Tropas de Israel matam mais de 30 palestinos que buscavam comida, dizem autoridades de Gaza

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Tropas israelenses abriram fogo neste sábado, 19, contra grupos de palestinos que buscavam alimentos em centros de distribuição administrados por um grupo financiado pelos EUA e por Israel no sul de Gaza, matando ao menos 32 pessoas, de acordo com testemunhas e funcionários de hospitais.

Os dois incidentes ocorreram nas proximidades de centros operados pela Gaza Humanitarian Foundation (GHF). A organização começou a atuar no final de maio com apoio dos governos americano e israelense. Ambos alegam que militantes do grupo terrorista Hamas desviam os suprimentos enviados por agências da ONU, o que é negado pelas Nações Unidas.

Embora a GHF afirme já ter distribuído milhões de refeições aos palestinos, autoridades de saúde locais e testemunhas relatam que centenas de pessoas foram mortas por disparos do exército israelense ao tentar acessar os centros de ajuda.

O exército, que não mantém tropas nos centros, mas faz sua proteção à distância, alega que realiza apenas "disparos de advertência" quando as multidões se aproximam demais.

A GHF, que emprega seguranças armados particulares, afirma que não houve tiroteios com vítimas fatais nas regiões em que atua - a despeito de o fato de que, nesta semana, 20 pessoas tenham sido mortas em um desses locais, a maioria durante uma fuga em massa. O grupo responsabilizou militantes do grupo terrorista Hamas por provocar pânico, mas não apresentou provas que sustentem a acusação.

O exército e a GHF não comentaram o episódio deste sábado.

'Fogo indiscriminado'

A maior parte das mortes ocorreu em Teina, cerca de três quilômetros de um centro de distribuição da GHF a leste de Khan Younis.

Uma testemunha, Mahmoud Mokeimar, relatou que caminhava com uma multidão - formada em sua maioria por homens jovens - rumo ao centro de distribuição. Segundo ele, as tropas dispararam tiros de advertência conforme a multidão avançava, antes de abrirem fogo diretamente contra os civis.

"Foi um massacre… a ocupação abriu fogo contra nós sem qualquer distinção", disse. Ele conseguiu fugir, mas afirmou ter visto pelo menos três corpos no chão e diversas pessoas feridas tentando escapar.

Outra testemunha, Akram Aker, disse que os disparos foram feitos por metralhadoras montadas em tanques e drones. O tiroteio, segundo ele, aconteceu entre 5h e 6h da manhã. "Eles nos cercaram e começaram a atirar diretamente em nós", afirmou.

O Hospital Nasser, em Khan Younis, recebeu 25 corpos e dezenas de feridos.

Outras sete pessoas - incluindo uma mulher - morreram na área de Shakoush, a poucos metros de outro centro da GHF na cidade de Rafah, no extremo sul de Gaza. Os dados foram confirmados pelo hospital e pelo Ministério da Saúde local.

O Dr. Mohamed Saker, chefe da enfermagem do Hospital Nasser, disse que a unidade recebeu 70 feridos, muitos deles baleados na cabeça e no peito. Várias vítimas foram levadas à UTI, já sobrecarregada. "A situação é difícil e trágica", afirmou, acrescentando que o hospital não dispõe de insumos médicos suficientes para lidar com o número crescente de feridos diários.

Crise humanitária

Mais de 2 milhões de palestinos em Gaza enfrentam uma grave crise humanitária, segundo especialistas em segurança alimentar.

A distribuição feita pela GHF é frequentemente caótica. As caixas com alimentos são empilhadas no chão dentro dos centros e, assim que abertas, multidões avançam para pegar o que conseguem, conforme relataram testemunhas e mostram vídeos divulgados pela própria GHF.

Em vídeos obtidos pela AP com um empreiteiro americano que trabalha com a GHF, contratados são vistos usando gás lacrimogêneo e granadas de atordoamento para conter as multidões atrás de cercas metálicas ou dispersá-las. Disparos também podem ser ouvidos nas imagens.

