Jovens enfrentam 'síndrome da gaiola'

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Eles são adolescentes e não querem voltar para as aulas presenciais. Não retornaram em 2020 nem querem agora em 2021, quando a educação foi autorizada a abrir no Estado. Estão há mais de um ano sem praticamente ver amigos, ir a festas, namorar. Pais e médicos se preocupam porque sabem que a escola não é apenas a aprendizagem acadêmica - e na maioria das vezes eles até se saem muito bem no online. Ela é fundamental para a criação de valores, de noções de sociedade, regras, politização, independência e habilidade de lidar com conflitos que, com certeza, não acontecem dentro de um quarto.

Apesar de nem todos serem casos de transtornos da saúde mental, adolescentes com crises de pânico e ansiedade se tornaram comuns em consultórios psiquiátricos durante a pandemia. Pode ser a síndrome da gaiola, como nomeou um especialista. Ou seja, a gaiola é aberta, mas o pássaro não quer sair. Médicos dizem que o prejuízo é enorme agora e para o futuro de jovens que completaram 15, 16, 17 anos fechados em casa.

Marcelo acabou de fazer 18 (todos os nomes dos jovens e dos pais nesta reportagem são fictícios para preservar a privacidade das famílias). Foi seu segundo aniversário na pandemia. Começou a fazer terapia em novembro quando sentiu que já não tinha mais vontade de nada. "Via que meus amigos estavam muito ansiosos para a escola voltar, mas eu não sentia falta."

Ele foi um dos poucos que não retornaram ao presencial em fevereiro, o que preocupou a mãe. "Ele sempre foi um menino disciplinado, nunca precisei supervisionar nada, mas percebi que estava muito desinteressado. Eu tinha medo de ele entrar em depressão, pedi para ele ir para a escola", conta. Mas o adolescente diz que tem medo de contaminar sua família e se organizou bem para estudar em casa. "Eu olho para a escola como algo do passado, como um momento que acabou. Aquela escola não existe mais."

A única exceção aberta por Marcelo para sair de casa durante a pandemia foi uma viagem com alguns amigos no ano-novo - todos testados para covid. "Eu vi o sorriso dele nas fotos e vídeos da viagem e até chorei de emoção. Era um sorriso genuíno, que eu não via fazia tempo", diz a mãe.

"O que mais me deixa preocupado é a desesperança que vejo em adolescentes", diz o psiquiatra da infância e adolescência, da Associação Brasileira de Psiquiatria, Gabriel Lopes, que cunhou o termo síndrome da gaiola. "É uma entrega." Para ele, os pais precisam se preocupar quando o jovem deixa de se revoltar com a dificuldade que a pandemia traz para sua vida.

Estudo realizado por um grupo de pesquisadores de 20 universidades americanas, analisando adolescentes de Estados Unidos, Peru e Holanda, mostrou que os sintomas de depressão aumentaram 28% com seis meses de pandemia. Foram acompanhados 1.339 estudantes, de 9 a 18 anos, antes e depois da covid.

Segundo os autores, o apoio social é um dos fatores que mais protegem contra a depressão dos adolescentes. A conclusão do estudo é a de que políticas públicas durante a pandemia precisam considerar a saúde mental dos adolescentes, como o incentivo à volta das aulas presenciais.

Evitar convívio social e situações de conflito traz problemas

Pesquisas também mostram, no entanto, que retornar para a escola pode ser um fator de forte ansiedade. Isso porque, explica o psiquiatra da infância e adolescência da Universidade de São Paulo (USP) Guilherme Polanczyk, ela é um espaço de ameaça social, onde o jovem pode se deparar com situações de conflito, inesperadas. "Eles se sentem confortáveis em casa, só mantêm contato com os amigos, com quem têm uma boa relação, se sentem seguros."

Mas, segundoPolanczyk, ao evitar essas dificuldades, não desenvolvem habilidades importantes para toda a vida. "Muitos estímulos que eram normais para um adolescente deixaram de existir. Eles perdem autonomia."

Paulo, de 15 anos, se formou no ensino fundamental sem nunca ter pisado na escola. Ele mudou de instituição no meio da pandemia, no ano passado. E em 2021, como foi para o ensino médio, mudou de novo, para outra que também nunca esteve. Mas não tem vontade de conhecer.

"Ele faz tudo pelo computador, para ele está ótimo. Me preocupo muito como vai ser quando abrir o mundo", diz a mãe Fátima. Ela conta que sente o menino ansioso, mas muito quieto e sem reclamar de nada. E lamenta que, antes da covid, Paulo estava começando a sair sozinho, ir a festas, ao shopping com amigos. "É muito triste."

