Britney Spears, uma estrela sem voz nem liberdade há mais de uma década

Geral
Tipografia
  • Pequenina Pequena Media Grande Gigante
  • Padrão Helvetica Segoe Georgia Times

Há 13 anos vivendo sob uma tutela que a impede de ter as mesmas liberdades que outras pessoas adultas da sua idade, Britney Spears, de 39 anos, tem sua conservadoria investigada no documentário Framing Britney Spears, disponível no Globoplay. Mas apesar de ser um bom ponto de partida para quem não está familiarizado com o caso, o filme dirigido por Samantha Stark e produzido pelo The New York Times ainda deixa de fora personagens e perguntas centrais para entender a extensão do problema.

A tutela de Britney começou em 2008, após uma série de episódios erráticos esmiuçados na mídia, que culminaram com a artista perdendo a guarda integral e o direito de se aproximar dos dois filhos, Sean e Jayden, hoje com 15 e 14 anos. Garantida pelo tribunal de Los Angeles, a medida é raramente concedida a pessoas com a idade da artista, então com 26 anos, e tem como objetivo proteger uma pessoa "incapaz" de ser explorada.

O conservador apontado para cuidar de Britney foi o pai Jamie Spears, e desde que a sua tutela foi instaurada, a cantora ganhou novamente o contato com as crianças e o respeito da imprensa, mas para isso abriu mão de sua liberdade. O arranjo, que inicialmente foi pedido em caráter temporário, se tornou permanente poucos meses depois, e hoje é combatido nos tribunais pela própria artista.

A única vez em que Britney falou publicamente sobre a conservadoria foi no documentário For The Record, lançado meses após ela ter começado. "Se eu não estivesse sob as amarras que estou agora, com pessoas me analisando o tempo todo, eu me sentiria mais livre", disse, entre lágrimas. A última tentativa de mencionar o assunto foi em 2016, enquanto promovia o disco Glory no programa de Jonathan Ross, na Inglaterra, mas o segmento inteiro ficou de fora da versão final exibida na TV. O público só soube que o tema foi abordado porque uma pessoa presente na plateia relatou previamente o episódio nas redes sociais.

Essa proibição de sequer mencionar a tutela é uma das principais preocupações por trás do movimento #FreeBritney, criado por fãs em 2019. Na época, a artista cancelou uma nova residência de shows em Las Vegas para a qual já estava ensaiando há semanas e, por dois meses, não foi vista em nenhum lugar. Mais tarde, sua equipe publicou um comunicado dizendo que ela havia se internado voluntariamente para cuidar da própria saúde mental.

Uma ligação anônima feita para duas amigas que mantêm um podcast dedicado à cantora afirmou o que muitos fãs suspeitavam: Britney foi internada contra a sua vontade, muito antes do que foi alegado pela sua equipe. A internação teria sido uma punição motivada pela recusa da cantora em tomar os remédios que o pai indicava, afirmava a ligação, feita por alguém que se identificava como ex-advogado do time da artista e que, mais tarde, descobriu-se ser um dos poucos amigos que ela ainda tem autorização de ver.

Desde então, o #FreeBritney cresceu, chamou a atenção de advogados e defensores públicos dos EUA, que se uniram aos admirados da Princesa do Pop para esmiuçar documentos oficiais da tutela, organizar protestos presenciais em frente ao tribunal e alertar a mídia sobre o que parece ser um caso grave de violação dos direitos civis de uma das artistas mais ricas e conhecidas mundialmente.

Após o episódio da internação, a própria Britney tem agido ativamente para se livrar da conservadoria e, principalmente, do seu pai como tutor permanente. O ponto de ruptura nessa mudança de atitude em alguém que por uma década não havia reclamado pública ou judicialmente sobre a situação foi uma briga entre Jamie e o primogênito da cantora, Sean, em setembro daquele mesmo ano.

A discussão rendeu uma ordem de restrição do rapaz e do irmão contra o avô e, no ano passado, ele deixou de ser o único responsável pelas finanças da cantora, dividindo a função com um banco de investimentos apontado pelo tribunal. Impossibilitada de se manifestar publicamente sobre o assunto, Britney tem usado o advogado apontado pela corte da Califórnia para se comunicar com fãs e imprensa através de documentos oficiais entregues ao tribunal.

Neles, a cantora já admitiu ter "medo" do pai, com o qual ela diz manter uma relação "tóxica". Também agradeceu aos fãs pelo apoio, afirmou que não deseja esconder a tutela como um "segredo de família" e que se recusa a trabalhar enquanto Jamie Spears for o responsável por suas finanças, das quais ele subtrai um salário anual de U$ 130 mil, de acordo com documentos de 2016.

Jamie, por sua vez, diz que seu único objetivo é ver a cantora bem e que fez o que qualquer pai preocupado faria. Desde o lançamento de Framing Britney Spears, entretanto, essas alegações têm se mostrado mais difíceis de sustentar.

