'Onda de calor é desastre negligenciado e mata mais que chuva e deslizamento'

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O Brasil volta a registrar uma onda de calor, ou seja dia seguidos em que a temperatura fica 5ºC acima da média em alguns locais. Em São Paulo, por exemplo, os termômetros podem chegar a 36ºC; em regiões como Mato Grosso, a previsão é de que as máximas atinjam 40ºC. O evento climático extremo fez o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitir alertas de "perigo" e "grande perigo" para áreas do Sudeste, Sul e Centro-Oeste.

Em entrevista ao Estadão, Renata Libonatti, professora do Departamento de Meteorologia da UFRJ, alerta que "as ondas de calor não são democráticas". "As mudanças climáticas vão aumentar significativamente as desigualdades sociais. Uma das ações para mitigar os efeitos é diminuir essa desigualdade."

Por que você costuma dizer que as ondas de calor são desastres naturais negligenciados?

Porque têm um impacto mortal, muito superior quando comparadas com outros tipos de desastres que, aparentemente, estamos mais acostumados a lidar, como deslizamentos, cheias, chuvas fortes. A gente fez uma conta, a partir de um estudo com as principais 14 regiões metropolitanas brasileiras, que entre 2000 e 2020 foram 50 mil mortes associadas às ondas de calor, apenas nessas regiões. E esse número é 20 vezes maior do que o número de pessoas que morreram por deslizamentos. (..) Apesar de as pessoas morrerem por causa de ondas de calor, não se percebe que essas mortes são associadas às ondas de calor. A Europa começou a ter essa percepção de ondas de calor como desastre fatal a partir da França, em 2003. Foi uma onda de calor gravíssima, que matou entre 20 mil e 40 mil pessoas. Agora (lá) já existem protocolos que são aplicados. No Brasil, a gente não tem isso. Por isso eu falo que as ondas de calor são desastres negligenciados. Tratar como desastre é ter uma linha de ação transversal entre alertas meteorológicos e protocolos para os órgãos de saúde e de assistência que informam o que se precisa fazer antes, durante e depois desses eventos.

O que é estresse térmico e quais seus efeitos?

O estresse térmico não está relacionado apenas com a temperatura, mas também com umidade relativa do ar, incidência de radiação solar, a velocidade do vento, entre outras variáveis. Então, em geral, o estresse térmico são condições ambientais relacionadas com essas variáveis que fazem com que o corpo humano passe a ter uma sensação desconfortável e várias consequências, como desidratação, confusão mental, cansaço. E as ondas de calor, obviamente, fazem parte de eventos que exacerbam esse estresse térmico. Uma conta que foi feita com projeções climáticas considera que no ano de 2030 nós vamos ter cerca de 27 milhões de pessoas expostas a condições de estresse térmico. E 12 milhões vão estar em regiões em desenvolvimento, de baixa condição socioeconômica. E esse valor, em 2090, vai subir para 41 milhões de pessoas expostas ao estresse térmico. Existem grupos mais vulneráveis aos efeitos desses eventos; grupos que são conhecidos globalmente como mais vulneráveis, até pela própria fisiologia. Os idosos apresentam uma condição de não só ter uma deterioração do sistema termorregulador, mas também são pessoas que têm várias comorbidades adquiridas que são acentuadas durante esses episódios prolongados de estresse térmico.

E em que isso está relacionado também com o conceito de justiça climática?

Em todas as regiões metropolitanas que nós observamos e analisamos nos últimos 20 anos, o resultado que tivemos foi que pessoas com baixa escolaridade morrem mais em decorrência do calor. O que isso significa? São pessoas que têm grau de instrução mais baixo; sem acesso a serviços de saúde de qualidade; muitas vezes moram em lares que não têm condições de pagar por um aparelho de ar-condicionado ou pessoas que trabalham a céu aberto. Então, essa parte do grau de instrução tem um peso muito grande nessa vulnerabilidade. E o segundo indicador socioeconômico que nós trabalhamos foi a diferença entre brancos, pretos e pardos. E o que o estudo demonstrou, novamente, é que os pretos e pardos são também a parte da população que morre mais em decorrência dessas ondas de calor. Isso não tem relação com a fisiologia. Isso só tem a ver com as desigualdades sociais que esses grupos enfrentam.

E quais medidas as cidades devem adotar para evitar efeitos mais dramáticos da crise climáticas?

Todos esses planos que vêm sendo discutidos em termos de maior arborização; uso de materiais para construção que tenham a capacidade de absorver um pouco o calor; a presença de corpos d'água é uma medida que precisa ser estudada; a construção de telhados verdes ou a construção de prédios que favoreçam a circulação do ar; diminuir a emissão de gases associados aos transportes, com mudanças significativas na frota veicular. Tudo isso estamos falando em termos de infraestrutura. São medidas que precisam entrar nos Planos Diretores para que esses efeitos sejam minimizados.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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Neste sábado, 3 de maio de 2025, a Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, será palco de um dos maiores shows da carreira de Lady Gaga. A cantora retorna ao Brasil após sete anos e traz ao país sua turnê mundial “Mayhem”, com um espetáculo gratuito que promete reunir até 2 milhões de pessoas.

