Empresas alegam caos financeiro e pedem desbloqueio de dinheiro de fintech usada pelo PCC

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Ao menos 2.600 empresas que contrataram os serviços da InovePay estão com recursos bloqueados desde que a fintech foi alvo da Operação Concierge, da Polícia Federal, deflagrada em agosto de 2024. Enquanto aguardam a liberação de seus recursos, várias companhias vivem um impasse financeiro, segundo seus advogados. Elas alegam caos financeiro e fortes dificuldades de caixa, algumas informam estar à beira da insolvência.

Ao autorizar a Operação Concierge, a Justiça Federal em Campinas, no interior de São Paulo, mandou congelar os ativos da InovePay - R$ 850 milhões - e transferir o dinheiro para uma conta judicial, em meio às investigações por suspeita de lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). A InovePay nega ligação com o esquema revelado pela PF.

A Operação Concierge investiga lavagem de dinheiro supostamente por meio da InovePay. Segundo a PF, uma quadrilha oferecia abertamente, inclusive em sites, contas clandestinas "invisíveis ao sistema financeiro e blindadas contra ordens de bloqueio, penhora e rastreamento, sem conexão entre remetentes e destinatários e sem ligação entre correntistas e bancos de hospedagem". O esquema teria movimentado R$ 7,5 bilhões.

A InovePay oferece serviços de pagamento automático, via as "maquininhas" de crédito e débito. Quando o bloqueio foi decretado, atingiu também o dinheiro que ainda seria transferido pela InovePay aos clientes - comércios regularmente estabelecidos, como restaurantes, bares e postos de gasolina - que efetivamente usavam as máquinas de cartão no seu dia a dia de transações.

A lista inclui 2,6 mil estabelecimentos. Ao se verem sem o dinheiro em suas contas, as empresas acionaram a Justiça. Pediram para participar do processo como "terceiros de boa-fé". São dezenas de representações, acompanhadas de milhares de documentos que comprovam as operações financeiras.

A reportagem do Estadão teve acesso a petições de parte das empresas, nas quais elas reivindicam à Justiça a liberação de seus recursos. O argumento central dos advogados que as representam é que o dinheiro tem origem lícita e comprovada.

O volume de pedidos levou a Justiça Federal a suspender a tramitação de todos os recursos com a justificativa de que "demandariam grande lapso temporal para análise individual". A juíza Valdirene Falcão, da 9.ª Vara Federal Criminal de Campinas, que autorizou a Operação Concierge, também proibiu novos peticionamentos na ação, "sob pena de atraso demasiado em seu processamento".

Os estabelecimentos têm alegado que o dinheiro é imprescindível para a manutenção de suas atividades e para o cumprimento de compromissos financeiros. Há empresas que alegam estar à beira da insolvência. Algumas pessoas jurídicas conseguiram decisões liminares. Os valores foram reservados, mas não serão liberados enquanto não houver um desfecho do processo.

Além do grande número de empresas afetadas, outro fator contribui para atrasar a resolução do caso. Há um impasse em torno da esfera judicial competente para analisar os recursos - cível ou criminal.

Em paralelo, a InovePay alega estar "totalmente impossibilitada" de apresentar a relação exata de valores a serem repassados aos estabelecimentos, já que os documentos e computadores da fintech foram apreendidos pela Polícia Federal.

A Justiça intimou as instituições financeiras - Adiq Pagamentos e Banco BS2 (antigo Banco Bonsucesso) - que intermediavam os repasses da InovePay a seus clientes, mas elas alegam que apenas a fintech sabe os valores líquidos devidos a cada estabelecimento, conforme operações, custos e taxas contratadas por cada um deles, o que é contestado pelas empresas.

A InovePay nega envolvimento com o esquema. A fintech afirma que é uma empresa de tecnologia ligada a meios de pagamento e não uma instituição financeira e nem banco digital. Quando a operação foi deflagrada, a InovePay informou estar à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

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Mais de 10 pessoas morreram nesta terça-feira, 29, após confrontos em um subúrbio da capital da Síria entre combatentes drusos e grupos pró-governo, disseram um monitor de guerra e um grupo ativista. Os dados de vítimas, no entanto, ainda são imprecisos.

Homens armados drusos sírios entraram em confronto nas últimas semanas com forças de segurança do governo e homens armados pró-governo no subúrbio de Jaramana, no sul de Damasco.

O Observatório Sírio para os Direitos Humanos, sediado no Reino Unido, afirmou que pelo menos 10 pessoas foram mortas, quatro delas agressores e seis moradores de Jaramana. O coletivo de mídia ativista Suwayda24 afirmou que 11 pessoas foram mortas e 12 ficaram feridas. Outros relatos indicam até 14 mortos.

Os confrontos começaram por volta da meia-noite de segunda-feira, 28, depois que uma mensagem de áudio circulou nas redes sociais em que um homem estaria criticando o profeta Maomé.

O áudio foi atribuído ao clérigo druso Marwan Kiwan. Mas ele afirmou em um vídeo postado nas redes sociais que não era responsável pelo áudio, o que irritou muitos muçulmanos sunitas.

"Nego categoricamente que o áudio tenha sido feito por mim", disse Kiwan. "Eu não disse isso, e quem o fez é um homem perverso que quer incitar conflitos entre partes do povo sírio."

