estado de saúde dos reféns, o governo israelense acredita que a maioria dos sequestrados eseja viva.

Informações iniciais dão conta de que Israel se comprometeu a libertar 30 prisioneiros para cada refém civil e 50 para cada refém militar. A lista de prisioneiros inclui terroristas condenados que estão cumprindo prisão perpétua. Em comunicado, o Ministério da Justiça de Israel afirmou que o previsto é liberar cerca de 737 prisioneiros.

No entanto, segundo números divulgados pelo Egito, a liberação de prisioneiros palestinos deve ser de 1,8 mil pessoas, que podem incluir prisioneiros que não estão sob o sistema de justiça israelense, como palestinos detidos pelas Forças de Defesa de Israel.

Ao final da primeira fase, a expectativa é de que todos os reféns civis - vivos ou mortos - terão sido libertados. Todas as mulheres e menores de 19 anos detidos por Israel serão libertados nesta fase, segundo o acordo.

O acordo também prevê que todos os prisioneiros palestinos condenados por ataques letais sejam exilados em Gaza ou no exterior, sendo proibidos de retornar a Israel ou à Cisjordânia. O documento indica que alguns terão que se exilar por três anos, enquanto outros de forma permanente.

Durante esse período também é esperado ainda que as forças israelenses se afastem de áreas mais densamente povoadas da Faixa de Gaza, permitindo o retorno de civis deslocados e aumento da ajuda humanitária.

A previsão é que aproximadamente 600 caminhões por dia entrem no território, dando alívio para a crise humanitária que devasta a região.

Segundo informações da mídia local, centenas de caminhões de ajuda carregando materiais de socorro estão estacionados na passagem de fronteira de Rafah.

Segundo o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahmane Al-Thani, os detalhes das fases seguintes do acordo serão divulgados após a conclusão da primeira etapa.

Segunda fase

Os detalhes da segunda fase serão negociados ao longo da primeira. As previsões apontam que, a partir do 16º dia de cessar-fogo, as partes comecem as negociações para uma declaração de "cessação permanente das hostilidades".

Nessa etapa, o Hamas deve liberar o restante dos reféns em troca de mais prisioneiros palestinos. Os números ainda não estão definidos. Das 251 pessoas sequestradas pelo Hamas, 94 ainda estão como reféns em Gaza, das quais 34 morreram, de acordo com o exército de Israel.

Essa etapa prevê ainda a retirada das forças israelenses da Faixa de Gaza. Durante meses, o Hamas exigiu que Israel se comprometesse a encerrar a guerra, mas o país resiste.

Do outro lado, a preocupação do Hamas é que Israel volte a atacar o enclave palestino depois da entrega dos reféns, já que o acordo não inclui garantias por escrito de que o cessar-fogo continuará até o fim, sinalizando que as forças israelenses poderiam retomar sua ofensiva militar depois da primeira fase.

Terceira fase

Na última etapa do acordo, o Hamas entregaria os corpos dos reféns israelenses mortos na Faixa de Gaza.

Nessa fase, está prevista a implementação de um plano, supervisionado pela comunidade internacional, para reconstruir a Faixa de Gaza dentro de três a cinco anos. No entanto, de acordo com estimativas da ONU, a reconstrução total pode levar mais de 350 anos se o bloqueio permanecer.

Os bombardeios israelenses e as operações terrestres transformaram bairros inteiros de várias cidades em terrenos baldios cobertos de entulho, com cascas enegrecidas de edifícios e montes de detritos se estendendo em todas as direções.

As principais estradas foram danificadas. A infraestrutura crítica de água e eletricidade está em ruínas. A maioria dos hospitais do enclave não funciona mais.

A ONU ainda estima que a guerra tenha espalhado em Gaza mais de 50 milhões de toneladas de entulho -aproximadamente 12 vezes o tamanho da Grande Pirâmide de Giza.

