Apenas com educação midiática jovens vão conseguir identificar o que é fake news

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O Brasil foi o país com o pior desempenho em uma pesquisa da OCDE que mediu a capacidade das pessoas em verificar conteúdos e identificar notícias falsas. Divulgado em julho, o levantamento feito em 21 países simulou uma rede social e pediu aos participantes que classificassem as notícias encontradas nela. Já os resultados do último Pisa - avaliação que mede os conhecimentos dos estudantes de 15 anos - mostram que apenas 2% dos jovens brasileiros estão nos níveis mais altos de proficiência em leitura e, logo, aptos a diferenciar fato e opinião e encontrar informações implícitas no texto.

São dados que mostram um terreno muito fértil para disseminação de fake news e interromper esse curso exige investimento e comprometimento na implementação de uma educação midiática. "Conceitualmente, isso significa desenvolver habilidades para que crianças e adolescentes, a partir do chão da escola, possam aprender a acessar informação, analisar criticamente e a criar conteúdos de forma ética e responsável", disse Patricia Blanco, presidente do Instituto Palavra Aberta e uma das participantes do Meet Point que o Estadão promoveu nesta sexta-feira, 8, para discutir o assunto.

Apenas com a educação midiática, acrescenta, é que os jovens vão aprender a fazer o uso ético das ferramentas e desenvolverão olhar aguçado aos conteúdos que chegam todos os dias nas telas. "O estudo [DA OCDE]mostrou que polarização política, os vieses relacionados a crenças e ideologias, e a falta de entendimento dos diferentes gêneros textuais geram a desinformação. E isso é um caldo propício para que a gente acabe acreditando em notícias fraudulentas, em conteúdos manipulados."

Aluno da 3.ª série do ensino médio da escola municipal Rubens Paiva, no Jardim Ângela, um bairro periférico de São Paulo, Juliano Luz Soares dos Santos corrobora e mostra na prática como isso é importante. Ele participa do projeto Imprensa Jovem, que consiste na formação para que os estudantes aprendam a distinguir gêneros textuais e a produzir conteúdo jornalístico, a partir de entrevistas e apuração adequada de acontecimentos.

"Foi uma evolução pessoal, por perceber que muita coisa eu não sabia", diz. Um grande aprendizado, conta, foi conseguir discernir entre os diferentes tipos de conteúdos, a partir da própria construção de um texto. "No início do ano, muitos não conseguiam ter esse discernimento. Era comum que num texto (que deveria ser noticioso) tivesse muita opinião e aparecesse expressões como 'eu acho'. Daí a gente foi aprendendo."

Estudante protagonista

Ao propor que os alunos aprendam enquanto produzem, o projeto da escola em que Juliano estuda considera o protagonismo do estudante, o que é fundamental no engajamento e resultados da educação midiática. "Na educação midiática, a gente precisa muito da ação dos professores, mas a gente entende também que, quando há o protagonismo do estudante, o diálogo entre eles acaba fluindo de uma maneira diferente, eles aprendem com eles mesmos, e isso tem uma efetividade muito grande", afirma Caio de Godoy Camargo, supervisor de Tecnologias de Apoio à Aprendizagem Sesi.

Nas escolas da rede, foi criado o Projeto Sesi Influencers, que consiste em prover ferramental para que os alunos possam analisar os cenários, perceber como se dá a desinformação, analisar os diferentes vieses e refletir as dinâmicas em que se dá essa construção de discurso. Conscientes desse processo, os estudantes aprendem a criar conteúdo com responsabilidade e ética e acabam por replicar o aprendizado no ambiente familiar, questionando os pais sobre os conteúdos que recebem por WhatsApp - rede em que as fake news se propagam rápido e facilmente.

"Ele impacta não só a comunidade escolar, mas também toda a comunidade. A família, por exemplo, recebe informações por WhatsApp e os nossos estudantes já estão criando a cultura da checagem, de entender o que está por trás da informação", diz.

