Enchentes na Espanha: o que se sabe sobre a tempestade que matou mais de 200 pessoas

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Em questão de minutos, enchentes repentinas causadas por fortes chuvas no leste da Espanha varreram tudo pelo caminho. Sem tempo para reagir, pessoas ficaram presas em veículos, casas e comércios. Muitos morreram, e milhares perderam seus meios de subsistência.

Quatro dias depois, as autoridades já encontraram 211 corpos - a maioria na região leste de Valência. Eles ainda buscavam por um número desconhecido de desaparecidos na sexta-feira, 1º.

Milhares de voluntários ajudavam a limpar as grossas camadas de lama e destroços que ainda cobriam casas, ruas e estradas, enquanto enfrentavam cortes de energia, falta de água e escassez de alguns itens básicos. Em alguns dos veículos que a água empilhou ou lançou contra prédios, ainda havia corpos aguardando identificação.

Aqui estão algumas informações sobre a tempestade mais mortal da Espanha na história recente:

O que aconteceu?

As tempestades se concentraram sobre as bacias dos rios Magro e Turia e, no leito do rio Poyo, formaram paredes de água que transbordaram as margens, surpreendendo as pessoas que seguiam com suas rotinas diárias, muitas voltando do trabalho na noite de terça-feira, 29.

Num piscar de olhos, a água lamacenta cobriu estradas, ferrovias e invadiu casas e comércios em vilarejos nos arredores ao sul da cidade de Valência. Motoristas tiveram de se abrigar nos tetos dos carros, enquanto moradores tentavam se refugiar em terrenos mais altos.

O serviço meteorológico nacional da Espanha afirmou que, na localidade de Chiva, uma das mais afetadas, choveu em oito horas mais do que havia chovido nos últimos 20 meses, classificando a tempestade de "extraordinária".

Quando as autoridades enviaram o alerta aos celulares advertindo sobre a gravidade do fenômeno e pedindo para que as pessoas ficassem em casa, muitas já estavam nas ruas, trabalhando ou cobertos de água em áreas baixas ou garagens, que se tornaram armadilhas mortais.

Por que essas inundações repentinas massivas aconteceram?

Cientistas que tentam explicar o que ocorreu veem duas conexões prováveis com as mudanças climáticas causadas pelo homem. Uma é que o ar mais quente retém e depois despeja mais chuva. A outra é a possível alteração na corrente de jato - o rio de ar sobre a terra que movimenta os sistemas climáticos pelo globo - que desencadeia eventos climáticos extremos.

Cientistas do clima e meteorologistas afirmaram que a causa imediata da inundação foi um sistema de baixa pressão isolado que migrou de uma corrente de jato ondulada e estacionária de forma incomum. Esse sistema simplesmente ficou parado sobre a região e despejou chuva. Isso ocorre com frequência suficiente para que, na Espanha, sejam chamados de DANAs, a sigla em espanhol para o sistema, disseram meteorologistas.

Além disso, há a temperatura excepcionalmente alta do Mar Mediterrâneo, que registrou sua temperatura de superfície mais quente em meados de agosto, com 28,47ºC, afirmou Carola Koenig, do Centro de Risco de Inundações e Resiliência da Universidade de Brunel, em Londres.

O evento climático extremo veio após a Espanha enfrentar secas prolongadas em 2022 e 2023. Especialistas dizem que os ciclos de seca e enchente estão aumentando com as mudanças climáticas.

Isso já aconteceu antes?

A costa mediterrânea da Espanha está acostumada a tempestades de outono que podem causar inundações, mas este episódio foi o evento de inundação repentina mais poderoso na memória recente.

Pessoas mais velhas em Paiporta, epicentro da tragédia, afirmam que as enchentes de terça-feira foram três vezes maiores que as de 1957, que causaram pelo menos 81 mortes e foram as piores da história da turística região leste. Esse episódio levou ao desvio do curso de água do Turia, o que poupou grande parte da cidade dessas enchentes.

Valência sofreu outros dois grandes DANAs nos anos 1980, um em 1982, com cerca de 30 mortes, e outro cinco anos depois, que quebrou recordes de precipitação.

As inundações repentinas desta semana também são a tragédia natural mais mortal da Espanha na memória recente, superando a inundação que varreu um acampamento ao longo do rio Gallego, em Biescas, no nordeste do país, matando 87 pessoas em agosto de 1996.

Qual foi a resposta do Estado?

A gestão da crise, classificada como nível dois numa escala de três pelo governo valenciano, está nas mãos das autoridades regionais, que podem solicitar ajuda ao governo central para mobilizar recursos.

A pedido do presidente de Valência, Carlos Mazón, do conservador Partido Popular, o primeiro-ministro socialista Pedro Sánchez anunciou neste sábado o envio de mais cinco mil soldados que se unirão aos esforços de resgate, remoção de destroços e fornecimento de água e comida ao longo do fim de semana. O governo também enviará mais cinco mil policiais nacionais para a região, afirmou Sánchez.

Atualmente, há cerca de dois mil soldados da Unidade Militar de Emergências, a primeira força de intervenção do exército para desastres naturais e crises humanitárias, envolvidos no trabalho de emergência, além de quase 2,5 mil agentes da Guarda Civil - que realizaram 4,5 mil resgates durante as enchentes - e 1,8 mil policiais nacionais.

