Prestes a completar 20 anos, o Grupo XIX de Teatro encena 'Infâmia'

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Em seu aniversário de 20 anos, Grupo XIX de Teatro mistura cinema e artes cênicas para questionar os limites entre verdade e mentira na era das fake news.

Tela e palco pareciam andar por caminhos separados. Se, em seus primeiros anos de existência, o cinema bebia diretamente naquilo que se produzia para as salas de espetáculos, há muito essa relação se encerrou. Independentes, as duas artes seguiam apartadas, com suas inquietações e pesquisas próprias. O isolamento social imposto pela covid-19, contudo, embaralhou esses limites. "Nós vivíamos em dois mundos distintos. Você vai estudar teatro e nem escuta falar em cinema. Mas a pandemia fez esses dois universos se aproximarem de novo", conta Luiz Fernando Marques, diretor do Grupo XIX de Teatro.

Prestes a completar 20 anos, a companhia, que nasceu buscando o contato com o espaço urbano e a interação com o espectador, teve de se reinventar. Para encenar seu novo projeto, Infâmia, a saída encontrada foi o suporte digital. Ainda em processo de criação, a obra poderá ser vista pelo público na plataforma Sympla, entre os dias 10 e 13, às 16h, trazendo a simbiose de linguagens como destaque. Mas a proposta não se esgota aí. Baseada em uma peça dos anos 1930 - que virou filme em 1961 - ,Infâmia tematiza as atualíssimas fake news.

Dirigido por William Wyler, com Shirley MacLaine e Audrey Hepburn nos papéis principais, o longa mostra como um boato destrói a vida de duas mulheres. Contrariada por ter sido castigada na escola, uma menina conta para a avó que suas professoras vivem um romance. A história se espalha pela cidade, resultando no fechamento do colégio e no banimento das personagens.

"Ultimamente, o Brasil não nos deixa falar de outra coisa. As fake news e as mentiras estão sendo disparadas o tempo todo. Muito interessante nessa obra, porém, é a maneira como fica claro que uma mentira não tem volta. Mesmo que seja desmentido, aquilo permanece. Não há como voltar atrás", considera o diretor. Outro aspecto que merece atenção em Infâmia é a própria dubiedade do vínculo afetivo em questão, redimensionando o lugar da verdade e fugindo da simples dicotomia entre realidade e mentira.

As contradições sempre foram objeto de interesse para o Grupo XIX. Em suas primeiras criações, como Hysteria (2001) e Hygiene (2005), isso acontecia com distanciamento histórico. Mas em um espetáculo mais recente, como Nada Aconteceu, Tudo Acontece, Tudo Está Acontecendo, as noções de alucinação e realidade eram embaralhadas, por exemplo, a partir da evocação de figuras da indústria cultural contemporânea. O estranhamento, outra marca dessa montagem de 2013, também volta a dar as caras no atual experimento. Assim como é nebulosa a relação entre as amigas Karen e Martha, também se desestabiliza o lugar dos atores e de suas interpretações.

Na dramaturgia de Erica Canhameiro, entram monólogos concebidos especialmente para o projeto, mas mantém-se intacto muito do roteiro cinematográfico. Diferentes pares de intérpretes são escalados para encenar os diálogos das duas professoras: além de mulheres brancas, como as do filme exibido, há também corpos que falam à ânsia de diversidade do presente: um homem, uma mulher negra, uma mulher trans. Nessa lógica, uma mesma cena pode se repetir em looping, apenas com alterações de elenco. "A possibilidade de os atores ressignificarem aquele material com a sua presença nos pareceu mais forte do que a ideia de criar uma outra camada de ficcional", observa a dramaturga.

"Essa discussão do trânsito com o cinema já era uma questão muito presente pra nós", pontua Marques. Especialmente em sua peça mais recente, Teorema 21 (2016), inspirada no filme do diretor italiano Pier Paolo Pasolini, notava-se essa aproximação. A diferença de Infâmia está na radicalidade da presença do audiovisual. Para além do impacto causado pelo uso de um suporte fílmico, a participação de Flávio Barollo, como diretor de arte digital, traz uma nova camada à pesquisa do grupo.

Muito antes que a pandemia viesse a impor a reinvenção das artes cênicas, Barollo já se dedicava a pesquisar suas intersecções com o vídeo. Agora, o contexto parece ter criado a possibilidade de intensificar suas investigações. Buscando as formas que um ator, ao vivo, tem de intervir em um material já gravado. "O vídeo é uma ferramenta que possibilita tudo: criar ou recriar qualquer situação, inventar narrativas, inserir ou apagar elementos", diz o artista. "O mais interessante nessa obra é a chance de revelar ao público o dispositivo de realização disso tudo. Ao ver um deep fake, um chroma key ou um filme de Hollywood, você não sabe o que é verdade ali e o que não é. Aqui, a gente revela um pouco desse jogo."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Netflix norte-americana anunciou que Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles que trouxe o primeiro Oscar da história do Brasil, vai estar disponível para streaming na plataforma nos Estados Unidos a partir de 17 de maio.

Estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, Ainda Estou Aqui conta a história de Eunice Paiva, que precisou reconstruir a sua vida e sustentar os filhos após seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ser sequestrado e morto pela ditadura militar brasileira. O filme é inspirado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva.

A produção fez história ao receber três indicações ao Oscar 2025, em melhor filme internacional, melhor atriz e melhor filme, e conquistou a estatueta na categoria internacional.

No X, antigo Twitter, fãs comemoraram o anúncio do filme no catálogo americano da Netflix. "Simplesmente Oscar Winner", escreveu um. "Melhor filme do mundo", completou outra pessoa.

Ainda Estou Aqui está disponível para streaming no Brasil pelo Globoplay.

A morte da atriz mirim Millena Brandão aos 11 anos nesta sexta-feira, 2, comoveu colegas e fãs. A menina, que estava internada desde o último dia 29, teve morte encefálica e sofreu diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias. Nas redes sociais, astros, amigos e admiradores prestam homenagem.

Várias mensagens foram deixadas nas fotos do perfil de Millena no Instagram e em outras publicações.

O ator Matheus Santos, conhecido como MC M10, escreveu: "Meus sentimentos à família. Muito triste. Pude conhecê-la no set de Sintonia, uma menina maravilhosa e encantadora."

Já Silvia Abravanel declarou: "Meus sentimentos à família. Que Deus a receba com muito amor, luz e paz num abraço eterno", enquanto a cantora Simony demonstrou tristeza: "Poxa", escreveu, ao lado de um emoji triste.

Millena precisou ser internada inicialmente devido a uma forte dor de cabeça, e foi transferida da Unidade de Pronto Atendimento Maria Antonieta (UPA).

"Desde a sua chegada, a paciente recebeu cuidados intensivos e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para preservar sua vida", afirma a nota assinada por Thiago Rizzo, gerente médico.

Segundo o SBT, ela chegou a ser diagnosticada com dengue em uma unidade, mas, após uma piora no quadro, ela foi transferida para o Hospital Geral do Grajaú, onde médicos realizaram outros exames e identificaram a presença de um tumor no cérebro de cinco centímetros. Ela estava entubada, sedada e sem respostas neurológicas.

As atrizes Sophia Valverde e Giulia Garcia, de As Aventuras de Poliana e Chiquititas, também se manifestaram. "Muito triste. Que Deus esteja consolando a família nesse momento tão difícil", escreveu Sophia. "Que Deus conforte o coração dessa família", desejou Giulia.

Millena atuou em A Infância de Romeu e Julieta, no SBT, e em Sintonia, da Netflix. Além de atriz, também era modelo e influenciadora digital, e havia feito diversos trabalhos publicitários com marcas infantis.

Morreu nesta sexta-feira, 2, em São Paulo, a atriz mirim Millena Brandão, do canal SBT, aos 11 anos. A artista teve morte encefálica, de acordo com o hospital onde ela estava internada.

Também conhecida como morte cerebral, a morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções cerebrais. Como o cérebro controla outros órgãos, quando é constatada sua morte, outras funções vitais também serão perdidas e o óbito da pessoa é declarado.

Millena havia sofrido diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias, recebido diagnóstico de tumor cerebral e estava internada no Hospital Geral de Grajaú, na capital, desde o dia 29.

O que configura morte encefálica?

Para funcionarem, os neurônios precisam de oxigênio e glicose, que chegam ao cérebro pela circulação sanguínea. Quando algum problema impede o fluxo sanguíneo, essas células podem morrer e as funções cerebrais são prejudicadas. Se a perda das funções é completa e irreversível, é declarada a morte cerebral.

Apesar de alguns órgãos poderem continuar funcionando, o cérebro já não consegue controlá-los. Assim, embora ainda haja batimentos cardíacos, por exemplo, eles tendem a parar. A respiração também não acontecerá sem a ajuda de aparelhos.

O que pode causar a morte encefálica?

Qualquer problema que cesse a função cerebral antes de encerrar o funcionamento de outras partes do organismo causa a morte encefálica. Entre as causas mais comuns estão:

- Parada cardiorrespiratória;

- Acidente vascular cerebral (AVC);

- Doença infecciosa que afete o sistema nervoso central;

- Tumor cerebral;

- Traumas.

Quando a morte encefálica é declarada?

No Brasil, a resolução nº 2.173/17 do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece critérios rigorosos para a declaração de morte encefálica. De acordo com especialistas, o protocolo brasileiro é um dos mais criteriosos do mundo.

O CFM determina a realização de uma série de exames para comprovar a perda do reflexo tronco encefálico, aquele responsável por controlar funções autônomas do organismo, como a respiração.

Essa análise deve ser feita por dois médicos que examinam o paciente em horários diferentes, e os resultados precisam ainda ser complementados por um exame - um eletroencefalograma ou uma tomografia, por exemplo.

Morte encefálica e doação de órgãos

A "Lei dos Transplantes" (Lei nº 9.434/1997) estabelece que a doação de órgãos após a morte só pode ser realizada quando constatada a morte encefálica.

Quando isso acontece, as funções vitais do paciente são mantidas de maneira artificial até que a remoção dos órgãos seja feita.