Em uma rara entrevista concedida no final do ano passado, o irmão mais velho da cantora, Bryan Spears, admitiu que ela sempre quis sair da tutela. E, apesar de ter conseguido algumas pequenas vitórias nos últimos meses, sua principal demanda de remover integralmente o pai como conservador ainda não foi atendida.

Nos quatro discos de estúdio, três turnês mundiais, dezenas de clipes e ensaios fotográficos que fez desde que está colocada sob a tutela, Britney tem aludido à ideia de que é uma prisioneira, aparecendo frequentemente em gaiolas ou com algemas. Músicas compostas e lançadas por ela também falam sobre uma alienação do mundo exterior e, de acordo com o fotógrafo David LaChapelle, a única vontade que ela tinha para o videoclipe de ...Make Me era ser filmada dentro de uma jaula.

Em uma das cenas centrais de For The Record, Britney começa a chorar quando fala, publicamente pela última vez, sobre a tutela: "Mesmo quando você vai para a cadeia, sabe, existe a hora em que você vai sair. Mas nessa situação, não tem fim. Eu estou tendo que pagar o preço por um tempo muito longo".

Em outra categoria

O aguardado show de Lady Gaga na praia de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, teve início na noite deste sábado, 3. É possível assistir ao vivo pela Globo, na TV aberta, pelo canal pago Multishow e pelo streaming Globoplay. Previsto para começar às 21h45, o show contou com um atraso e a cantora apareceu em um vídeo no palco somente por volta de 22h10.

Todo mundo no Rio. Mesmo. Quando ainda faltavam 12 horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, as filas para ter acesso à Avenida Atlântica já davam voltas nos quarteirões internos do bairro. Por razões de segurança, era preciso passar por um dos 18 pontos de bloqueio para alcançar a orla, instalados desde cedo em ruas transversais aparelhados com detectores de metais e câmeras de reconhecimento facial.

Em experiências anteriores, como o show de Madonna, no ano passado, e o réveillon, as aglomerações só se formaram faltando poucas horas para o início do espetáculo. Mas com Gaga foi bem diferente. Já na manhã de sábado havia fila ocupando dois quarteirões. A temperatura em torno dos 25ºC ajudou. O céu estava claro, o sol brilhando, mas não havia muito calor.

Uma faixa da avenida Nossa Senhora de Copacabana, uma das principais vias do bairro, estava ocupada por fãs na altura do palco. O professor de educação física Humberto Machado, de 38 anos, que veio para o show com um grupo de amigos da Paraíba e do Rio Grande do Norte, contou que ficou na fila para acesso à orla por cerca de meia hora.

"A gente achou que seria rápido para entrar porque ainda era muito cedo", contou o professor. "Mas a fila era impressionante."

O professor e seus amigos levavam água e sanduíches em recipientes de plástico para aguentar por toda a tarde e noite. Recipientes de vidro, líquidos inflamáveis e objetos perfurocortantes estavam proibidos e estavam sendo confiscados nas barreiras.

O bairro, rapidamente apelidado de "Gagacabana", era uma grande festa desde cedo, sem registro de incidentes. Fãs totalmente montados, os "little monsters" (monstrinhos), não paravam de chegar a pé, de ônibus e, principalmente, de metrô, exibindo leques, chapéus e todo tipo de indumentária remetendo à artista, a "mother monster" (mãe monstra).

Em frente ao Copacabana Palace, onde a diva está hospedada, o movimento foi ininterrupto a madrugada inteira, sobretudo depois do ensaio aberto na noite de sábado, em que Gaga cantou mais de dez músicas para deleite de todos que estavam na orla, entre elas grandes sucessos como Abracadabra, Bad romance e Shallow, a mais baixada por fãs no Brasil nas plataformas de streaming.

Antes mesmo do fim da manhã longos trechos da praia já estavam ocupados por fãs marcando lugar na areia para assistir ao show da diva e vendedores ambulantes. E não só. As árvores do canteiro central da Atlântica e mesmo da calçada próxima aos prédios estavam sendo disputadas desde cedo pelos que queriam garantir um lugar 'vip' para assistir ao show.

A tatuadora Aisha Dutra, de 22 anos, e a estudante Lilian Magalhães, de 26 anos, estavam aboletadas em uma árvore desde cedo. Elas são do bairro de Santa Cruz, na zona oeste, mas alugaram um apartamento por temporada em Copacabana, especialmente para estarem perto do show. O plano da dupla era chegar à praia às 5h da manhã deste sábado. Mas como elas só foram dormir de madrugada, depois do fim do ensaio, acabaram chegando à orla às 8h.

"Ontem, durante o ensaio, a gente subiu numa árvore e viu que era a melhor opção, porque tinha gente dormindo na grade desde ontem e não tinha mais lugar perto do palco", explicou a tatuadora, devidamente instalada na árvore.