O evento integra o projeto “Todo Mundo no Rio”, uma iniciativa da Prefeitura do Rio de Janeiro em parceria com a produtora Bonus Track, que visa consolidar o mês de maio como um período de grandes celebrações culturais na cidade. Inspirado pelo sucesso do show de Madonna em 2024, que atraiu 1,6 milhão de pessoas, o projeto busca transformar a orla de Copacabana em um palco para grandes atrações musicais internacionais. 

Lady Gaga, que havia cancelado sua apresentação no Rock in Rio em 2017 devido a problemas de saúde, expressou entusiasmo por retornar ao país. A cantora, que lançou seu oitavo álbum de estúdio, “Mayhem”, em março deste ano, promete um espetáculo visualmente deslumbrante, com coreografias elaboradas e uma produção que dialoga com a energia única do Rio de Janeiro.

A expectativa é que o show movimente significativamente a economia local. Segundo dados da Booking.com e da Decolar, houve um aumento expressivo na procura por hospedagens e passagens aéreas para o Rio de Janeiro entre os dias 1º e 4 de maio, em comparação com o mesmo período do ano anterior. 

O espetáculo será transmitido ao vivo pela TV Globo, Globoplay e Multishow, permitindo que fãs de todo o mundo acompanhem esse evento histórico.

Para aqueles que desejam participar presencialmente, é recomendável chegar cedo, pois o evento será realizado por ordem de chegada. A organização do evento orienta os participantes a se prepararem para um dia de muita música, emoção e, claro, a energia contagiante de Lady Gaga.

Prepare-se para uma noite inesquecível na orla carioca. Lady Gaga está de volta ao Rio de Janeiro, e a festa promete ser épica!

Nana Caymmi foi casada com Gilberto Gil por dois anos, entre 1967 e 1969. Uma das mais importantes cantoras brasileiras, ela morreu nesta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, em decorrência de problemas cardíacos.

O relacionamento com o cantor começou após o retorno de Nana da Venezuela, onde morou com o médico Gilberto José, com quem foi casada e teve duas filhas, Stella e Denise. Separada, ela retornou ao Brasil e começou o namoro com Gil.

Naquele período, Nana enfrentava o preconceito do pai, Dorival Caymmi, por ter se separado e tentava emplacar algum sucesso na música brasileira. Ela chegou a vencer o Festival Internacional da Canção (TV Globo), interpretando a canção Saveiros, composta pelo irmão, Dori, mas foi vaiada ao ser anunciada a vencedora da competição.

Gil e Nana se separaram quando o cantor foi passar um período em exílio em Londres, por conta da ditadura militar. Os dois escreveram juntos a canção Bom Dia, que Nana apresentou no III Festival de Música Popular Brasileira, na TV Record, em 1967.

O corpo da cantora Nana Caymmi será velado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 2, a partir das 8h30. O enterro ocorrerá às 14h, no Cemitério São João Batista, no bairro de Botafogo.

Uma das principais cantoras do Brasil, Nana morreu na noite desta quinta-feira, 1º, aos 84 anos, depois de ficar nove meses internada na Casa de Saúde São José, no Rio, para tratar uma arritmia cardíaca. De acordo com nota divulgada pelo hospital, a causa da morte de Nana foi a disfunção de múltiplos órgãos.

Ao Estadão, o irmão de Nana, o músico e compositor Danilo Caymmi, afirmou que, além da implantação de um marcapasso para corrigir a arritmia cardíaca, Nana apresentava desconforto respiratório e passava por hemodiálise diariamente. Nana também sofria de um quadro de osteomielite, uma infecção nos ossos, que lhe causava muitas dores. Segundo ele, Nana esteve lúcida por todo o tempo, mas, no dia 30 de abril, entrou em choque séptico.

Filha do compositor Dorival Caymmi, Nana começou a carreira no início dos anos 1960, ao lado do pai. Após se afastar da vida artística para se casar - ela teve três filhos, Stella, Denise e João Gilberto -, Nana retomou a carreira ainda na década de 1960, incentivada pelo irmão Dori Caymmi.

Nos anos 1970 e 1980, gravou os principais compositores da música brasileira, como Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Sueli Costa, Ivan Lins, João Donato e Dona Ivone Lara.

Em 1998, conheceu a consagração popular ao ter o bolero Resposta ao Tempo, de Aldir Blanc e Cristóvão Bastos, incluído como tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, da TV Globo.

Nana gravou discos regularmente até 2020, quando lançou seu último trabalho, o álbum Nana, Tom, Vinicius, só com canções de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.