O Hamas deu início à atual guerra, que já dura 21 meses, com a invasão ao sul de Israel em 7 de outubro de 2023, deixando cerca de 1.200 mortos e sequestrando outras 250 pessoas.

Desde então, uma ofensiva militar israelense já matou mais de 58 mil palestinos, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, deslocou praticamente toda a população do território e causou destruição em larga escala.

O ministério não especifica quantos combatentes estão entre os mortos, mas afirma que mais da metade das vítimas eram mulheres e crianças. Apesar de ser ligado ao Hamas, o órgão é considerado pela ONU e por outras organizações internacionais como a fonte mais confiável para estatísticas sobre vítimas na guerra.

Israel e Hamas vêm mantendo negociações de cessar-fogo no Catar nas últimas semanas, mas mediadores internacionais afirmam que não houve avanços.

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A ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, associou a tarifa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, aos produtos importados do Brasil a um contexto global de defesa da democracia e combate à extrema-direita. Gleisi também disse que é nesse contexto que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja ao Chile neste domingo, 20, para discutir ameaças à democracia com outros presidentes de esquerda.

"Hoje e amanhã o presidente Lula tem uma importante reunião em Santiago do Chile, com os presidentes do Chile, Espanha, Colômbia e Uruguai, para discutir as ameaças à democracia que o mundo está enfrentando. Nós conhecemos de perto os ataques feitos aqui no Brasil, por Jair Bolsonaro e seu entorno, e agora as chantagens e sanções agressivas do governo dos EUA contra nossa democracia, a partir de uma conspiração dos bolsonaristas com os agentes do presidente norte-americano", disse a ministra em publicação no X neste domingo.

Segundo a petista, "a democracia está sendo atacada pela extrema-direita em muitos países". Gleisi afirmou que o governo defende "mais democracia, inclusive nas relações entre os países, para fortalecer o multilateralismo e o diálogo pela paz".

"Enfrentar as desigualdades, regulamentar as plataformas para que não sejam mais veículo de mentiras, ódio e crimes contra crianças e famílias. Estes são os pontos principais do debate no Chile", declarou.

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Lula embarca rumo a Santiago na tarde deste domingo. A previsão de chegada à capital chilena é às 20h20 (horário de Brasília). Às 21h (horário de Brasília), Lula participa de um jantar oferecido por Boric a ele e ao presidente do Uruguai, Yamandu Orsi.

A filha do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), não mora nos Estados Unidos e, portanto, não será deportada, ao contrário do que afirmam publicações que circulam nas redes sociais.

Segundo informações disponíveis em seu LinkedIn, Luna van Brussel Barroso cursou pós-graduação na Universidade de Yale, em New Haven, no estado americano de Connecticut, entre 2022 e 2023. Atualmente, é doutoranda em Direito Constitucional na Universidade de São Paulo (USP) e advogada no escritório Barroso Fontelles, Barcellos, Mendonça Advogados, criado por antigos sócios do ministro do STF. De acordo com o site do escritório, ela atua na unidade do Rio de Janeiro.

O secretário de Estado do governo de Donald Trump, Marco Rubio, anunciou na sexta-feira, 18, a revogação imediata do visto do ministro Alexandre de Moraes, de seus aliados na Corte e familiares diretos. Publicações que circulam nas redes sociais afirmam, de forma equivocada, que Luna Barroso terá de deixar os Estados Unidos imediatamente.

Rubio não especificou quem seriam os aliados próximos de Moraes, mas o Estadão apurou que, além do próprio ministro, a lista inclui outros sete integrantes do STF: Luís Roberto Barroso, Flávio Dino, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Edson Fachin - além do procurador-geral da República, Paulo Gonet. As exceções são André Mendonça, Luiz Fux e Nunes Marques.