Nativos digitais, só que não

A opinião dos especialistas é que há um equívoco comum de intuir que os jovens da geração Z já nascem sabendo, e, por isso, são chamados de nativos digitais. Mas, alertam, há uma diferença entre usar a tecnologia e estar preparado para isso. "Eles estão interessados, mas focados em alguns elementos. Quando a gente olha para o todo, ficam lacunas que é preciso trabalhar dentro da educação. Se a gente não formá-los, estarão suscetíveis a um bombardeio de desinformação dentro das próprias bolhas em que estão", diz Camargo. "É preciso desenvolver o poder de questionar para propiciar uma educação emancipadora."

E quem vai ensinar a geração que já nasceu sabendo? Sim, os professores - que, por uma questão cronológica, não nasceram sabendo e seguem não aprendendo isso nos currículos das licenciaturas ou graduação em pedagogia.

"Isso não é parte da formação inicial e, além disso, a formação do professor acontece em um espaço de tempo e a sociedade evoluiu", acrescenta Camargo. "É preciso que as instituições entendam que esse é um assunto importante e precisa ser priorizado."

Até porque educação midiática não é assunto periférico nem recente; já está previsto nos marcos normativos. A presidente do Instituto Palavra Aberta explica que cinco das dez competências básicas da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) abrangem a educação digital e para a cidadania. "O que a gente precisa é instrumentar, formar o professor para que ele utilize os marcos que já estão previstos para integrar a camada da educação midiática. E isso não é mudar a forma como você dá aula, mas introduzir a camada da análise crítica, tanto na hora de verificar o conteúdo como na hora de produzir".

Ao aprender a produzir conteúdo com esse olhar crítico, o jovem consegue refletir, por exemplo, sobre o impacto de criar um meme a partir da foto de um amigo, sobre cyberbullying. "Aprende sobre responsabilidade, a pensar 'qual é o meu papel nesse ambiente onde posso criar, compartilhar e disseminar informações o tempo todo?'", explica Patricia Blanco.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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A Netflix norte-americana anunciou que Ainda Estou Aqui, filme de Walter Salles que trouxe o primeiro Oscar da história do Brasil, vai estar disponível para streaming na plataforma nos Estados Unidos a partir de 17 de maio.

Estrelado por Fernanda Torres e Selton Mello, Ainda Estou Aqui conta a história de Eunice Paiva, que precisou reconstruir a sua vida e sustentar os filhos após seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, ser sequestrado e morto pela ditadura militar brasileira. O filme é inspirado no livro homônimo do escritor Marcelo Rubens Paiva.

A produção fez história ao receber três indicações ao Oscar 2025, em melhor filme internacional, melhor atriz e melhor filme, e conquistou a estatueta na categoria internacional.

No X, antigo Twitter, fãs comemoraram o anúncio do filme no catálogo americano da Netflix. "Simplesmente Oscar Winner", escreveu um. "Melhor filme do mundo", completou outra pessoa.

Ainda Estou Aqui está disponível para streaming no Brasil pelo Globoplay.

A morte da atriz mirim Millena Brandão aos 11 anos nesta sexta-feira, 2, comoveu colegas e fãs. A menina, que estava internada desde o último dia 29, teve morte encefálica e sofreu diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias. Nas redes sociais, astros, amigos e admiradores prestam homenagem.

Várias mensagens foram deixadas nas fotos do perfil de Millena no Instagram e em outras publicações.

O ator Matheus Santos, conhecido como MC M10, escreveu: "Meus sentimentos à família. Muito triste. Pude conhecê-la no set de Sintonia, uma menina maravilhosa e encantadora."

Já Silvia Abravanel declarou: "Meus sentimentos à família. Que Deus a receba com muito amor, luz e paz num abraço eterno", enquanto a cantora Simony demonstrou tristeza: "Poxa", escreveu, ao lado de um emoji triste.

