0

Diário de Notícias

DN.

Taxas cedem em correção após estresse eleitoral, mas curva inclina na semana

Continue lendo o artigo abaixo...

Em um dia de liquidez reduzida e ausência de dados econômicos e novidades no noticiário político, os juros futuros negociados na B3 tiveram acomodação no último pregão de uma semana agitada.

Segundo agentes, a perda de inclinação da curva nesta sexta-feira, 19, reflete principalmente um movimento natural de correção, após o estresse causado pela volatilidade do cenário político ter provocado abertura de mais de 20 pontos-base nas taxas longas no saldo semanal. Alguns participantes do mercado mencionam, ainda, rumores nas mesas de renda fixa sobre eventual melhora do senador e pré-candidato à presidência Flávio Bolsonaro em relação a Lula em trackings e pesquisas, mas essa percepção não é um consenso.

Com os investidores corrigindo possíveis excessos dos últimos dias e cada vez mais atentos à disputa presidencial, as taxas futuras encontraram espaço para ceder. Encerrados os negócios, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 diminuiu de 13,829% no ajuste anterior para 13,775%. O DI para janeiro de 2029 recuou de 13,335% no ajuste de quinta para 13,245%. O DI para janeiro de 2031 marcou 13,54%, vindo de 13,625% no ajuste.

O fechamento das taxas nesta sexta, porém, não chegou perto de devolver totalmente o estrago causado pela volatilidade política. Na semana, Flávio reiterou sua disposição em participar do pleito de 2026, enquanto a possível candidatura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) - nome preferido do mercado e tido como o mais propenso a realizar um ajuste fiscal -, parece ter ficado mais distante.

Do lado dos dados, a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e o Relatório de Política Monetária (RPM) não trouxeram mudanças em relação ao tom conservador do Banco Central, mas declarações do presidente do BC, Gabriel Galípolo, no sentido de que as portas não estão fechadas para um corte em janeiro deram algum ânimo aos investidores. No cômputo total de uma semana carregada, o DI para janeiro de 2027 abriu 14 pontos-base, a taxa para janeiro de 2029 subiu 23 pontos-base, e a de janeiro de 2031 avançou 22,5 pontos-base.

"Foi uma sessão de ajustes técnicos após um movimento forte na semana", avalia João Freitas, estrategista de investimentos do Santander. "Apesar do choque no balanço semanal, nesta sexta a agenda estava mais esvaziada. A ausência de dados e de notícias acaba levando a uma correção", afirma, observando que a alta acumulada de segunda até esta sexta teve como maior condutor o ambiente político mais incerto.

Diretor de gestão e economista da Alphawave Capital, Tiago Hansen observa que o quadro externo melhorou na segunda etapa do pregão, o que também conferiu alguma devolução dos prêmios de risco embutidos nos DIs. Mas acrescenta um possível gatilho eleitoral para a perda de ímpeto das taxas.

Publicada nesta sexta, pesquisa eleitoral do Instituto Opinião realizada em todo o País com 2 mil entrevistados mostra que, em eventual segundo turno, o presidente Lula tem 42% das intenções de voto, contra 37,6% de Flávio - uma diferença de apenas 4,4 pontos porcentuais. A margem de erro do levantamento é de 2,5 pontos. "Tem essa questão eleitoral sim, mas teve também um alívio global hoje [sexta]", ressalta Hansen.

Por aqui, a semana foi marcada por ausência de sinalizações, tanto na ata do Copom quanto no RPM, sobre quando será o início do ciclo de flexibilização da Selic, o que mantém o mercado dividido entre janeiro e março. Freitas, do Santander, destaca que a precificação da curva indica 53% de chances de manutenção na primeira reunião de 2026 do colegiado, e 47% de probabilidade de corte de 0,25 ponto porcentual.

"O mercado tinha ficado otimista sobre o começo dos cortes em janeiro, assim como sobre um ritmo mais forte de cortes. Isso diminuiu um pouco, mas as falas de Galípolo colocaram um contrapeso e mostraram que o Copom vai observar dados e a economia em geral para decidir", disse o estrategista.

Em coletiva sobre o RPM, o comandante do BC adotou, na visão do mercado, um tom mais 'dovish' do que o do documento, ao deixar claro que o comitê ainda não tomou uma decisão, e que "não há seta nem porta fechada" sobre os próximos passos da autoridade monetária.

0 Comentários

Seja o primeiro a comentar!

Deixe seu Comentário

Você deve estar logado para comentar.