"Um aluno que está em casa muito mal nos preocupa muito, mas o que está em casa muito bem também nos preocupa muito", diz o orientador educacional do Colégio Santa Cruz, Silvio Hotimsky. Segundo especialistas, a escola é fundamental para identificar eventuais problemas, mesmo por meio das câmeras da aula online. Ele conta que tenta levar ao presencial adolescentes que estão desconectados do grupo. "Adolescência é o momento do encontro, de identificações, e tudo isso sofre uma regressão quando se está em casa só com a família."

Para Lopes, pais e mães muitas vezes veem como "um motivo nobre" o fato de o adolescente não querer ir para a escola, já que estaria se preocupando com os outros. "Tem de olhar melhor para isso. Claro que tem a preocupação legítima com os pais, o medo, mas pode estar escondendo outro motivo."

Alice, de 13 anos, ficou o ano passado todo fechada em casa e resolveu, perto do Natal, ir pela primeira vez a um shopping no interior de São Paulo, onde mora. Ao passear pelos corredores, começou a sentir falta de ar e muito medo. Foi diagnosticada com transtorno de ansiedade, algo que nunca tinha ocorrido. "Eu tinha muito medo de pegar a covid, de passar para os meus pais."

Em março, quando estava se preparando para voltar às aulas presenciais, a crise veio de novo. "Sentia que tinha algo na minha garganta, fiquei duas semanas quase sem comer nada e emagreci três quilos. "Era a escola. Voltar me deixou muito nervosa". Alice passou a tomar remédios, agora se sente melhor. Sua escola será aberta amanhã, mas os pais não a deixaram voltar por medo de contaminação. "Estou mais tranquila e com saudade dos meus amigos."

Após crises de pânico, aluno parou aulas presenciais e online

Antonio fez 15 anos durante a pandemia, em um ano que, mesmo sem quase sair de casa, seu pai se contaminou com a covid-19 e seu avô morreu da doença. Até então, era um aluno excepcional, que adorava o colégio e gostava muito de ler.

Mas os eventos de 2020 fizeram Antonio passar a ter crises de pânico só de pensar em escola e a praticamente parar de estudar neste ano.

O menino já tinha diagnóstico de transtorno obsessivo compulsivo (TOC), caracterizado pela obsessão por ideias ou imagens que muitas vezes só é amenizada por um ritual de compulsão, com regras rígidas e preestabelecidas. A mãe Marta, também com TOC, percebeu aos 8 anos que o filho lavava excessivamente as mãos. Segundo especialistas, adolescentes já com um transtorno mental foram ainda mais prejudicados com a falta de escola durante a pandemia.

"Passamos o ano presos e com muitas fobias, rituais de limpeza, ele não teve aulas presenciais nem saiu para lugar nenhum em 2020", conta Marta. Em fevereiro, com a proximidade da volta às aulas presenciais, a mãe conta que o menino "não tinha mais unhas para roer".

Ele chegou a ir três vezes à escola e passou a ter crises de pânico. "Ele já despertava para o café com olhos arregalados, veias saltando no pescoço, tremendo."

Quando a educação fechou novamente em São Paulo, o ensino remoto também não foi fácil. "A pior coisa que inventaram nessa pandemia foi o ensino a distância", diz Antonio. Já no ensino médio, ele começou a estudar compulsivamente por 12 horas e ter ideias recorrentes de que nunca conseguiria tirar nota boa, sendo que era um aluno exemplar. Mesmo com medicação e acompanhamento médico, ele não melhorava.

A mãe, então, contou a situação à direção da escola, que permitiu que ele apenas fizesse as provas e não precisasse mais participar das aulas online. Marta passou a cronometrar o tempo de estudo do filho, que não poderia passar de meia hora por dia. Mesmo assim, ele tirou ótimas notas. O arranjo deve continuar durante todo o semestre, para alívio de Antonio.

"Só de falar em voltar, ele já não dorme mais, começa a tremer", diz Marta. Antonio ainda não consegue ler livros porque a compulsão pela checagem o impede de passar do primeiro parágrafo. Mas já se sente mais tranquilo, ao menos em casa. Desligou seu celular e pouco fala com os amigos da escola, que insistem em saber se está bem.

Antonio agora se preocupa com os jovens ocupando as UTIs. "Só volto para a escola quando todos os professores e alunos forem vacinados."

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."