Quando muitos dos afetados disseram se sentir abandonados pelas autoridades, uma onda de voluntários tomou as ruas para ajudar. Munidos de vassouras, pás, água e alimentos básicos, centenas de pessoas caminharam vários quilômetros todos os dias para entregar suprimentos e ajudar a limpar as áreas mais atingidas.

O governo de Sánchez deve aprovar uma declaração de desastre, o que permitirá acesso rápido a ajuda financeira. Mazón anunciou assistência econômica adicional.

O governo regional de Valência foi criticado por não enviar alertas de enchente aos celulares até as 20h de terça-feira, quando as inundações já haviam começado em alguns locais e bem depois de a agência meteorológica nacional emitir um alerta vermelho indicando fortes chuvas.

*Este conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado pela equipe editorial do Estadão. Saiba mais em nossa Política de IA.

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A Faculdade de Direito da USP realizou na manhã desta sexta-feira, 25, um ato em defesa da soberania nacional. A mobilização foi motivada pela decisão do governo de Donald Trump de suspender os vistos de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e anunciar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos.

Segundo a organização, mais de 250 entidades da sociedade civil aderiram à manifestação, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Instituto Vladimir Herzog. Cerca de mil pessoas participaram do evento no Salão Nobre da faculdade, que estava lotado e decorado com bandeiras do Brasil, faixas verde e amarelas e banners com os dizeres "Soberania" e "Democracia".

A convocação foi assinada pelo diretor da Faculdade de Direito, Celso Campilongo, e pela vice-diretora Ana Elisa Bechara. Ana participou da leitura da Carta em Defesa da Soberania Nacional, ao lado da psicóloga Cida Bento, autora do livro O Pacto da Branquitude.

Um dos trechos do documento afirma: "Neste grave momento, em que a soberania nacional é atacada de maneira vil e indecorosa, a sociedade civil se mobiliza, mais uma vez, na defesa da cidadania, da integridade das instituições e dos interesses sociais e econômicos de todos os brasileiros".

Antes da leitura da carta, Campilongo alertou para o risco de violação de princípios básicos do Direito Internacional. "A soberania nacional, o respeito aos direitos básicos do Direito Internacional estão sendo solapados por esta situação de constrangimento, de ameaça, de abuso de poder - de um lado político, mas, juntamente com este poder político, também de um poder econômico."

Estiveram presentes no evento diversas figuras da política brasileira, como Aloizio Mercadante, presidente do BNDES; Paulo Teixeira, ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar; Edinho Silva, presidente eleito do PT; e José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva.

O deputado Hélio Lopes (PL-RJ) montou uma barraca na Praça dos Três Poderes em protesto contra as medidas judiciais impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Lopes ainda colocou um esparadrapo na boca sustentando que a liberdade de expressão está ameaçada no País.

O deputado publicou nas redes sociais uma carta aberta em que diz que o Brasil "não é mais uma democracia". "Não estou aqui para provocar. Estou aqui para demonstrar a minha indignação com essas covardias. Não estou incentivando ninguém a fazer o mesmo", disse.

Questionado pela reportagem por que ele resolveu se acampar, ele se manteve calado.

Diante de novas perguntas, o deputado reagiu gesticulando negativamente, manifestando o desejo de permanecer sem falar, com a mordaça na boca, enquanto lia o capítulo de Provérbios, do Velho Testamento da Bíblia.

Apesar de declarar-se em silêncio, a conta do parlamentar nas redes sociais continuaram ativas e, por lá, ele se manifestava: "Muito obrigado pelas mensagens de carinho. Mesmo em silêncio, tenho sentido cada palavra, cada oração e cada apoio que chega de todos os cantos do Brasil", escreveu em sua conta o X.

A manifestação chamou a atenção de poucos transeuntes, em sua maioria bolsonaristas. O primeiro político a chegar foi o deputado federal Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que deu um abraço no deputado e disse que irá acampar ao lado de Lopes.

"Estamos procurando uma forma de mostrar ao Brasil o que está acontecendo", disse. Segundo ele, ainda que Lopes tenha dito que não está "incentivando ninguém a fazer o mesmo", num futuro breve poderiam ter outras dezenas de acampamentos na Praça dos Três Poderes.

A Polícia Militar do Distrito Federal acionou a Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística do Distrito Federal, conhecida como DF Legal, dizendo que acampamentos não podem ficar na área da Praça, a mesma que foi invadida nos ataques de 8 de janeiro de 2023.

O deputado se recusou a sair e policiais discutem qual a melhor estratégia a ser adotada neste momento.

Bolsonaro disse que passaria perto da manifestação de Lopes, mas não iria parar "senão politiza".

Na avaliação do ministro dos Transportes, Renan Filho, a família Bolsonaro tem caminhado cada vez mais para a extrema direita e, por isso, o governo do presidente Lula deve ocupar mais o centro, visando as eleições presidenciais do ano que vem.

Em conversa com a imprensa após participar de um painel na XP Expert, em São Paulo, Renan Filho destacou que "há muita possibilidade" de isolar o bolsonarismo na extrema-direita, principalmente após o deputado Eduardo Bolsonaro ter se licenciado de seu mandato e mudado para os Estados Unidos.

"É um ataque que está sendo feito à própria democracia", disse Renan Filho, em relação às negociações de Eduardo Bolsonaro nos EUA que culminaram na imposição de tarifas de 50% a produtos brasileiros.

Para Renan Filho, é possível "reconstituir uma frente ampla", apresentando um projeto para o País que agregue, além da centro-esquerda, uma parte maior do próprio centro.