Com mais de 100 caminhões trabalhando em tempo integral, levaria mais de 15 anos para remover os escombros, e há pouco espaço aberto no estreito território costeiro que abriga cerca de 2,3 milhões de palestinos.

Nessa fase, seriam reabertas passagens na fronteira para entrada e saída do enclave palestino. O acordo também não indica quem governará Gaza após a guerra, ou se Israel e Egito suspenderão o bloqueio que limita o movimento de pessoas e bens. Esse boicote foi imposto quando o Hamas tomou o poder em 2007.

Netanyahu considera cessar-fogo como "temporário"

No sábado, Netanyahu afirmou que Israel está tratando o cessar-fogo como "temporário" e mantém o direito de continuar lutando, se necessário. Em pronunciamento, ele informou que tinha o apoio do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, com quem disse ter conversado na quarta-feira.

Os ataques aéreos israelenses no território palestino continuaram neste sábado; Segundo informações do Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, cerca de 23 pessoas foram mortas nos últimos ataques.

Pressão interna

O ministro da Segurança Pública de Israel, Itamar Ben-Gvir, afirmou que sairá do governo após a aprovação do acordo.

Ben-Gvir chamou o acordo de "imprudente" e disse que a maior parte do seu partido, de extrema-direita, se retirará do governo.

Sua renúncia não interrompe o cessar-fogo, mas a medida desestabiliza o governo Netanyahu, em um momento delicado e pode eventualmente levar ao seu colapso se Ben-Gvir for acompanhado por outros aliados importantes.

Corredor de Netzarim fica fechado na primeira semana de cessar-fogo

Segundo informações da Associated Press (AP), o corredor Netzarim - que atravessa o centro de Gaza - permanecerá fechado durante os primeiros sete dias do cessar-fogo, conforme anunciado por uma fonte do alto escalão militar de Israel.

Israel atualmente ocupa o corredor Netzarim, do mar até a fronteira com Israel, e deve começar a se retirar após uma semana de cessar-fogo, mas o oficial não deu detalhes sobre o que acontecerá depois disso.

Grande parte da população de Gaza foi deslocada pela guerra para o Sul e outras regiões, e muitos palestinos estão ansiosos para retornar ao que restou de suas casas.

Obstáculos para ajuda humanitária

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a distribuição de ajuda humanitária em Gaza enfrentará muitos obstáculos.

Segundo Guterres, os desafios da distribuição de ajuda incluem gangues que estão "saqueando sistematicamente os comboios", bem como a degradação total de Gaza e sua infraestrutura.

Entre os desafios, estão também o número limitado de caminhões atualmente em Gaza. "Então muitas ações são necessárias para tornar a distribuição totalmente eficaz".

Guterres disse que a distribuição será realizada pela ONU e seus parceiros, bem como pelo setor privado e outras iniciativas. "Está claro que há uma obrigação de Israel de não criar nenhum obstáculo", disse o secretário.

Muhannad Hadi, coordenador humanitário da agência para o território, afirmou ainda que as Nações Unidas e seus parceiros estão prontos para aproveitar a oportunidade.

Hadi fez referência em uma declaração aos acordos alcançados na implementação de componentes humanitários na primeira fase do cessar-fogo, incluindo o fornecimento de suprimentos, "como água, alimentos, saúde e abrigo para pessoas em Gaza e a tão esperada libertação de reféns".

Reação internacional

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saudou em suas redes sociais o acordo de cessar-fogo, afirmando que a negociação "traz esperança". O acordo também foi celebrado pelo Ministério das Relações Exteriores, que aconselhou as duas partes a respeitarem os termos da negociação.

"Após tanto tempo de sofrimento e destruição, a notícia de que um cessar-fogo em Gaza foi finalmente negociado traz esperança", escreveu Lula no X, antigo Twitter. "Que a interrupção dos conflitos e a libertação dos reféns ajudem a construir uma solução duradoura que traga paz e estabilidade a todo Oriente Médio."