Na terça-feira à noite do horário local, representantes do governo e autoridades de Jaramana chegaram a um acordo para encerrar os conflitos, indenizar as famílias das vítimas e trabalhar para levar os perpetradores à justiça, de acordo com uma cópia do acordo que circulou em Jaramana e foi vista pela Associated Press.

Não ficou imediatamente claro se a trégua será mantida por muito tempo, já que acordos semelhantes no passado fracassaram posteriormente.

O Ministério do Interior afirmou em comunicado que estava investigando o áudio, acrescentando que a investigação inicial demonstrou que o clérigo não era responsável. O ministério pediu à população que cumpra a lei e não aja de forma a comprometer a segurança.

A liderança religiosa drusa em Jaramana condenou o áudio, mas criticou duramente o "ataque armado injustificado" no subúrbio. Instou o Estado a esclarecer publicamente o ocorrido.

"Por que isso continua acontecendo de tempos em tempos? É como se não houvesse um Estado ou governo no comando. Eles precisam estabelecer postos de controle de segurança, especialmente em áreas onde há tensões", disse Abu Tarek Zaaour, morador de Jaramana.

No final de fevereiro, um membro das forças de segurança entrou no subúrbio e começou a atirar para o alto, o que levou a uma troca de tiros com homens armados locais, resultando na sua morte. Um dia depois, homens armados vieram do subúrbio de Mleiha, em Damasco, para Jaramana, onde entraram em confronto com homens armados drusos, resultando na morte de um combatente druso e no ferimento de outras nove pessoas.

Em 1º de março, o Ministério da Defesa de Israel disse que os militares foram instruídos a se preparar para defender Jaramana, afirmando que a minoria que prometeu proteger estava "sob ataque" pelas forças sírias.

Os drusos são um grupo minoritário que surgiu como um desdobramento do ismaelismo, um ramo do islamismo xiita, no século X. Mais da metade dos cerca de 1 milhão de drusos em todo o mundo vive na Síria. A maioria dos outros drusos vive no Líbano e em Israel, incluindo as Colinas de Golã, que Israel conquistou da Síria na Guerra do Oriente Médio de 1967 e anexou em 1981.

Desde janeiro de 2025, o poder na Síria está nas mãos de um governo de transição liderado pelo presidente interino Ahmed al-Sharaa, líder da coalizão islamista que em janeiro derrubou o regime do presidente Bashar al-Assad, agora no exílio. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou nesta terça-feira, 29, que seu governo está se preparando para conversas com os Estados Unidos sobre novas sanções à Rússia, afirmando que é importante continuar a exercer pressão sobre as redes de influência de Moscou, bem como sobre todas as suas operações de fabricação e comércio.

"Estamos identificando exatamente os pontos de pressão que empurrarão Moscou de forma mais eficaz para a diplomacia. Eles precisam tomar medidas claras para acabar com a guerra, e insistimos que um cessar-fogo incondicional e total deve ser o primeiro passo. A Rússia precisa dar esse passo", escreveu o canal oficial de Zelensky no Telegram.

Além disso, o líder ucraniano enfatizou que o país está se esforçando para sincronizar suas sanções da forma mais completa possível com todas as da Europa.

Divergências apresentadas pelo Egito e pela Etiópia à reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas impediram a divulgação de um comunicado conjunto após a reunião de ministros das Relações Exteriores do Brics. Em vez disso, foi divulgada nesta terça-feira, 29, uma declaração da presidência do grupo de ministros, ocupada atualmente pelo Brasil. Houve consenso nos demais temas debatidos.

O texto diz que os ministros presentes à reunião, que ocorreu nesta segunda e terça-feira no Palácio do Itamaraty, na região central do Rio de Janeiro, "apoiaram uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança, com vistas a torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e a aumentar a representação de países em desenvolvimento nos quadros de membros do Conselho".

As mudanças teriam como objetivo uma resposta adequada "aos desafios globais prevalecentes" e apoiar "as aspirações legítimas dos países emergentes e em desenvolvimento da África, Ásia e América Latina, incluindo Brasil e Índia, de desempenhar um papel mais relevante nos assuntos internacionais, em particular nas Nações Unidas, incluindo seu Conselho de Segurança".

"Reconheceram também as aspirações legítimas dos países africanos, refletidas no Consenso de Ezulwini e na Declaração de Sirte", acrescenta o texto, que trouxe uma observação mencionando ter havido objeções dos representantes do Egito e Etiópia ao comunicado.

Ambos os países se opõem à eleição da África do Sul como país representante do continente africano. Em coletiva de imprensa, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, negou que tenha havido desacordo ou discordância.

"Não houve nenhum desacordo entre os países com relação às questões do Conselho de Segurança. O que acontece é que cada país tem posições e compromissos assumidos", argumentou Vieira a jornalistas, quando questionado sobre o impacto das divergências regionais no documento final. "Não houve nenhuma discordância, apenas cada país e países membros de grupos regionais, alguns africanos no grupo, apenas declararam suas posições e nós estamos trabalhando para compatibilizar todas as necessidades de cada um desses grupos para a declaração dos chefes de Estado."