Millena precisou ser internada inicialmente devido a uma forte dor de cabeça, e foi transferida da Unidade de Pronto Atendimento Maria Antonieta (UPA).

"Desde a sua chegada, a paciente recebeu cuidados intensivos e todo o empenho da equipe médica e assistencial, que não mediu esforços para preservar sua vida", afirma a nota assinada por Thiago Rizzo, gerente médico.

Segundo o SBT, ela chegou a ser diagnosticada com dengue em uma unidade, mas, após uma piora no quadro, ela foi transferida para o Hospital Geral do Grajaú, onde médicos realizaram outros exames e identificaram a presença de um tumor no cérebro de cinco centímetros. Ela estava entubada, sedada e sem respostas neurológicas.

As atrizes Sophia Valverde e Giulia Garcia, de As Aventuras de Poliana e Chiquititas, também se manifestaram. "Muito triste. Que Deus esteja consolando a família nesse momento tão difícil", escreveu Sophia. "Que Deus conforte o coração dessa família", desejou Giulia.

Millena atuou em A Infância de Romeu e Julieta, no SBT, e em Sintonia, da Netflix. Além de atriz, também era modelo e influenciadora digital, e havia feito diversos trabalhos publicitários com marcas infantis.

Morreu nesta sexta-feira, 2, em São Paulo, a atriz mirim Millena Brandão, do canal SBT, aos 11 anos. A artista teve morte encefálica, de acordo com o hospital onde ela estava internada.

Também conhecida como morte cerebral, a morte encefálica é a perda completa e irreversível das funções cerebrais. Como o cérebro controla outros órgãos, quando é constatada sua morte, outras funções vitais também serão perdidas e o óbito da pessoa é declarado.

Millena havia sofrido diversas paradas cardiorrespiratórias nos últimos dias, recebido diagnóstico de tumor cerebral e estava internada no Hospital Geral de Grajaú, na capital, desde o dia 29.

O que configura morte encefálica?

Para funcionarem, os neurônios precisam de oxigênio e glicose, que chegam ao cérebro pela circulação sanguínea. Quando algum problema impede o fluxo sanguíneo, essas células podem morrer e as funções cerebrais são prejudicadas. Se a perda das funções é completa e irreversível, é declarada a morte cerebral.

Apesar de alguns órgãos poderem continuar funcionando, o cérebro já não consegue controlá-los. Assim, embora ainda haja batimentos cardíacos, por exemplo, eles tendem a parar. A respiração também não acontecerá sem a ajuda de aparelhos.

O que pode causar a morte encefálica?

Qualquer problema que cesse a função cerebral antes de encerrar o funcionamento de outras partes do organismo causa a morte encefálica. Entre as causas mais comuns estão:

- Parada cardiorrespiratória;

- Acidente vascular cerebral (AVC);

- Doença infecciosa que afete o sistema nervoso central;

- Tumor cerebral;

- Traumas.

Quando a morte encefálica é declarada?

No Brasil, a resolução nº 2.173/17 do Conselho Federal de Medicina (CFM) estabelece critérios rigorosos para a declaração de morte encefálica. De acordo com especialistas, o protocolo brasileiro é um dos mais criteriosos do mundo.

O CFM determina a realização de uma série de exames para comprovar a perda do reflexo tronco encefálico, aquele responsável por controlar funções autônomas do organismo, como a respiração.

Essa análise deve ser feita por dois médicos que examinam o paciente em horários diferentes, e os resultados precisam ainda ser complementados por um exame - um eletroencefalograma ou uma tomografia, por exemplo.

Morte encefálica e doação de órgãos

A "Lei dos Transplantes" (Lei nº 9.434/1997) estabelece que a doação de órgãos após a morte só pode ser realizada quando constatada a morte encefálica.

Quando isso acontece, as funções vitais do paciente são mantidas de maneira artificial até que a remoção dos órgãos seja feita.