O premiê britânico, Keir Starmer, afirmou que o acordo era a "notícia que o povo israelense e palestino esperava desesperadamente". "Para os palestinos inocentes cujas casas se transformaram em uma zona de guerra da noite para o dia e os muitos que perderam suas vidas, este cessar-fogo deve permitir um grande aumento na ajuda humanitária, que é tão desesperadamente necessária para acabar com o sofrimento em Gaza", continuou Starmer.

O presidente francês Emmanuel Macron pediu em uma mensagem na sua conta do X que uma solução política seja encontrada e que "o acordo deve ser respeitado"

"Após quinze meses de sofrimento injustificável, há imenso alívio para o povo de Gaza e esperança para os reféns e suas famílias", afirmou Mácron.

O presidente Joe Biden e o presidente eleito Donald Trump celebraram o cessar-fogo firmado e disputaram o crédito pelo acordo histórico a partir da participação de representantes dos dois governos nas negociações.

Biden disse estar "empolgado" com a libertação dos reféns, como parte do acordo, e atribuiu o sucesso das conversas à "diplomacia persistente e meticulosa" dos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que reivindicou certa parcela de crédito no momento decisivo da guerra de 15 meses.

Já o republicano disse que sua vitória nas eleições americanas de novembro foi decisiva. "Esse acordo de cessar-fogo ÉPICO só poderia ter acontecido como resultado de nossa vitória histórica em novembro", escreveu Trump em sua rede Truth Social.

(Com Associated Press)

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O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) rebateu as críticas que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), fez a ele em entrevista ao Estadão/Broadcast publicada na última segunda-feira, 21. O parlamentar disse nesta quarta, 23, que o mineiro está defendendo "sua turminha da elite financeira" ao criticar a taxação anunciada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, aos produtos brasileiros.

Na entrevista no Papo com Editor, o governador de Minas Gerais afirmou que Eduardo criou um "problema" para a direita brasileira ao articular com o presidente dos Estados Unidos a imposição de tarifas de 50% sobre produtos nacionais importados, em uma tentativa de evitar a prisão do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

"Ele (Trump) está penalizando inclusive empresas americanas instaladas aqui, empresas brasileiras, brasileiros que exportam para os Estados Unidos. E, realmente, a posição que foi adotada pelo filho do ex-presidente (Eduardo) não foi a mais correta. Acho que isso acabou causando um problema para a direita", disse Zema na entrevista.

"Enquanto são pessoas simples e comuns as vítimas da tirania, não há problema, mas mexeu na sua turminha da elite financeira, daí temos o apocalipse para resolver", disse Eduardo em resposta ao governador mineiro. "Ao que parece, estava tudo uma maravilha enquanto era senhora e mãe de família comum sendo destroçada pela tirania."

Eduardo se refere aos condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por invadirem e depredarem as sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro de 2023. Eduardo defende anistia pelos atos golpistas, que poderia abranger seu pai, réu na ação sobre tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022 na Corte.

Em outro momento, Eduardo já havia citado um possível trabalho em defesa das "elites" para criticar o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). No dia 15 de julho, após Tarcísio se reunir com empresários para tratar do tarifaço, o deputado classificou a postura do governador como "subserviência servil as elites".

O presidente do Congresso Nacional, senador Davi Alcolumbre (União-AP), promulgou na última sexta-feira, 18, a medida provisória que reajusta em 9% o salários dos militares brasileiros. O impacto nos cofres públicos será de R$ 3 bilhões neste ano e R$ 5,3 bilhões em 2026. Ao todo, 740 mil militares ativos, da reserva e pensionistas serão beneficiados.

A MP determinou um reajuste em duas etapas, de 4,5% cada: em abril de 2025, já em vigor; e outro em janeiro de 2026. O projeto foi aprovado no Senado Federal em 16 de julho e já tinha tido o aval da Câmara dos Deputados no último dia 10.

O soldo, nome dado aos pagamentos dos militares, varia de acordo com o posto e a graduação de um indivíduo.