Na tarde de sexta-feira, 2, a Prefeitura informou que dados consolidados pela Rodoviária Novo Rio e pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão) indicavam a chegada de mais 500 mil visitantes na cidade entre os dias 1º e 3 de maio, superando as expectativas iniciais de 240 mil pessoas. Desse total, 25% seriam turistas estrangeiros.

Há ainda turistas chegando com carros particulares, ônibus fretados e voos pousando no Aeroporto Santos Dumont. A média de ocupação da rede hoteleira é de 86% em toda a cidade, mas em Copacabana chega a 95%.

A Polícia Militar (PM) reforçou o esquema de segurança.

"A novidade para este show são os capacetes brancos, grupos de policiais especializados em patrulhamento de multidão", explicou a tenente-coronel Cláudia Moraes, porta-voz da PM. "Eles vão circular entre as pessoas, sobretudo nos pontos de maior concentração, para evitar furtos de oportunidade de passar uma sensação maior de segurança."

A prefeitura espera a presença de mais de 1,6 milhão de pessoas na praia de Copacabana, onde está montado o palco e as 16 torres com telões de nove metros de altura por cinco metros de largura, permitindo que todos acompanhem o show mesmo à distância. Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e a Riotur, o evento deve injetar mais de R$ 600 milhões na economia da cidade.

"A cidade está muito cheia mesmo, tem muito turista", assegurou o motorista de uber Gustavo Monteiro, de 33 anos. "É bom para todo mundo. Por mim, tinha um show desse por mês."

Faltando cerca de duas horas para o início do show de Lady Gaga na praia de Copacabana, os pontos de revista montados nas vias transversais de acesso à Avenida Atlântica apresentavam filas de até uma hora de duração.

As maiores eram vistas no acesso da rua Duvivier, o mais próximo ao palco. A fila tinha uma extensão de mais de dois quarteirões. Nos pontos de entrada um pouco mais distantes, como o da Hilário de Gouveia, ainda era possível entrar na orla com apenas 20 minutos de espera.

O enfermeiro Vítor Souza, de 32 anos, que veio de Campos, no interior do Estado, especialmente para o show, contou que ficou por mais de 40 minutos numa fila e acabou desistindo.

Ele conseguiu chegar na praia por meio de uma outra entrada, bem mais distante do palco. "Foi bem mais complicado do que achei que ia ser", contou. "Mas finalmente eu consegui passar."

As filas nos 18 pontos de acesso montados nas ruas transversais à avenida Atlântica começaram a ser formar por volta das 9h da manhã deste sábado, 3. Policiais militares munidos de detectores de metal revistavam as pessoas uma a uma antes de darem acesso à orla. Vidros, explosivos e armas encontrados eram confiscados. Os pontos de acesso também contavam com câmeras de reconhecimento facial.

O perfil oficial do Metrô do Rio de Janeiro fez uma postagem anunciando que o "tempo de viagem está maior" "devido ao grande fluxo do desembarque de clientes na estação Cardeal Arcoverde/Copacabana para o show da Lady Gaga". A empresa recomenda o desembarque pela Siqueira Campos/Copacabana.

O maior show da vida de Lady Gaga

O show desta noite na praia de Copacabana promete ser o maior da carreira de Lady Gaga. A expectativa da Prefeitura é de que pelo menos 1,6 milhão de pessoas estarão reunidas na orla. Até hoje, a apresentação de Gaga com o maior público tinha sido em abril passado, no Festival Coachella, nos EUA, onde reuniu por volta de 100 mil pessoas.

O palco da apresentação desta noite tem nada menos que 1.260 m2, bem maior do que o montado para Madonna no ano passado, que tinha 821 m2. A megaestrutura tem 2,20 m de altura desde a base na areia. Um telão de LED de última geração ficará no fundo do palco.

Gaga vai apresentar um show em cinco atos, com direito a diversas trocas de roupa e um cenário que lembra o de uma peça de teatro - a cantora chama de "ópera gótica". A previsão é de que o espetáculo tenha 2h30 de duração, ao longo das quais Gaga vai contar a história de seu próprio "caos pessoal" ao lutar com sua própria persona, derrotar fantasmas e conseguir renascer.

Pabllo Vittar faz abertura

Uma surpresa para os fãs de Lady Gaga que aguardam o início do show da diva pop. A artista Pablo Vittar, que se apresentou com Madonna no ano passado, está abrindo o show desta noite como DJ.

"É muito louco, parece que estou tendo um deja-vu", afirmou Pablo em uma entrevista concedida à rede de TV CNN antes de subir ao palco, adiantando que pretendia tocar "muito tribal house, muito tech, muito remix e algumas músicas minhas". "Ano passado, com Madonna comemorando 40 anos de carreira, e agora nesse show histórico com a Gaga. Estou muito feliz."