"(O presidente Trump) deixou claro que seu governo responsabilizará cidadãos estrangeiros que forem responsáveis por censurar a liberdade de expressão protegida nos Estados Unidos. A caça às bruxas política conduzida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil Alexandre de Moraes contra Jair Bolsonaro criou um complexo de perseguição e censura tão abrangente que não apenas viola direitos fundamentais dos brasileiros, mas também ultrapassa as fronteiras do Brasil para atingir cidadãos americanos. Por isso, ordenei a revogação imediata dos vistos de Moraes, de seus aliados na Corte e de seus familiares diretos", escreveu Rubio no X.

O deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) agradeceu a Trump e Rubio pela medida e disse que o governo americano adotará outras medidas contra Moraes e autoridades brasileiras.

"Muito obrigado presidente Donald Trump e secretário Marco Rubio. Eu não posso ver meu pai e agora tem autoridade brasileira que não poderá ver seus familiares nos EUA também - ou quem sabe até perderão seus vistos", escreveu Eduardo na rede social X, citando uma publicação em que o secretário americano anuncia a revogação do visto de Moraes, "seus aliados no tribunal, bem como de seus familiares próximos".

O governo Lula reagiu à revogação dos vistos, dizendo que a interferência de um país no sistema de Justiça de outro é "inaceitável e fere os princípios básicos do respeito e da soberania entre as nações".

Bolsonaristas vão às ruas de Brasília neste domingo, 20, para uma caminhada em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Na última sexta-feira, 18, ele passou a usar tornozeleira eletrônica e foi submetido a outras medidas restritivas.

O ato, chamado "Caminhada pela Liberdade", foi convocado por parlamentares como a deputada federal Bia Kicis (PL-DF) e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF). Segundo comunicado divulgado nas redes sociais das duas, a concentração será às 9h no Eixão Sul, em frente ao Banco Central, e os manifestantes foram orientados a vestir verde e amarelo.

Em vídeo divulgado nas redes sociais, Bia Kicis ressaltou a urgência da mobilização: "A gravidade da situação é tão grande que nós não temos tempo a perder", diz ela. "É muito importante participar. Não podemos nos omitir, não podemos nos desesperar. Temos que ter fé, esperança e garra."

Além de Brasília, manifestações pró-Bolsonaro foram convocadas em outras cidades. O senador Magno Malta (PL-ES) divulgou em suas redes sociais uma carreata em Vila Velha (ES) contra o que chamou de "injustiça brutal" contra o ex-presidente.

O início está previsto para o meio-dia. Em publicações convocando apoiadores e lideranças partidárias do Estado, o senador afirma que o ex-presidente foi transformado em "preso político" por um sistema que "ignora a Constituição e persegue quem luta pela liberdade" e reforça que os bolsonaristas não podem abandonar as ruas.

Em Belo Horizonte, apoiadores compartilharam nas redes sociais um chamado para manifestação na Praça da Liberdade.

PL quer manifestações como resposta a medidas cautelares

Na sexta-feira, o Partido Liberal começou a planejar manifestações em resposta às medidas cautelares impostas a Bolsonaro. Em nota divulgada no Instagram, a legenda diz que "o povo deve voltar às ruas de forma pacífica e ordeira".

O líder do PL na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcanti (RJ), também se manifestou e publicou em seu perfil no X (antigo Twitter) a frase "Brasil nas ruas já!".

O blogueiro bolsonarista Paulo Figueiredo, que está nos Estados Unidos e mantém interlocução com o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), fez publicação semelhante, dizendo que "está chegando a hora de ir pras ruas - pacífica e ordeiramente - de uma forma nunca antes vista".

Em seu último ato, realizado em 29 de junho, o ex-presidente reuniu 12,4 mil pessoas. O número é o menor registrado em São Paulo em manifestações bolsonaristas, desde que Bolsonaro deixou a Presidência em 2022.