No topo da hierarquia, os almirantes de Esquadra, generais de Exército e tenentes-brigadeiros recebiam R$ 13.471 até março. Com o reajuste de abril, passaram a ganhar R$ 14.077. Em 2026, por fim, receberão R$ 14.711. Na parte mais baixa das três Forças, o soldo passará de R$ 1.078 para R$ 1.177 em 2026.

O Supremo Tribunal Federal (STF) estuda encerrar o contrato com Fundação Para o Desenvolvimento das Artes e Comunicação (Fundac) - entidade responsável pela gestão da TV e Rádio Justiça -, num momento em que todas as atenções se voltam para as emissores estatais às vésperas do julgamento do núcleo 1 da trama golpista, do qual faz parte o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A Fundac está no centro de uma crise trabalhista que tem provocado descontentamento entre os seus funcionários. Segundo relatos de trabalhadores da TV e Rádio Justiça, a fundação teria deixado de recolher o Fundo de Garantia (FGTS), parcelado o auxílio alimentação e atrasado o pagamento de férias e serviços prestados por pessoas jurídicas (PJs).

Em nota, o STF afirmou acompanhar a situação e ter cobrado a Fundac "para que ela cumpra suas obrigações, inclusive aplicando multas". "Está em discussão o encerramento do contrato em razão dos problemas enfrentados e nas próximas semanas uma solução deve ser apresentada", afirmou o tribunal. Procurada, a fundação ainda não se manifestou.

A Fundac é uma instituição privada, sem fins lucrativos, dirigida por uma advogada. A entidade é responsável por criar e gerir projetos de comunicação. Entre os seus clientes estão, além do STF, a TV Câmara, a TV Senado, o Capes e a Prefeitura de São Paulo.

Funcionários prometem greve caso situação não seja regularizada

Os trabalhadores da TV e Rádio Justiça aprovaram na última segunda-feira, 21, o "estado de greve da categoria".

A decisão, por unanimidade, de entrar em estado de greve pressiona a Fundac responsável pela gestão das emissoras estatais - a sanar as irregularidades contratuais apontadas pelos trabalhadores.

A mobilização trabalhista ocorre às vésperas do julgamento da ação penal do golpe, que deve mobilizar as atenções do País sobre o destino de integrantes do governo Bolsonaro. As emissoras privadas costumam reproduzir as imagens geradas pela TV Justiça.

O STF afirmou em nota ao Estadão "eventuais greves não afetarão transmissões de sessões previstas na Corte", porém não especificou como.

A operação da rádio e TV é completamente terceirizada, sob os cuidados da Fundac, portanto não há servidores contratados diretamente pelo STF que poderiam manter a emissora funcionando em caso de greve.

Por ora, ainda não há previsão de interrupção das atividades, mas os funcionários ameaçam paralisar temporariamente a operação ou iniciar greve por tempo indeterminado, caso os atrasos e problemas apontados persistas.

O Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que representa a categoria, publicou um comunicado no qual afirma que a paralisação dos funcionários "pode afetar a programação das emissoras estatais".

A greve da TV Justiça, caso ocorra, pode comprometer as transmissões das sessões do STF num momento em que as atenções do País se voltam à Corte na esteira do julgamento do núcleo 1 ação penal do golpe de Estado, do qual faz parte o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A expectativa é que o caso vá a julgamento em setembro na Primeira Turma.

O sindicato dos jornalistas afirma que uma nova assembleia será realizada em agosto para avaliar se as demandas foram cumpridas pela Fundac. A entidade de representação da categoria afirma ter enviado um ofício no início de junho com questionamentos à Fundação sobre a situação dos funcionários.

Segundo o sindicato, a Fundac informou que, "em sua quase totalidade", os pontos questionados "foram devidamente regularizados, como é o caso do pagamento das férias, benefícios e contratos RPA". O sindicato, contudo, alega que a Fundação não comprovou ter regularizado a situação dos trabalhadores.